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sábado, 7 de julho de 2007

Nos bastidores da Igreja Universal

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NOS BASTIDORES DO REINO
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Esta obra caiu como uma bomba sobre a organização de Edir Macedo, que conseguiu na justiça uma liminar impedindo provisoriamente a circulação do livro, que ficou apenas 22 dias nas livrarias, desde seu lançamento em novembro de 1995. A Editora lutou e conseguiu na justiça, a liberação da obra em que o ex-pastor Mario Justino narra sua amarga experiência com religião, drogas, sexo e o submundo do crime no Brasil e em Nova Iorque. Um livro saudável e ao mesmo tempo polêmico - que foi adotado como educação para a cidadania por vários professores. A seguir, seguem trechos originais, sem alteração de conteúdo em sua forma original.
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SINOPSE
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Pela primeira vez na história da Igreja Universal do Reino de Deus, um ex-pastor revela como ingressou nesta organização, como se transformou num dos mais carismáticos pregadores com ação no Brasil. Portugal e Estados Unidos. Como chegou à cúpula da seita de Edir Macedo e como, depois de quase 10 anos a seu serviço, foi eliminado do grupo, iniciando então uma impressionante experiência no submundo de Nova York – onde vive até hoje.
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“Nos Bastidores do Reino” não é apenas um livro-denúncia ou uma autobiografia precoce. Mário Justino tinha só 30 anos em 1995 – mas uma extraordinária história de vida. O que dá grandeza a seu depoimento é que, depois de sua desgraça na Igreja, não passou a viver como um cidadão comum. Negro, casado, dois filhos, vítima da Aids – contraída quando ainda estava a serviço da Igreja Universal – ele viveu um terrível calvário antes de decidir escrever esse depoimento.
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Como ele mesmo diz, “sexo, dinheiro e drogas se confundem, no mesmo púlpito, com orações e salmos de Davi”. Nos templos e na alta hierarquia da seita, onde foi admirado por sua capacidade de influenciar os crentes e arrancar dinheiro deles, Mário Justino era um dos mais privilegiados membros. No submundo do Harlem, bairro negro de Nova York, onde passou a viver depois de seu afastamento, era apenas um drogado condenado à morte. Alimentava então o secreto desejo de assassinar o bispo Macedo. Foi desse inferno que Mário Justino se ergueu.
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O relato de sua vida a partir de então é mais impressionante do que o que relembra sua vida na seita. Daí que este livro tem um duplo significado: ao mesmo tempo em que presta um serviço a sociedade, expondo o secreto mundo dos negócios da seita de Edir Macedo, nos oferece uma obra literária densa, próxima dos livros de formação, que transformam leitor. Como bem afirma o prefaciador Marcelo Rubens Paiva, outro notável autor de obras do gênero: ninguém será o mesmo depois de ler este livro.
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Livro raro, este. Começou como um livro-denúncia, mas, como lembra o próprio autor ele mesmo transformado depois da catarse, na medida em que foi sendo escrito tomou a forma do que realmente é: “a trajetória de alguém que, buscando o desconhecido, encontrou a si mesmo. ”De fato, é assim que esta obra deve ser vista: um contundente depoimento artístico e literário sobre os absurdos da condição humana.
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INTRODUÇÃO
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Talvez eu não tivesse o direito de escrever uma história que envolvesse tantas pessoas. Entretanto seria impossível contar essa história sem que se revelasse, no andamento natural da narrativa, a história dos porões da Igreja Universal. Infelizmente, as duas histórias estão fundidas em uma só. Sexo, dinheiro e drogas se confundem, no mesmo púlpito, com orações e salmos de Davi. Lamento pelas pessoas que se sentirão traídas por esta obra. Mas espero que ela contribua para que se forme uma discussão de âmbito nacional sobre a influência nociva que pseudo-pastores vêm exercendo sobre as massas, fazendo com que menores abandonem família e estudos, desgraçando assim seu futuro de vida. Isso, se não é, deveria ser caso de polícia.
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As poucas pessoas que conseguem se liberar desse crack religioso se vêem no meio de um profundo vazio. Como se o tapete mágico tivesse sido puxado repentinamente de sob seus pés. Em muitas vezes as seqüelas são irreparáveis. Nos Estados Unidos existem várias organizações, algumas governamentais, que dão apoio psicológico e legal a essas pessoas vitimadas por grupos como a “igreja” de EdirMacedo.
