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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Dica de livro: "Memórias Póstumas de Brás Cubas"


Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis, São Paulo, editora Klick, 1997, 257 páginas (Coleção Livros O Globo, vol. 13).
Um dos mais importantes livros de Machado de Assis (1839-1908), lançado em 1881. É narrado pelo próprio personagem que dá nome à obra, ou, como ele se descreve, pelo “defunto autor”, já que as suas memórias são contadas após sua morte, ocorrida “às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869”. E, seguindo o estilo machadiano, o autor das memórias conversa com o leitor, e divide as memórias em capítulos, alguns muito curtos, como o de número 136, de apenas duas linhas, com o título “Inutilidade”, sobre o anterior: “Mas, ou muito me engano, ou acabo de escrever um capítulo inútil”. O capítulo 139, “De como não fui Ministro D’Estado”, é ainda menor, sem nenhuma palavra, apenas cinco linhas repletas de pontos. A seguir, conto passagens que podem tirar a surpresa de quem pretende o livro. Brás Cubas foi um jovem que sempre teve tudo o que desejava do pai rico. Apaixonou-se aos 17 anos por uma jovem espanhola, Marcela, interesseira e volúvel, e passou a gastar sem controle o dinheiro do pai, dando-lhe presentes caros, chegando a uma dívida de onze contos. Ao descobrir, o pai mandou-o estudar Direito em Portugal para que se tornasse um homem sério. Anos mais tarde, ao voltar ao Rio, depois de um estudo sem aplicação, mas já graduado, o pai tenta casá-lo com Virgília, jovem com seus 15/16 anos de idade; e torná-lo deputado. Eram assim que essas coisas aconteciam à época. Os casamentos eram combinados pelos pais. E a política uma questão de interesses, como se vê, um mal que vem de muito tempo. Não conseguiu a vaga na política, e Virgília acabou escolhendo casar com outro, Lobo Neves, com quem passou a ter amizade, para dupla decepção do pai. Anos mais tarde, tornou-se amante de Virgília e conseguiu tornar-se deputado, mas não ministro. Brás Cubas pagava a uma senhora, conhecida da família de Virgília, para que ela permitisse ao casal se encontrar em sua casa. Contrariada no início, mas necessitando do dinheiro, ela aceitou. As pessoas comentavam o relacionamento extraconjugal, e o próprio Lobo Neves desconfiava. Brás Cubas pensou na possibilidade de se casar com outras duas mulheres, para atender às expectativas da sociedade, mas estava muito apaixonado por Virgília. Eugênia, por quem ele se interessou, mas não conseguiu levar adiante por ela ter um problema na perna e mancar, preconceito forte da época. E Eulália, sobrinha do marido da irmã de Brás Cubas, que queria vê-los casados, mas ela acabou falecendo, vítima de febre amarela.  Brás Cubas acabou morrendo aos 64 anos, solteiro, sem filhos, e sem conseguir realizar nenhuma realização pessoal ou profissional, sentindo ter levado uma vida vazia e não produtiva, e sem ter conseguido levar adiante o projeto de criar um emplasto (medicamento de uso externo que, sob a ação de calor suave, amolece levemente, aderindo à pele, conforme dic. Houaiss) com o seu nome. O livro conta também o reencontro de Brás Cubas com um colega de colégio, Quincas Borba, agora um senhor de barbas brancas, sujo, morando na rua e parecendo um mendigo, sofrendo de doença mental. Tempos depois, volta a reencontrar Quincas Borba, que enriquecera graças a uma herança que recebeu, e que lhe explica seu ”sistema de filosofia”, o “Humanitismo”. Machado de Assis voltaria a escrever sobre Quincas Borba, escrevendo o livro homônimo 10 anos depois, e sobre o qual escreverei aqui no meu blog em breve. Fez o mesmo com o personagem do conselheiro Marcondes Aires, apresentando livro “Esaú e Jacó”, e retornando anos depois no livro “Memorial de Aires”. “Memórias Póstumas de Brás Cubas” é considerado o primeiro romance moderno da literatura nacional, e um marco do Realismo. fr

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