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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Brasil 2 x Itália 3: uma das minhas partidas inesquecíveis!

Já há muito tempo eu queria rever o jogo Brasil e Itália, pela Copa do Mundo da Espanha, de 1982. O Brasil tinha um timaço, era o grande favorito para ser campeão, e não vencia um Mundial há 12 anos. A partida ocorreu no dia 5 de julho, no estádio Sarrià, em Barcelona, válida pelo grupo C da segunda fase do Mundial. E nós tínhamos a nosso favor a vantagem de nos classificarmos à próxima fase com um empate por qualquer placar, já que a seleção brasileira tinha um gol a mais do que os italianos. Mas o Brasil perdeu por 3 x 2.
Ao que consta, o time não tirou a tradicional foto antes do início da partida com a Itália.
Nesta, vê-se o time que inicou jogando no dia 5 de julho de 1982.
Eu tinha apenas 14 anos e fiquei muito triste, claro. Somente por estes dias, mais de 30 anos depois, eu voltei a assistir a essa partida. E passo para o meu blog o que eu achei de mais interessante. Desta vez, assistir a esse jogo não teve a mesma emoção e tristeza daquele dia, ao vivo, mas nem por isso deixou de ser interessante rever uma das partidas mais marcantes da minha vida.

A seleção brasileira era formada por Waldir Peres; Leandro, Oscar, Luisinho, Júnior; Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico; Serginho e Éder. O treinador era Telê Santana, que também viria treinar o Brasil na Copa seguinte, no México. Assisti a partida através do youtube (a imagem não é lá essas coisas, mas dá para assistir bem), a transmissão foi da Globo. A narração foi de Luciano do Valle e os comentários de Márcio Guedes, ambos não estão mais na emissora já há muito tempo. O Brasil jogou com o seu uniforme mais tradicional, camisa amarela, calção azul e meias brancas. A Itália jogou de camisa e meias azuis e calção branco.

 O time titular do Brasil na Copa do Mundo da Espanha.

Algumas curiosidades da época:

. Os goleiros podiam agarrar com as mãos a bola quando atrasada por um companheiro;

. Nas cobranças de faltas, o árbitro israelense Abraham Klein não contava os nove passos para marcar a posição das barreiras das duas seleções, que se  adiantavam muito, com a conivência do árbitro (o spray utilizado hoje em dia no Brasil seria muito útil naquele dia);

. Nesta partida, pelo menos, os dois treinadores limitavam-se a ficar sentados no banco, junto aos reservas, e não ficavam em pé, como atualmente é permitido;

. A transmissão da Copa do Mundo era feita pela TV espanhola, mas a Globo colocou nos jogos do Brasil câmeras exclusivas mostrando ao vivo imagens das torcidas e de alguns lances específicos;

. Nos gols brasileiros, a Globo mostrava a assinatura do jogador, eram gols “assinados”, algo bem legal, mas que já não vejo mais fazerem há bastante tempo;

. O estádio Sarrià foi demolido em 1997, e construído no seu lugar um luxuoso conjunto residencial.

A partida começou mal para o Brasil. Logo aos 4’50” do primeiro tempo, a Itália fez 1 x 0. Em um cruzamento de Cabrini pela intermediária esquerda, ninguém cortou, e Paolo Rossi cabeceou para fazer o primeiro dos três gols que faria naquele dia. Aos 10’20”, Serginho perdeu um gol cara a cara com o goleiro italiano, chutando muito mal. Serginho, aliás, foi o único jogador que atuou muito mal nesta partida, foi muito marcado e não conseguiu abrir espaços na defesa italiana. Não era ele o preferido de Telê Santana. Reinaldo, do Atlético Mineiro, não foi convocado, por estar se recuperando de contusão. E Careca era para ser o titular, mas também se contundiu já na Espanha, pouco antes da estreia do Brasil, e foi cortado. Serginho acabou sendo o titular.

