No Japão, existem muitas coisas curiosas. Uma delas é uma empresa especializada em alugar parentes e amigos. É a agência Family Romance, do japonês Yuichi Ishii, com sede em Tóquio e que atua nessa área desde 2009. A proposta é ajudar pessoas a se livrar de situações difíceis em suas vidas, e são vários os exemplos. A mãe solteira que contrata um ator para interpretar o papel de pai a fim de que a criança deixasse de sofrer bullying na escola; o noivo ou noiva que precisa de “pais” para apresentar ao futuro cônjuge e à sua família e para estarem presentes no casamento.
É comum também as pessoas que desejam ir a uma festa familiar ou na empresa, e querem a companhia de um “namorado” ou “namorada”. E idosos em casas de repouso, que são visitados por “parentes” contratados. O nome da agência é uma referência ao ensaio de Sigmund Freud, de 1909, em que o psiquiatra austríaco analisa o comportamento de crianças que fantasiam pais idealizados, em substituição aos verdadeiros, que não dão a elas a atenção desejada.
Yuichi Ishii teve a ideia de criar o negócio após uma amiga pedir para que ele fingisse ser o seu marido e participasse de uma entrevista com a direção de uma escola onde ela queria matricular o filho no jardim de infância, exigência para que o menino fosse aceito. A entrevista foi um desastre porque o garoto e Yuichi, sem nenhuma experiência para desempenhar o papel de maneira convincente, não se saíram bem como pai e filho. Apesar do resultado não ter sido bom, Yuichi percebeu existir uma demanda para “parentes alugados”, em um país onde se dá muita importância às aparências e ao que “o outro vai pensar” (no Brasil também é assim!).
Interessado em atender a esse mercado, Yuichi passou a estudar o assunto, e assistiu a vários filmes com temática familiar e criou uma empresa. A sua agência dispõe de um cadastro com mais de 2.000 funcionários e uma grande variedade de personagens: pais, mães, avós, namorados, noivos, maridos, esposas, amigos, tios e até bebês. A figura mais requisitada pelos clientes é a de pai, e o próprio Yuichi Ishii tem 35 “filhos”, sendo que alguns acreditam mesmo no parentesco.
Os “dublês” recebem treinamento direcionado aos papéis que irão desempenhar e são proibidos de manter contatos íntimos com os contratantes. O valor cobrado pela agência é de acordo com a dificuldade do papel, variando de 200 a mil dólares. No Japão, o serviço é legalizado, mas em muitos países poderia enfrentar resistências das leis. Yuichi Ishii garante que, nesses anos todos, ele e os seus atores nunca foram desmascarados. A história inusitada de Yuichi Ishii foi adaptada para o cinema pelo diretor alemão Werner Herzog em 2021 e o empresário atua no filme, como ele mesmo.
Minha opinião: A história é curiosa, mas perfeitamente compreensível. Vivemos em um mundo individualista e egoísta, em que as pessoas estão sempre com pressa e querendo resultados imediatos. Não é apenas no Japão que existem pessoas sozinhas, muitas vezes rodeadas de gente em volta. É uma realidade comum ao mundo todo, e o Brasil não é exceção! Buscar uma companhia, mesmo paga, muitas vezes é uma solução para a solidão e a depressão. A preocupação é evitar o uso do serviço para enganar e prejudicar outras pessoas. fr
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