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Mário Justino Nova York, verão 1995
(Nos Bastidores do Reino, Pág. 11, Mario Justino, Ed. Geração Editorial)
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PRELÚDIO
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- Ora, não se faça de imbecil! Você sabe porque tem de ir. Mas vou refrescar sua mente. Você não pode mais fuçar com a gente porque tem AIDS!
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Quando Edir Macedo, o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, me chamou em seu escritório, no fundo eu sabia que era isso que ele me diria....fui chamado ao escritório do bispo Edir Macedo, que, à época, encontrava-se em Nova York fugindo das acusações de charlatanismo feitas pela polícia de São Paulo. Pior, podia “comprometê-la”. Ao insistir em saber porque estava sendo varrido da Igreja depois de onze anos de serviço prestados, recebi do bispo aquela resposta áspera, bem no estilo dele.
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(Nos Bastidores do Reino, Pág. 13, Mario Justino, Ed. Geração Editorial)
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Depois, tornei a implorar ao bispo Macedo para que me desse algum dinheiro ou me mandasse de volta para o Brasil.
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- Aqui, ó!!! – disse ele, ao mesmo tempo que desferia uma “banana”, aquele clássico gesto em que erguido, o punho cerrado assume a forma de um imenso pênis em estado de ereção.
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(Nos Bastidores do Reino, Pág. 14, Mario Justino, Ed. Geração Editorial)
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Capítulo Dois LEVÍTICOS I
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Para ser treinado, fui enviado à cidade de Paulo Afonso, como auxiliar do pastor Jailton Vieira. Com ele, eu apresentava o programa o Despertar da Fé e aprendi a fazer reuniões para um grande número de pessoas. E logo entendi que duas qualidades são essenciais para ser um pastor de sucesso na Igreja Universal. A primeira é ter a capacidade de canalizar ofertas expressivas. A segunda é saber entreter o povo e segurá-lo nas “correntes”.
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Os cultos eram feitos com gritos frenéticos dos apresentadores e a participação ativa da platéia. Esse espetáculo espiritual é dividido em duas partes e chega ao clímax quando são realizados os exorcismos. Nesse momento, pessoas aos gritos começam a rolar pelo chão e jogar para cima os bancos da igreja. Algumas chegam a entrar em luta corporal com pastores e obreiros. Aos que vinham pela primeira vez, explicávamos que aquelas estavam possuídas por demônios e ensinávamos que eram esses espíritos malignos a fonte de mazelas como desemprego, problemas financeiros e amorosos.
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Dizíamos também que as doenças eram sinais físicos de possessão demoníaca e, uma vez que estes espíritos eram expulsos, as pessoas ficavam curadas de toda a sorte de enfermidades. Geralmente entrevistávamos os endemoninhados e, para mostrar ao respeitável público que tínhamos poder sobre eles, fazíamos com que essas pessoas andassem de joelhos ao redor da igreja, ou batessem a cabeça nos nossos pés, ou latissem ou ainda que imitassem galinhas, porcos e outros animais. Isso dependia da imaginação de cada pastor.
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Depois dos exorcismos, enquanto o povo explodia em aplausos e gritos de júbilo, do alto do púlpito nós agradecíamos os louvores. Mesmo sabendo que aqueles “demônios” nada mais eram do que pessoas em busca de atenção ou sofrendo de seríssimas crises emocionais, nossa atitude era indefectível.
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(Nos Bastidores do Reino, Págs. 41-42, Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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Capítulo Dois LEVÍTICOS III
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Declaramos guerra às religiões africanas, sustentáculo da fé baiana. Guerra à Igreja Católica, nossa maior inimiga. E guerra até mesmo às igrejas protestantes, como pentecostal Deus é Amor, que nós tachávamos de “candomblé evangélico”, e à Assembléia de Deus, para nós um bando de “crentões” e “fanáticos”.
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Nas rodinhas de pastores sempre aparecia alguém contando alguma piada de profundo mau gosto sobre as mulheres da Assembléia de Deus, que, diziam, não se depilavam e não usavam desodorante por considerarem pecado.
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(Nos Bastidores do Reino, Pág. 46, Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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Quando eu era simples fiel, não imaginava o que se passava nos bastidores, depois que a cortina cai. Os atos de alguns pastores logo me levaram a descobrir que a Igreja Universal nada mais era do que uma empresa com fins lucrativos como qualquer outra na ciranda financeira. A única diferença era o produto vendido: sal que tira vício, lencinhos molhados no vinho “curativo”- o conhecido K-suco-, água da Embasa, que dizíamos ter vindo do Rio Jordão, azeite Galo, que dávamos ao povo como legítimo óleo ungido proveniente de Jerusalém...