O empate do Brasil veio logo em seguida, aos 11’55”, em uma linda jogada de Zico, que driblou Gentile e deu o passe para Sócrates penetrar e chutar no canto esquerdo de Zoff. Cinco minutos depois, Gentile fez falta em Zico e recebeu cartão amarelo. Gentile passou a partida inteira marcando Zico, e já devia ter recebido antes um cartão amarelo, fez outras faltas para cartão, mas o árbitro não deu. Gentile deveria ter sido expulso. Abraham Klein deixou também de dar outros cartões amarelos, para os dois lados. O árbitro não esteve bem na partida, inclusive permitindo a cobrança de faltas com a bola em movimento. Zico, por sua vez, deveria ter explorado o fato de seu marcador ter um cartão logo no início da partida e tentado mais jogadas individuais em cima dele, para que ele recebesse outro cartão.

O 2º gol da Itália, aos 24’45”, foi resultado de um erro infantil de Toninho Cerezo, que, na intermediária do Brasil, deu um passe de maneira displicente da direita para o meio-campo. Paolo Rossi se adiantou a dois brasileiros, cortou o “passe”, penetrou e chutou forte para fazer o segundo da Itália. Não se pode tomar um gol assim em Copa do Mundo! Na partida toda, a propósito, os dois times erraram muitos passes.

Aos 41 minutos, Gentile puxou a camisa de Zico, já dentro da área italiana, mas o árbitro não marcou pênalti. Zico reclamou bastante, mostrando a sua camisa rasgada (foto). Poderia ter sido o gol de empate brasileiro. O árbitro israelense não apenas não marcou o pênalti, como marcou toque de mão do Zico na bola, ou seja, falta contra o Brasil!

Aos 12’50” do segundo tempo, Paolo Rossi perdeu um gol cara a cara com Waldir Peres, que saiu muito bem do gol. Mas, aos 23 minutos, Júnior virou o jogo para a direita do ataque brasileiro, passando para Falcão, que enganou três jogadores italianos fingindo que ia passar para Cerezo, e, da entrada da grande área, acertou um lindo chute no canto direito do gol da Itália, um golaço. O Brasil conseguia o empate, faltando pouco mais de 20 minutos para o fim da partida, resultado que nos classificava para a próxima fase. Em seguida, Telê Santana tirou Serginho, colocando em seu lugar Paulo Isidoro.

Aos 25 minutos, Éder roubou uma bola na intermediária e poderia ter passado para Sócrates fazer o gol, excelente oportunidade perdida para o Brasil. Mas, quatro minutos depois, após uma cobrança de escanteio, a bola sobrou livre para Paulo Rossi, de novo, marcar o terceiro gol da Itália, em uma distração da defesa que o deixou sem marcação. Júnior ainda levantou o braço pedindo o impedimento, mas ele próprio dava condições a Rossi. Marcio Guedes, o comentarista, passou a partida inteira esbanjando otimismo, sempre destacando a superioridade técnica brasileira, e que o Brasil tinha totais condições de se classificar, o que acabou não acontecendo.

Aos 37 minutos, a torcida italiana gritava olé, já confiante. Aos 42’40”, Antognoni, que tinha acabado de entrar, recebeu passe de Oriali e fez o que seria o quarto gol italiano, mas o árbitro israelense anulou. O locutor, Luciano do Valle, disse na narração que foi “bem marcado o impedimento”. Mas, vendo a imagem, percebe-se que Oscar dava condições, na mesma linha (foto), portanto, foi mal anulado.

Em seguida, foi a vez do Brasil quase fazer o que seria o gol de empate, o gol da classificação. Aos 43’30”, Éder cobrou uma falta, lançando a bola para a área. Oscar cabeceou no canto inferior esquerdo do gol, mas Zoff fez uma difícil defesa em cima da linha. Oscar, Sócrates e Zico chegaram a pedir o gol. Recentemente, em entrevista à televisão, Oscar disse que aquele teria sido o gol da sua vida, e teria sido mesmo! O árbitro terminou o 2º tempo, assim como o primeiro, dando apenas pouco mais de um minuto de acréscimo; para ser correto, deveria ter dado pelo menos cinco em cada um. Mais um erro da arbitragem.
 
