SEJA ÉTICO

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sexta-feira, 30 de agosto de 2019

"Enfim, te encontro"

Eu recebi este vídeo pelo whatsapp, e gostei muito. É uma cena da novela “Renascer”, exibida pela Rede Globo em 1993, em que o personagem padre Lívio, interpretado pelo ator Jackson Costa, declama um lindo poema “Enfim, te encontro”. Na novela, a autoria seria de uma criança pobre de Ilhéus, na Bahia, e que não sabia escrever. Mas, pesquisando na internet encontrei em várias páginas como a autoria sendo de Otávio Barbosa Júnior, irmão mais novo do autor da novela, Benedito Ruy Barbosa. Seja como for, é um lindo texto, e também muito bem interpretado pelo ator, que eu divido com vocês. fr

“Um dia me perguntaram, se em Deus eu acreditava.
Eu então lhes respondi da maneira que eu pensava
Entre a lua e as estrelas, num galope, num tropel,
Pisando nas nuvens brancas, eu vi Deus passar no céu…
Todo dia existe Deus
Num sorriso de criança,
No canto dos passarinhos,
Num olhar, numa esperança…
Na harmonia das cores
Na natureza esquecida,
Na fresca aragem da brisa,
Na própria essência da vida…
No regato cristalino,
Pequeno servo do mar,
Nas ondas lavando as praias,
Na clara luz do luar…
Na escuridão do infinito,
Todo ponteado de estrelas,
Na amplidão do universo,
No simples prazer de vê-las…
Nos segredos dessa vida,
No germinar da semente,
Nos movimentos da Terra,
Que gira incessantemente…
No orvalho sobre a relva,
Na passarada que encanta,
No cheiro que vem da terra
E no sol que se levanta…
Nas flores que desabrocham,
Perfumando a atmosfera,
Nas folhas novas que brotam,
Anunciando a primavera
Deus é a paz, a esperança
O alento do aflito,
É o criador do universo,
Da luz, do ar, do infinito…
Deus é a justiça perfeita
Que emana do coração!
Ao perdoar quem O ofende,
Ele é o próprio perdão!
Será que você não viu
O rosto calmo de Deus,
No colorido mais belo
Dos olhos dos filhos seus?
Eu sei que eu não me enganei
Em tudo o que lhes dizia!
Deus é a paz, é o amor,
Deus é a eterna poesia…
Deus é constante, é perene,
É divinal, de tal sorte,
Que, sendo a essência da vida,
É o descanso da morte…
Não há ida sem volta
E nem a volta sem ida.
A morte não é a morte,
É só a porta da vida…
No ciclo da natureza,
Nesse ir e vir constante,
No broto que se renova,
Na vida que segue adiante…
Em quem semeia a bondade,
Em quem ajuda o irmão,
Colhendo felicidade,
Cumprindo a sua missão…
No suor de quem trabalha,
No calo duro da mão,
No homem que planta o trigo,
No trigo que faz o pão…
Você pode sentir Deus
Pulsar em seu coração!…”

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Brasil tem 210 milhões de habitantes

            O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou ontem dia, 28, no Diário Oficial da União as estimativas da população brasileira. O Brasil tem 210.147.125 pessoas, tendo como data de referência 1º de julho de 2019. Há um ano, éramos 208.494.900, o que representa um aumento populacional de 0,79%, ou seja, 1.652.225 pessoas a mais. São Paulo é o estado com a maior população, são 45.919.049 pessoas; enquanto Roraima é o de menor, com apenas 605.761 pessoas. O estado do Rio de Janeiro está em terceiro lugar, com 17.264.943. Desde 1975, o IBGE divulga as estimativas populacionais dos estados e municípios, com a data de referência em 1º de julho. E desde 1992, publica os estudos no Diário Oficial da União, em cumprimento ao artigo 102 da lei nº 8.443/1992. fr

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Estátua de D. João VI

 
          O monumento a D. João VI (1767-1826) fica de frente para a Baía de Guanabara, próximo à estação das barcas, na Praça 15. Foi um presente do governo de Portugal à cidade do Rio de Janeiro, em 1965, no quarto centenário de sua fundação. Em março de 1808, vindo de Salvador, onde passaram pouco mais de um mês, D. João VI e a Corte portuguesa desembarcaram ali perto, onde hoje ainda tem o Chafariz do Mestre Valentim, construído em 1789, e do qual eu já escrevi aqui no meu blog, em 8 de novembro de 2016.
 