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(Nos Bastidores do Reino, Pág. 49, Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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Capítulo Dois LEVÍTICOS III
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A única coisa que me causava um certo mal-estar era o fato de que todo aquele dinheiro gasto futilmente vinha de pessoas que mal tinham o que comer e iam a pé para igreja, economizando o dinheiro do ônibus para ofertá-lo durante as reuniões. Contudo, o comportamento dos líderes me absolvia de qualquer sentimento de culpa.
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Entre os pastores comentava-se à boca pequena que as famosas ‘peregrinações da fé à Terra Santa” não passavam de excursões turísticas ao Oriente Médio, com direito a cassinos, noitadas em Tel Aviv e divertidos passeios de camelos às pirâmides egípcias. Além disso, os líderes estavam constantemente em viagens” de interesses da Igreja” a cidades européias com forte apelo turístico, como Paris, Roma e Londres.
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(Nos Bastidores do Reino, Pág. 51, Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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Capítulo Três SAMPA I
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A amizade entre eles era mais velha que a própria Igreja Universal. Ela vinha dos tempos em que os dois faziam parte das Igrejas Casa da Benção e Nova Vida. Naquela época, Rodrigues era um obreiro adolescente e o recém convertido Edir Macedo de Bezerra apenas um auxiliar de escritório da Loterj. Sem ter ainda o sonho messiânico e napoleônico de que no futuro bibliotecas inteiras e evangelhos seriam escritos a sua pessoa.
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Sem o apoio dos líderes de suas igrejas aos seus métodos revolucionários de atrair fiéis, como distribuição de sal milagroso, o então evangelista Macedo se juntou a um grupo de amigos evangélicos e fundou a sua própria igreja. Além de Rodrigues, fazia parte desse grupo o missionário R.R. Soares (cunhado de Macedo, que mais tarde rompeu com ele, fundando a Igreja da Graça), o reverendo De Paula (que também brigou com Macedo e saiu), o pastor Joacir (também saiu), o pastor Benedito (saiu), e o contador Naylton Nery (esse, quem diria, acabou no Irajá). Hoje esses pastores devem estar tão arrependidos quanto aquele quinto Beatle.
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(Nos Bastidores do Reino, Pág. 57, Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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Logo que recebeu liderança do estado das mãos do experiente pastor Paulo, Gonçalves começou a lidar com problemas graves, como prisões de pastores por envolvimento com drogas (foi o caso do pastor Paulo César), adultérios e rebeliões de pastores que, em massa, abandonavam a Universal para abrir seus próprios templos. Afinal de contas templo é dinheiro.
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(Nos Bastidores do Reino, Págs. 58-59, Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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Capítulo Três SAMPA II
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Isso soou como uma espécie de, digamos, quebra de promessa de campanha, pois a pregação de Macedo até o início dos anos 80 era a de que a igreja nunca se envolvesse diretamente com política, que pra ele era “uma coisa do diabo”. Mudou o diabo ou mudamos nós? Foi, porém, em 1986 que vendemos de vez a alma para Satã. Naquele ano, começamos a apoiar candidatos em vários estados do país e, no Rio, pensava-se abertamente na possibilidade de lançar a própria mulher do bispo Macedo, ou um de seus irmãos, Eraldo ou Edna, como candidatos da Igreja.
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(Nos Bastidores do Reino, Pág. 60, Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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Capítulo Três SAMPA III
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Quando minha mãe morreu, o pastor de sua igreja não se deu conta disso. Cinco meses depois, minha irmã recebeu uma carta endereçada a mamãe, com a seguinte mensagem:
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Prezada Irmã,
Ultimamente temos sentido sua falta de sua preciosa presença nos cultos de louvores ao Divino Espírito Santo. Lembre-se “resisti ao diabo e ele fugirá de vós”. Espero ver-te na próxima Ceia do Senhor. Paz seja convosco. Seu escravo em Cristo, Pastor Ricardo Pellegrini.P.S. O dízimo da irmã está atrasado em cinco meses.
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Na época de minha volta para capital eu estava num terrível estado de depressão. Não comia, não dormia e passava as madrugadas chorando. Os líderes nunca chamavam os pastores para conversar, para saber o que estava se passando em sua vidas, para conhecê-los melhor. Eu não era o único pastor com problemas de depressão.
