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terça-feira, 3 de julho de 2018

Dica de livro: "Iaiá Garcia"

Iaiá Garcia, Machado de Assis, São Paulo, editora Globo, 1997, 172 páginas (Obras Completas de Machado de Assis).
 
Mais um livro de Machado de Assis que eu li: “Iaiá Garcia”, publicado em 1878, e lançado inicialmente em folhetim no jornal “O Cruzeiro”, onde o autor também escreveu suas crônicas nas “Notas Semanais”. Considerado último livro da fase romântica do autor, a estória transcorre durante a Guerra do Paraguai.
Luís Garcia é um funcionário público, viúvo, e com 41 anos no início da estória. Retraído em sua casa em Santa Teresa, taciturno, ele “amava a espécie e aborrecia o indivíduo”, e ajudava a qualquer um, esquecendo logo do que fazia. Luís Garcia tinha uma filha, Lina, ou Iaiá Garcia, de 11 anos, que estudava em um colégio durante a semana e o pai a pegava nos sábados para passarem o fim de semana juntos; a mãe morreu em 1859.  
Atendendo a um chamado da viúva de um desembargador que fora amigo de seu pai – Valéria Gomes, 48 anos –, Luís Garcia foi a casa dela, na Rua dos Inválidos, no Centro. Para sua surpresa, era para lhe pedir que conversasse com o filho, Jorge, a fim de convencê-lo a se alistar como voluntário na guerra. E ela usou como justificativa os interesses da pátria e o desejo de ver o filho bem encaminhado na vida, voltando do conflito coronel.
O filho, de 24 anos, era um advogado sem muita aptidão para a carreira, preferindo usufruir da vida que tinha por conta da boa situação financeira da mãe. Mesmo desconfiado das razões patrióticas apresentadas, Luís Garcia aceitou e conversou com o rapaz, descobrindo que a verdadeira razão da mãe era afastar o filho de uma moça por quem ele estava apaixonado. E ficou também surpreso em saber que Jorge já tinha decidido ir para a guerra.
A jovem em questão era Estela, de 16 anos, a filha do sr. Antunes, antigo escrevente do falecido marido de Valéria. Ele era uma espécie de faz-tudo, adulador e confidente das aventuras extraconjugais do desembargador, que o ajudou muito e a Estela. Após a morte do chefe ele transferiu a dedicação à viúva, e desejava muito que sua filha viesse a casar com Jorge.
Ao contrário do pai, acostumado a viver dos favores recebidos, Estela era muito orgulhosa, nunca se considerando pessoa da família de Valéria, apenas como se fosse uma visita na casa. Ela amava Jorge, mas quando este se declarou e lhe perguntou o que sentia por ele, Estela reagiu com indiferença, justamente por não se sentir à altura dele.
Magoado e com o amor-próprio ferido, Jorge considerou a atitude de Estela muito fria e indiferente, o que fez decidir-se por ir à guerra, recebendo de imediato a patente de capitão de voluntários, dedicando-se com coragem às missões mais perigosas, chegando a ser ferido em uma batalha. A moça decidiu por voltar à casa do pai, o que só confirmou as suspeitas de Valéria que algo entre os dois poderia estar acontecendo. Valéria chegou a tentar que o filho casasse com uma parenta distante, Eulália, de 19 anos, mas esta não aceitou por não acreditar ser amada por ele.
Atenção, a seguir vou escrever informações sobre o final do livro, então, quem não quiser saber antecipadamente, pare aqui!
Passado algum tempo após sua chegada ao Paraguai, Jorge recebeu uma carta de Luís Garcia informando-lhe que ele casara-se com Estela. O casamento foi incentivado por Valéria, que desejava evitar uma futura aproximação da moça com seu filho, após o seu retorno da guerra. A escolha da nora deu-se inicialmente com o oferecimento de um dote ao sr. Antunes para garantir o futuro da filha. Em seguida, ela consultou Estela a respeito de Procópio Dias, um conhecido do filho, de 50 anos e sem moral, e viu que a mesma não sentia nada por ele, nem por ninguém, apesar de dizer que aceitaria o marido que ela propusesse.
Estela e Iaiá tornaram-se grandes amigas, e esta lhe perguntou por que não se casava com o pai dela. A ideia do casamento amadureceu e a própria Estela perguntou a opinião de Valéria, que procurou Luís Garcia, convencendo-o a casar-se novamente.