          A Corte de Portugal veio para o Brasil fugindo da iminente invasão das tropas de Napoleão. À época, João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança (ufa!) era o príncipe regente, assumindo o trono de rei de Portugal somente em 1816, com a morte da mãe, a rainha D. Maria I. A rainha, no entanto, já não mais governava desde 1792, quando foi declarada impedida devido a problemas mentais.
 
Mesmo após a deposição definitiva e o exílio de Napoleão, em 1815, o príncipe regente, futuro rei, resolveu permanecer no Rio de Janeiro, governando o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves até o seu retorno a Lisboa, em abril de 1821. Pressionado pelos deputados portugueses, que exigiram que ele voltasse a Portugal, D. João VI deixou o filho Pedro como regente, o representando no Brasil. Em setembro do ano seguinte, como se sabe, o Brasil se tornou independente e este se tornou o seu primeiro imperador, como D. Pedro I.
 
            A estátua de D. João VI é de bronze, e é de autoria do escultor Salvador Barata Feyo e do arquiteto Carlos Ramos, ambos portugueses. O monarca está montado em um cavalo, segurando um globo terrestre com a cruz de Cristo, que simbolizam a importância de Portugal na História mundial, por conta de seus navegadores, e a forte presença da Igreja no Estado. Em 1966, foi inaugurada na cidade do Porto, em Portugal, uma réplica da estátua que está na Praça 15, também voltada para o mar, para que as duas estivessem voltadas uma para outra. A intenção seria mostrar a forte ligação entre as duas nações. 
 
          Desde o dia 11 de junho de 2013, está colocado em frente ao monumento um moderno ‘QR code’, ou seja, um código de resposta rápida. Ele foi feito com 400 quilos das chamadas pedras portuguesas por calceteiros portugueses e brasileiros. Foi uma iniciativa de uma empresa de publicidade portuguesa, com o apoio da Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro.
 
          A pessoa pode ter acesso a informações sobre a estátua, bastando sobrepor a imagem do ‘QR code’ em um aplicativo próprio para este fim. Evidentemente, eu não achei necessário experimentar, mas fica a dica. Eu tenho que acrescentar que nem percebi a existência dele quando tirei as fotos, até porque não há nenhuma sinalização que chame a atenção. Somente quando li um pouco sobre a história do monumento na internet é que tomei conhecimento, e fiz questão de voltar lá para registrá-lo. (Fontes de referência: Wikipédia e Câmara Portuguesa do Rio De Janeiro.) fr

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

O Botafogo e o Estádio General Severiano

           O Botafogo tem o estádio Nilton Santos, que é arrendado à prefeitura do Rio de Janeiro. Mas, o clube já teve um estádio próprio. Era o estádio que ficava na própria sede de General Severiano, e que tinha justamente este nome. Ele foi construído em 1912, e o seu primeiro jogo oficial ocorreu no ano seguinte, no dia 13 de maio, com a vitória alvinegra sobre o Flamengo por 1x0, gol de Mimi Sodré, pelo Campeonato Carioca. O casarão da sede, onde fica a tradicional sala de troféus do clube, foi inaugurado em 1928. 
 