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(Nos Bastidores do Reino, Pág. 65, Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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Por meio de um conhecido no Rio, tive acesso ao antidepressivo Lexotan, que me deixava estupidamente ativo e alegre. Foi então que descobri a maconha, que passei a fumar compulsivamente antes e depois dos cultos. Houve vezes em que dirigi reuniões de oração completamente high. Para conseguir a droga passei a fazer a loucura de freqüentar as bocas de fumo da praça da Sé. Correndo o risco de ser visto por um dos membros da minha Igreja, que funcionava naquele local.
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(Nos Bastidores do Reino, Pág. 66, Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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O sucesso de meu trabalho (repetindo o que já disse, o sucesso de um pastor da Igreja Universal depende de quanto ele arrecada) me levou a ser um dos sete pastores escolhidos para serem consagrados pelo bispo Macedo durante sua peregrinação pelo nordeste.
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(Nos Bastidores do Reino, Pág. 67, Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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Capítulo Três SAMPA IV
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Sexo e dinheiro eram as maiores causas de queda dos pastores. Talvez pelo fato de esses dois itens serem muito acessíveis dentro da Igreja. Sexo, porém, não era motivo para mandar um pastor embora. A não ser quando o adultério ganhava proporções de escândalo e chegava ao conhecimento dos membros da Igreja... dinheiro, por outro lado, era assunto muito sério. Tocá-lo sem autorização era pecado capital. Imperdoável.
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(Nos Bastidores do Reino, Pág 68, Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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Uma outra razão de eu querer fugir da Bahia era aquele relacionamento que mantinha com o meu amigo pastor (homossexual), algo que havia começado quando eu ainda era um menino e que já se estendia por quatro anos, mesmo apesar do fato de que nós dois éramos casados e pais de filhos. Essa era a mais grosseira das nossas contradições, uma vez que existiam pastores homossexuais na Igreja Universal.
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(Nos Bastidores do Reino, Pág. 70, Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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Essa viabilidade econômica de São Paulo fez com que o bispo levasse para lá as chaves do cofre e brindasse a cidade com Status de “sede mundial”. No quadro de pastores foram introduzidos aulas de inglês, dicção, postura e etiqueta. Os lances de curandeirismo primitivo, que são fortes no nordeste, como dar ao povo óleo e sal pra tomar, nunca existiram em São Paulo. O bispo dizia sempre que para cada peixe deve ser usada uma determinada isca.
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(Nos Bastidores do Reino, Pág. 74, Mario Justino, Ed. Geração Editorial)
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Capítulo Três SAMPA VI
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Não faça do dinheiro uma arma, a vítima pode ser você (não deu para evitar o clichê). Dinheiro, o sangue da obra de Deus, segundo pastor Magno, havia se tornado no câncer que ia aos poucos comendo as vísceras da Universal. Era como se tudo ali dentro fosse feito em função de se fazer mais e mais dinheiro.
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(Nos Bastidores do Reino, Pág. 75 , Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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Quando aumentou sensivelmente o número de escândalos sexuais, a liderança se sentiu forçada a fazer alguma coisa pra frear aquela onda. Num espaço de apenas alguns meses, dois grandes escândalos abalaram as estruturas da Igreja Universal em São Paulo.
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(Nos Bastidores do Reino, Págs. 76 , Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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Os assuntos explorados iam desde sexo oral até sadomasoquismo. Na piscina com a mulher, Sua Excelência Reverendíssimanão perdia a oportunidade de dar uma demonstração rapidinha do dragão sexual que era. O auge dessas reuniões foi quando chegamos ao consenso de que cada casal tinha liberdade para fazer o tipo de sexo que bem quisesse. Também ficou permitido visita a motéis e a assistir filminhos de sacanagem durante a “trepada”. Era o libera geral. A partir dali, sempre que um pastor encontrava o outro, já não mais trocavam conhecimentos bíblicos. Em vez disso, comentavam os últimos lançamentos do cineasta David Cardoso e da pornô-star Cicciolina.
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(Nos Bastidores do Reino, Pág. 77 , Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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Como sobreviveria numa cidade como São Paulo alguém como eu? Chefe de família aos 23 anos, com o segundo grau incompleto e absolutamente nenhuma experiênciaprofissional. Que emprego me pagaria o salário que eu tinha na Universal? Eu tinha medo de sair e por isso ficava. Mas a única coisa que me prendia à Igreja era a covardia de tentar ir à luta. E a falta de amor próprio.
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(Nos Bastidores do Reino, Pág. 78 , Mario Justino, Ed.Geração Editorial)
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Autor: Mario Justino Ex-pastor da Igreja Universal do Reino de Deus




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