Além de Paolo Rossi, por ter feito os três gols da Itália, o grande nome da partida, em minha opinião, foi justamente o goleiro italiano, Dino Zoff, que somente teve uma falha, quando aos 37’30” do segundo tempo “furou” ao tentar chutar a bola, mas seus companheiros foram rápidos para tirar o perigo. Zoff e Rossi foram decisivos para a vitória italiana. O goleiro brasileiro, Waldir Peres, não foi tão exigido, mas esteve bem, e não teve culpa em nenhum dos gols italianos.

O capitão Sócrates, Falcão e Zico foram os melhores do Brasil, mas todos estiveram bem, com exceção de Serginho, muito marcado. Leandro não esteve bem no primeiro tempo, mas se recuperou no segundo. Foi uma partida sensacional, de muitas chances dos dois lados. O Brasil perdeu, e o futebol também, porque aquela seleção era, com certeza, a melhor e mais técnica do Mundial da Espanha. Mas, ganha quem faz mais gols, e a Itália soube se aproveitar dos erros brasileiros e foi mais eficaz.

Na época, os gols do Brasil eram assinados pelos seus autores, muito bacana, podiam voltar com isso!
Até aquela partida, Paolo Rossi não tinha feito nem um gol sequer no Mundial, mas acabou sendo o artilheiro, com 6 gols. E a Itália por muito pouco não foi eliminada da Copa do Mundo logo na primeira fase. Conseguiu passar à segunda fase, atrás da Polônia, apenas pelo critério de desempate, pois tinha mais gols do que a então estreante seleção de Camarões. Brigada com a imprensa do seu país, quase voltou para casa com três jogos e três empates, sem nenhuma vitória. Depois, venceu a Argentina (2 x1 ), o Brasil (3 x 2), a Polônia (2 x 0) e a Alemanha, na final (3 x 1). A decisão do Mundial foi apitada pela primeira vez por um árbitro não europeu, o brasileiro Arnaldo Cesar Coelho, atualmente comentarista de arbitragem da Rede Globo. Na decisão do terceiro lugar, Polônia venceu a França por 3 x 2.

O Brasil terminou o Mundial da Espanha em quinto lugar, mas até hoje tem aquela seleção apontada pelo que ficou conhecido como “futebol-arte”. Lembro-me bem de que as ruas do Brasil estavam pintadas e enfeitadas com as cores da bandeira brasileira, a animação e confiança eram grandes, eu mesmo tinha colocado um desenho meu do Pacheco, personagem criado pela Gillette, na janela do apartamento onde morava com a minha família. E os resultados da seleção até então justificavam a confiança: 2 x 1 URSS, 4 x 1 Escócia, 4 x 0 Nova Zelândia e 3 x 1 Argentina (até então, a atual campeã).

Hoje, muitos criticam Telê Santana por não ter jogado contra a Itália pelo empate, aproveitando a vantagem que nos favorecia. Mas, se o Brasil jogasse pelo empate e perdesse, esses mesmos que o criticam até hoje, também o criticariam da mesma forma, afinal, diriam, “com um timaço daqueles, como o Brasil foi jogar pelo empate?”. É mais fácil falar após saber o resultado.

Apesar de não termos sido campeões, é bom saber que a seleção brasileira de 1982 será sempre lembrada por ter jogado da maneira que todos que gostam do bom futebol querem, no ataque, buscando o gol. Brasil e Itália foi um jogaço, qualquer uma das seleções poderia ter saído de campo com a vitória. Como disse o locutor Luciano do Valle durante a transmissão, este foi “o jogo que você jamais vai esquecer!” E tinha razão, foi uma das partidas inesquecíveis que eu assisti, o resto faz parte da História! E, afinal de contas, o Brasil veio a conquistar mais dois títulos mundiais depois, em 1994 e 2002. E a final desta última é outra partida inesquecível. Mas, esta é uma história para um outro dia...    fr

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