
“Fidel em pessoa”,
Roberto D’Ávila, Porto Alegre, Editora L&PM Editores, 1986, 172 páginas,
tradução de Remi Gorga Filho.
O livro é a transcrição da histórica
entrevista que o presidente cubano Fidel Castro concedeu ao jornalista Roberto
D’Ávila em dezembro de 1985, em Havana. À época, o Brasil estava passando por
um processo de redemocratização, e o presidente José Sarney manifestou o desejo
que o país reatasse relações diplomáticas com Cuba, rompidas em 1964, com o
golpe militar.
Não importa qual seja a ideologia ou
preferências políticas de cada um, o fato inquestionável é que a entrevista foi
um furo jornalístico mundial. Até mesmo para fazer qualquer crítica a alguém é
necessário conhecer o suficiente sobre a pessoa. E Fidel Castro é, sem dúvida,
uma das figuras históricas mais importantes do século 20.
Roberto D’Ávila tinha um programa na extinta
Rede Manchete chamado “Conexão Internacional”, em que entrevistava
personalidades mundialmente conhecidas, e a entrevista exclusiva com Fidel
Castro foi, entre elas, a mais importante. Cuba e Brasil reataram as relações
em 14 de junho de 1986. No mesmo ano, D’Ávila concorreu e foi eleito deputado
federal constituinte.
A entrevista, a primeira concedida por Fidel
à televisão brasileira, foi concedida graças à influência de algumas ilustres
celebridades presentes na capital cubana para dois eventos internacionais.
Entre elas, Gabriel García Márquez, Chico Buarque e Frei Betto, que pediram a
Castro que atendesse Roberto D’Ávila. Em dois dias, o jornalista esteve com o
líder cubano, entrevistando-o no Palácio da Revolução durante mais de cinco
horas (em outra passagem do livro, é dito que foram sete horas).
D’Ávila ainda visitou Sierra Maestra, região
de montanhas onde Fidel, Che Guevara e os demais revolucionários lutaram três
anos até a vitória; e andou com ele pelas ruas de Havana. No livro, Castro fala
longamente (como era de hábito) sobre assuntos como a infância, a família, o
governo de Fulgencio Batista, a sua prisão e o exílio no México, a vitória da
revolução e os investimentos em Educação e Saúde.
Fidel descreve também como eram as relações
com os Estados Unidos e as inúmeras tentativas da CIA de matá-lo, as dívidas
dos países do Terceiro Mundo e como elas são impossíveis de serem pagas devido
às altas taxas de juros, e a morte do companheiro Che Guevara. D’Ávila também
toca em questões polêmicas, que resultam em muitas críticas ao governo cubano,
como a existência de partido único, a inexistência de alternância do poder,
“paredão”, e a presença de Cuba nos conflitos africanos à época da entrevista.
Com, certeza, é um livro muito interessante para se conhecer a realidade
política de Cuba, independente de simpatias ou antipatias de cada um. fr
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