Em 1938, o estádio foi ampliado, passando a ter uma arquibancada de cimento, e no jogo amistoso de reinauguração, o Botafogo venceu o Fluminense por 3x2. (Coincidentemente, o Botafogo venceu também o Fluminense no jogo de inauguração do Estádio Nilton Santos, à época ainda chamado de João Havelange, em 2007, por 2x1, dessa vez pelo Campeonato Brasileiro.)
Até a construção do Maracanã, o Botafogo jogava muito no estádio de General Severiano. O Botafogo foi campeão carioca duas vezes em seu estádio. Em 1934, vencendo o Andarahy, por 2x1. E em 1948, com o estádio com sua lotação máxima de 20 mil lugares totalmente ocupado, vencendo o Vasco da Gama por 3x1. Por General Severiano passaram vários craques botafoguenses. E foi lá que Garrincha treinou pela primeira vez, em 1953.
Em 1976, na gestão do então presidente do clube Charles Borer, o terreno da sede foi vendido para a Companhia Vale do Rio Doce, por conta da enorme dívida que o clube tinha com a União. (Uma curiosidade: o irmão do presidente Charles Borer, Cecil Borer, foi policial e é citado no livro “Cidade Partida”, de Zuenir Ventura, como tendo sido “símbolo da tortura” na primeira fase do golpe militar de 1964.) A dívida do Botafogo no início daquele ano era superior a 48,6 milhões de cruzeiros (uma situação bem parecida com a de 2019!, só que em reais). Em matéria de 1977, a revista 'Placar' detalhava a situação:
“Após avaliação do terreno pela Bolsa de Imóveis do Rio, o Botafogo vendeu sua área de 18.752m² no quarteirão das ruas General Severiano e Venceslau Brás e Avenida Lauro Müller à Vale do Rio Doce por 90 milhões de cruzeiros. Desse total, 58,4 milhões foram pagos em dinheiro, enquanto 31,6 milhões foram representados por quatro pavimentos num imóvel no centro da cidade, o edifício Clube da Aeronáutica, com 16 vagas na garagem (após a transação, o Botafogo alugou os quatro andares à própria Vale, obtendo assim uma receita mensal de 316 mil cruzeiros). Dos 58,4 milhões em dinheiro, porém, o clube só pôde ficar com uma parte, pois 48,6 milhões foram no mesmo ato transferidos à Caixa Econômica Federal.” 
          O estádio General Severiano foi demolido. O casarão somente não foi abaixo para a construção da nova sede da Vale do Rio Doce por conta da mobilização de torcedores. Eles conseguiram o tombamento do prédio no Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria do Município do Rio de Janeiro, através da lei nº 477, de 15/12/1983. O Botafogo passou a treinar e jogar em um estádio em Marechal Hermes, e depois no Estádio de Caio Martins, em Niterói. E a área administrativa e a diretoria se mudaram para o Mourisco Pasteur e, depois, para o Mourisco Mar, de sua propriedade, também no bairro de Botafogo.
          O Botafogo somente conseguiu voltar a General Severiano em 1994, graças à sua troca com a Companhia Vale do Rio Doce pela área do seu ginásio coberto no Mourisco, na Praia de Botafogo. Mas, o antigo estádio ficou apenas nos registros históricos e nas lembranças dos mais idosos. No ano seguinte, o clube inaugurou um complexo esportivo, com o casarão reformado e novamente como sede administrativa.

          Foram construídos um campo de futebol para treinamento, três piscinas sociais e uma semi-olímpica, um ginásio para 1.500 pessoas, quatro quadras poliesportivas e um hotel-concentração para os atletas. Em 2004, o clube reformou e ampliou o espaço, inaugurando o Centro de Treinamento João Saldanha. Eu já estive em General Severiano algumas vezes, mas pretendo arrumar um tempo para voltar lá e publicar fotos aqui no meu blog. (Fontes de referência: página oficial do Botafogo; Wikipédia; e revista ‘Placar’ nº 354, 4/02/1977, p. 19 a 21, Maurício Azedo, “A luta por uma relíquia. O Botafogo perde o campo. Mas pela sede há uma guerra”.) fr 

sábado, 24 de agosto de 2019

Qualidade do jornalismo brasileiro vem caindo muito

 
Reportagem de hoje, no facebook: "Bombeiros do rio podem auxiliar no combate à incêndios na Amazônia" Como é que podem errar tanto em uma chamada tão curta? É "Rio", com letra maiúscula, nome de uma cidade. E o "a" não tem crase. Este é o resultado de terem conseguido acabar com a obrigatoriedade do diploma de jornalista. As empresas de comunicação economizam com os salários, e contratam qualquer um para ser "jornalista". E esses "jornalistas" ainda estão fazendo propaganda quando dão alguma notícia, o que viola o Código de Ética da profissão. Depois da morte do Ricardo Boechat, a BandNews está descendo ladeira, uma pena! fr

