Brasil, 1962, Drama,
preto e branco
Direção: Anselmo
Duarte
Com: Leonardo
Villar, Gloria Menezes, Dionisio Azevedo, Geraldo Del Rey, Othon Bastos, Norma
Bengell, Antonio Pitanga.
Maravilhoso filme
brasileiro, baseado em peça teatral homônima de Dias Gomes. Vencedor do prêmio
Palma de Ouro, em Cannes, e indicado ao Melhor Filme Estrangeiro do Oscar. Uma
crítica ao atraso do país, mergulhado na ignorância, na exploração religiosa e
política do povo. Zé do Burro, interpretado por Leonardo Villar, sai de seu
povoado, no interior da Bahia, a pé, carregando uma cruz de madeira, para
entrar com ela na Igreja de Santa Bárbara, em Salvador. O esforço é para
cumprir uma promessa feita à santa, por conta de seu burro, Nicolau, ter sido
atingido na cabeça por um pedaço de árvore, derrubado por um raio. O animal
sofreu hemorragia, e quase morreu, o que fez com que, desesperado, Zé do Burro
fizesse uma promessa a Inhansã, em um terreiro de Candomblé, isto porque na
capela de seu povoado não havia uma imagem da santa. Pelo sincretismo
religioso, ela é Santa Bárbara. Após a recuperação do melhor amigo, Zé do
Burro, então, passou a cumprir a promessa: dividiu suas terras com lavradores
pobres e partiu para Salvador com a cruz, e com sua esposa, Rosa (Gloria
Menezes), apesar dela não ter sido incluído na promessa. Ao chegar à capital,
no entanto, tudo passou a dar errado. O padre Olavo (Dionisio Azevedo, o ‘seu’
Portuga da novela ‘O Meu Pé de Laranja Lima’, da TV Bandeirantes, na década de
1980), não permitiu sua entrada em sua igreja por ele ter feito a promessa no
Candomblé. E o acusou de querer ser comparado a Jesus Cristo pelo sacrifício
que fazia, além de estar sendo usado por Satanás, que o estaria ‘tentando’. Sem
entender direito toda a situação, Zé do Burro apenas insistia em cumprir sua
promessa, enquanto as demais pessoas à sua volta o ridicularizavam ou o usavam
em proveito próprio. Um repórter de jornal sensacionalista passa a retratá-lo
como sendo um revolucionário, defensor da reforma agrária e contra a exploração
do pobre. O dono de um bar lucra com o aumento de pessoas, atraídas pela
confusão. E um gigolô acaba se aproveitando da ingenuidade e fraqueza de Rosa,
que depois se arrepende. Até um político tenta se aproveitar da imagem de Zé do
Burro para fortalecer sua campanha eleitoral, como candidato do governo. O
simplório Zé do Burro é explorado por todos por sua simplicidade e ignorância. Infelizmente,
o filme permanece atual em um Brasil ainda sofrendo com a exploração da fé do
povo, agora ainda mais também com denominações evangélicas; políticos e
empresários desonestos e uma mídia muitas vezes sensacionalista. Acredito que
valeria uma adaptação para o cinema hoje para o momento atual brasileiro. Em
1988, foi adaptado para a televisão, em minissérie da Rede Globo. fr
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