À época o amor não era a principal motivação dos casamentos. Não era necessário Estela amar Luís Garcia, bastava sentir certo apreço e respeito. E Luís Garcia, a princípio, não pensava em casar-se novamente, mas acabou aceitando, mesmo também não sendo por amor. Considerava conveniente arrumar uma madrasta para a filha, que estava terminando os estudos e voltaria em definitivo para casa; e as duas se gostavam muito. O pai de Estela, por sua vez, não gostou da escolha, pelo temperamento fechado do futuro genro, mas o dote oferecido por Valéria ajudou-o a se decidir. E Valéria foi até madrinha da noiva.  
Em quatro anos lutando na guerra, Jorge foi promovido sucessivamente a major e tenente-coronel, comandando o seu próprio batalhão. Em março de 1870 a guerra foi encerrada, tendo superado muito o tempo previsto, e coincidentemente foi quando Jorge recebeu carta de Luís Garcia informando-lhe que sua mãe morrera. Em outubro, ele retornou ao Rio de Janeiro, coberto de glórias, mas sua mãe já não estava mais viva para ver e se orgulhar.
Jorge herdou uma boa quantia da mãe, o suficiente, se bem administrado, para que não precisasse mais advogar, o que nunca gostou de fazer, ou a exercer qualquer outra atividade. No testamento, Valéria também deixou um valor como “legado” para futuramente servir como dote para Iaiá, e um dote para Estela, que abriu mão em favor da amiga.
Luis Garcia ficou doente, e pediu a Jorge que, em caso de seu falecimento, cuidasse da esposa e da filha, como se fosse um “tutor”. Dinheiro elas teriam o suficiente por conta do dote deixado por Valéria, mas Luis Garcia não confiava no sogro. O médico de Luiz Garcia contou a Jorge que o doente, mesmo que se recuperasse, viria a morrer em um ano ou ano e meio, por conta de sérios problemas no coração. Jorge passou a visitar Luis Garcia regularmente, chegando a passar a morar em uma casa que tinha em Santa Teresa, para ficar mais próximo dele. O relacionamento entre Jorge e Estela era formal.
Ao arrumar seus papeis no escritório, Luis Garcia leu para a esposa uma carta de Jorge, que ele enviara quando estava no Paraguai, em que confidenciava a ele que o motivo de ter ido à guerra era o amor a uma mulher. Iaiá percebeu que a madrasta ficou perturbada ao ouvir a leitura, e passou a suspeitar de um amor antigo entre os dois. Procópio Dias confidenciou a Jorge o seu interesse em casar-se com Iaiá e pediu-lhe que fosse seu aliado e falasse dele com a moça, já que precisou fazer uma viagem de negócios a Bahia.
A convivência acabou por aproximar Jorge e Iaiá, que o amava, e, com o incentivo de Estela, acabaram por marcar o casamento. Ao voltar para o Rio de Janeiro e descobrir o que considerou uma traição de Jorge, Procópio tentou afastá-los contando a Iaiá que seu noivo amava de verdade a madrasta. A relação das duas ficou estremecida por algum tempo, e Iaiá chegou a desistir do casamento, mandando Raimundo – um ex-escravo da família, liberto, mas ainda vivendo em sua casa – entregar uma carta a Procópio aceitando o pedido de casamento. A carta não chegou a seu destinatário porque Raimundo a leu e preferiu não entregá-la, o que foi determinante no desenrolar dos acontecimentos.
Estela sempre amou Jorge, mas preferiu abrir mão dos seus sentimentos em favor de Iaiá, convencendo-a que não sentia mais nada por ele, o que não era verdade, e ainda fez questão de ser madrinha da noiva. Depois, preferiu afastar-se, partindo para São Paulo, onde passou a dirigir um estabelecimento de ensino de uma antiga aluna. O pai preferiu permanecer no Rio de Janeiro, dedicando a Jorge e sua esposa o seu tempo e atenção, assim como fizera com a mãe daquele, e, antes, com o pai.
De acordo com o Wikipédia, o livro foi adaptado para a TV e o cinema. Em 1978, com o filme “Que Estranha Forma de Amar”, escrito e dirigido por Geraldo Vieitri. Em agosto de 1982, uma novela de mesmo nome, exibida pela TV Cultura, escrita por Rubens Ewald Filho. fr

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