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Em jogo da Libertadores de 1981, árbitro carioca expulsa 5 do Atlético Mineiro para o Flamengo se classificar


          É discussão comum na mesa de bar ou similares, em qualquer lugar do mundo, falar que o seu time foi roubado pelo árbitro. Discussão que gera debates acalorados e sempre sem chegar a uma conclusão que agrade a todos. Mas se tem um jogo que parece ter se aproximado mais do consenso, este é o polêmico jogo de 21 de agosto de 1981, há exatos 38 anos, pelo grupo 3 da fase de grupos da Copa Libertadores da América daquele ano.
 
O Flamengo desclassificou o Atlético Mineiro, e foi para a semifinal, acabando depois sendo campeão. Os clubes paraguaios Olimpia e Cerro Porteño também faziam parte do mesmo grupo. Ainda em 1981, o Flamengo disputou e venceu em jogo único no Japão, o Liverpool, e foi campeão da Copa Toyota, também chamada Intercontinental de clubes, que nem existe mais. A mesma que os flamenguistas querem chamar de “Mundial”. 😄 😄 😄    
          O jornal inglês “The Guardian”, um dos mais respeitados e tradicionais do mundo, em coluna semanal em que responde perguntas de seus leitores, em março de 2017 analisou o jogo. E citando o livro "Club Soccer 101", de Luke Dempsey, qualificou o que aconteceu aquele dia como “uma farsa”.
          Para quem não conhece a história, vou relembrar. O jogo foi realizado no estádio de Serra Dourada, em Goiânia, estádio neutro. Estava sendo decidido quem passaria à semifinal da competição, já que Flamengo e Atlético Mineiro terminaram a fase empatados com 8 pontos. Os dois primeiros jogos entre eles terminaram empatados em 2x2. O primeiro jogo foi em 3 de julho, no Mineirão, e o segundo em 7 de agosto, no Maracanã.

A polêmica começou logo antes do apito inicial. O árbitro do jogo, o carioca José Roberto Wright (foto), viajou para Goiânia no mesmo avião do Flamengo. E, pior, hospedou-se no mesmo hotel do clube do Rio de Janeiro. Logo aos 10 minutos do primeiro tempo, Wright deu cartão vermelho a Reinaldo, principal jogador do clube mineiro, em uma falta considerada normal que ele fez em Zico. Logo depois, foi a vez de Éder a ser expulso.
Além dessas duas expulsões, quatro outros jogadores do Atlético já tinham recebido cartão amarelo nos 30 primeiros minutos do primeiro tempo. Aos 34 minutos, Wright expulsou, então, mais dois do Atlético Mineiro: Palhinha e Chicão. A partir daí uma confusão generalizada se instalou no campo, com a invasão dos dirigentes atleticanos, da imprensa e a presença da polícia, e o jogo teve que ser paralisado.
Wright expulsou também todos os reservas do Atlético Mineiro. Uma confusão mesmo! Após o jogo ter sido reiniciado, os jogadores de Minas estavam revoltados, e começaram a cair em campo. Osmar Guarnelli foi o quinto expulso. Depois disso, o árbitro encerrou o jogo, ainda aos 37 minutos do primeiro tempo, já que só restaram seis jogadores do lado do Atlético Mineiro, e nenhum reserva para substituir qualquer eventual contundido.
Mas, mesmo com o adversário sendo enfraquecido com a expulsão de seus jogadores, o Flamengo não conseguiu fazer nenhum gol, e o jogo terminou empatado em 0x0. Apesar de toda a confusão, e o descontrole visível do árbitro José Roberto Wright, o clube carioca foi declarado vencedor pela Conmebol, passando à próxima fase da Libertadores.
Telê Santana, treinador da seleção brasileira nos Mundiais de 1982 e 1986, foi comentarista convidado da TV Globo neste jogo, e afirmou que José Roberto Wright estava extremamente nervoso, e foi o responsável por estragar a decisão. Este jogo, então, passou a ser apontado como o maior roubo do futebol brasileiro, e um dos maiores do futebol mundial. Muitos torcedores espalhados pelo Brasil costumam rir, e chamar, de forma irônica, a Libertadores de 1981 de “Copa Wright”. Ou então dizer que ele foi o grande destaque do time do Flamengo daquela competição.
Em dezembro do mesmo ano, o Flamengo disputou no Japão um único jogo com o Liverpool, da Inglaterra. Venceu por 3x0, e foi campeão da Copa Toyota, empresa patrocinadora do torneio. Por pressão da UEFA e da Conmebol, a FIFA resolveu, em 2017, reconhecer os vencedores da extinta Copa Toyota como “campeões mundiais”. Mesmo a Copa Toyota sendo disputada em um único jogo; com a presença apenas de duas seleções, da Europa e da América do Sul.
           Enfim, pode até ter sido reconhecida pela FIFA para pôr fim às pressões que sofria, mas a Copa Toyota não chega a ter o mesmo reconhecimento pelo grande público, como um Mundial organizado pela FIFA e com a participação das melhores seleções de todos os continentes. E especificamente em 1981, por causa da maneira como o Flamengo conseguiu a classificação para a semifinal da Libertadores. Não dá para relevar tudo isso. Paixões à parte, é evidente que aquele jogo de agosto de 1981 ficou como uma mancha na campanha rubro-negra. fr 

terça-feira, 20 de agosto de 2019

"O professor e o demente"

“O professor e o demente: uma história de assassinato e loucura durante a elaboração do dicionário Oxford”, Simon Winchester; tradução de Flávia Villas-Boas, Rio de Janeiro, Record, 1999, 256 páginas.

Baseado em uma história real, o livro mostra o encontro de duas pessoas consideradas brilhantes, mas de personalidades e destinos bem distintos, ligadas pelo interesse comum das letras. Em 1879, o professor James Murray assumiu o ambicioso projeto de organizar o dicionário completo da língua inglesa para a Universidade de Oxford, iniciado 27 anos antes. Diante da dimensão do desafio, ele divulgou pelas livrarias inglesas uma convocação a quem se dispusesse a ajudar, selecionando e enviando vocábulos, com seus significados e registros mais antigos.
Um dos que se interessaram a ajudar foi o ex-capitão-cirurgião do Exército dos EUA, William Minor, que chegou a enviar milhares de palavras, com muita organização e um método de pesquisa próprio. Sua participação no trabalho destacou-se, por ser meticulosa e detalhista, sendo de enorme importância para Murray. Como Minor nunca comparecia aos eventos para os quais os principais colaboradores eram convidados, Murray resolveu, então, visitá-lo no endereço de suas correspondências. A sua surpresa foi descobrir que aquela pessoa tão culta e participativa era interna de um manicômio judicial. E que estava presa por ter assassinado um homem anos antes, no dia 17 de fevereiro de 1872.
Em termos gerais, posso dividir o livro em duas partes. Uma delas, pela qual menos me interessei, é sobre a descrição que o autor faz da importância do dicionário de Oxford para os ingleses. A divulgação do idioma pelo mundo, e, consequentemente, a ajuda que deu à presença do comércio inglês em todo os continentes. Isso deve interessar mais aos ingleses, claro. A outra, é a que aborda o aspecto humano, e a vida dos dois homens, principalmente do ex-médico louco. Se o livro tivesse dado bem mais espaço a ela, eu teria achado o livro bem mais interessante.
Seguem algumas revelações do enredo do livro:
Minor era um cirurgião, de família rica e tradicional, formado na prestigiosa faculdade de Yale. Ele se alistou voluntariamente na Guerra de Secessão nos Estados Unidos, em 1863. À época, os soldados que desertavam eram rigorosamente punidos quando capturados. Como médico, ele foi designado para executar a punição a um desertor irlandês, marcando o seu rosto com ferro. Esta é apontada como a possível causa para ele ter enlouquecido, ou seja, os horrores da guerra. Chegou a ser internado em um hospício nos Estados Unidos, mas foi liberado, viajando para Londres.
Ele passou a desenvolver uma ideia fixa de estar sendo perseguido por irlandeses, que estariam querendo se vingar pelo que ele fez com o seu compatriota na guerra. Acreditava que o seu quarto era invadido à noite, e ele era molestado. Em uma noite, acreditando ter visto um invasor, foi para a rua persegui-lo, e acabou matando um inocente. Foi julgado como maluco, condenado e internado em um manicômio judicial, onde passou quase 40 anos de sua vida.
Por conta de receber uma boa quantia, através do pagamento de sua reforma militar, Minor gozava de alguns privilégios. Era autorizado a encomendar livros, sua paixão; enviar cartas; pagar para outro interno fazer suas tarefas; e dedicar-se à pintura e a tocar flauta.  Isto durou até a aposentadoria do superintendente do manicômio judicial, e a sua substituição por outro, mais rígido e disciplinador.
O professor James Murray dedicou-se ao projeto de organizar um dicionário completo da língua inglesa, o‘Oxford English Dictionary’ (OED), até a sua morte, em 1915. Foi um trabalho enorme, que levou mais de 70 anos para ser concluído, e teve a sua primeira edição dividida em 12 volumes, em 1928. Além de informar o significado de cada palavra, a intenção foi determinar como e quando ela foi incorporada ao idioma pela primeira vez, incluindo a citação do trecho literário do seu registro mais antigo. Após a publicação do dicionário, inúmeros leitores encontraram registros ainda mais antigos dos que estavam na publicação, sendo “35 mil” deles apenas na Alemanha, onde chegaram a fazer concursos para descobrir esses registros.
Os dois personagens desenvolveram uma amizade que durou 30 anos, encontrando-se dezenas de vezes durante este tempo. O amor aos livros uniu os dois. Para o ex-médico, a colaboração ao projeto do dicionário serviu como um tratamento não prescrito por médicos, pois se tornou sua principal ocupação. Em 1910, após quase 40 anos internado no manicômio judicial na Inglaterra, doente e já sem colaborar mais com o dicionário, Minor foi transferido para uma instituição psiquiátrica em Washington, a pedido do irmão. A transferência foi autorizada pelo então secretário do Interior, Winston Churchill, que viria a se tornar anos mais tarde primeiro ministro. O livro deu origem ao filme “O Gênio e o Louco”, com os atores Mel Gibson e Sean Penn, que entrou em cartaz no início deste ano, e que eu pretendo assistir, claro. fr

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Mural em homenagem a Ayrton Senna

 
Passando próximo aos Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro, as pessoas podem admirar um lindo mural em homenagem ao tri-campeão mundial de Fórmula-1, Ayrton Senna. Eu já tinha passado por ele várias vezes, mas quinta-feira passada, dia 15, eu resolvi ver de perto (veja minhas fotos, abaixo). O nome da obra é “Talento e Superação”, tem aproximadamente 7 metros por 15, e foi pintado pelo artista brasileiro Eduardo Kobra, em agosto de 2016. O painel de Senna já está com desgaste do tempo, precisando de uma reforma, mas ainda encanta quem passa por lá. Mas, seria ótimo se fizessem uma manutenção urgente.

A imagem é de Senna, com dores, tentando levantar o troféu do Grande Prêmio que venceu no Brasil, em 24 de março de 1991, no circuito de Interlagos. Naquela corrida, ele teve que conduzir nas últimas voltas o seu carro com apenas a sexta marcha, já que as demais quebraram, o que lhe exigiu um grande esforço físico. Ao terminar a prova, ele estava exausto e sentindo muitas dores, sem forças até mesmo para levantar o troféu. Em 1991, Senna conquistou o seu terceiro título mundial na Fórmula-1, e dois anos depois venceu mais um Grande Prêmio Brasil.

Kobra já pintou murais em vários países, incluindo o maior grafite do mundo, registrado no Livro Guiness Mundial, com quase 3 mil metros quadrados. O mural “Etnias” foi pintado na fachada de um armazem no chamado Boulevard Olímpico, no Centro, com 15 metros de altura e 170 metros de comprimento, na época dos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. fr





domingo, 18 de agosto de 2019

Morte de Euclides da Cunha completa 110 anos, e jogador do Botafogo teve carreira encurtada

          Em matéria de quinta-feira, dia 15, assinada por Sergio Santana, o jornal Lance! registra os 110 anos do falecimento do escritor e jornalista Euclides da Cunha. E destaca uma curiosa ligação deste histórico acontecimento com o Botafogo. Após descobrir a traição da esposa, Anna de Assis, com o jovem estudante da Escola Militar Dilermando de Assis, Euclides invadiu a casa alugada no bairro de Piedade onde os dois se encontravam, e atirou nele. Acertou um tiro em Dilermando, mas este, armado, conseguiu reagir, e Euclides acabou morto. Dilermando foi julgado inocente, como tendo agido em legítima defesa.
 
Mas o que relaciona esta tragédia de 15 de agosto de 1909 ao Botafogo é o fato do irmão de Dilermando, Dinorah de Assis, jogador do clube, ter sido atingido nas costas na troca de tiros, ao tentar proteger Dilermando. Dinorah jogava como zagueiro, recuperou-se e jogou os 30 minutos finais contra o Fluminense, cinco dias depois, com a bala no corpo, já que ela não foi retirada (a matéria não esclarece a razão). Nesse jogo, ele atuou como atacante e o Botafogo perdeu por 2x1. Mas, Dinorah foi campeão estadual pelo Botafogo em 1910, tendo feito dois gols na campanha vitoriosa.
           A bala em seu corpo lhe causou um grande mal à saúde, fazendo com que ele perdesse progressivamente os movimentos. Dinorah ainda tentou mudar de posição, jogando como goleiro, mas acabou sendo obrigado a encerrar a carreira em 1911. Amargurado com os problemas físicos, e por ser visto pela imprensa como vilão, com o irmão, na morte de um escritor famoso como Euclides da Cunha, passou a beber. A sua saúde piorou ao contrair sífilis. Em 1913, a bala foi, enfim, retirada do seu corpo. Passou a viver nas ruas, não tendo onde morar. Dinorah, com paralisia de metade do corpo, tentou o suicídio algumas vezes. Voltou para Porto Alegre, sua cidade natal, em 1916, e acabou se matando em 1921, afogando-se no Rio Guaíba.
 
Comentário: Dinorah teve sua vida encurtada pela tragédia da morte de Euclides da Cunha, por conta de ser irmão do amante da esposa do ilustre escritor. Como jogador, teve a honra de ser imortalizado por participar do título do Botafogo de 1910. Não fosse o tiro que levou, provavelmente poderia ter seguido sua carreira e conseguido outras conquistas. Pode-se dizer que foi a maior vítima daquele dia, há 110 anos. fr

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Livros de Dostoiévski

 
            Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski (1821-1881), ou Фёдор Миха́йлович Достое́вский, em russo, nasceu em Moscou, foi escritor, filósofo e jornalista. É considerado um dos mais importantes escritores de todos os tempos. E foi justamente toda essa fama e reconhecimento que me estimulou a ler algo seu. Eu li, recentemente, dois livros de Dostoiévski: “Crime e Castigo” e “Os Irmãos Karamazov”, e vou comentar um pouco das minhas impressões sobre essas leituras. Não chego a indicar os livros, são estórias contadas em parágrafos longos, arrastados, pesados, sem agilidade na leitura. Eu sei que o autor tem muitos admiradores, que adoram os seus livros, espero que não me levem a mal... 😉

Apenas para ilustrar um pouco, vou escrever um resumo da vida de Dostoiévski, que eu pesquisei na Wikipédia Ele foi preso aos 27 anos sob a acusação de participar de um grupo radical que estaria conspirando contra o czar Nicolau I, e condenado à morte. Às vésperas de ser executado junto com outros presos, o imperador perdoou muitos deles, incluindo Dostoiévski, porém fez questão que fosse simulada a execução. Os condenados foram levados ao local do cumprimento da pena, ouviram as sentenças serem lidas em voz alta, três deles chegaram a ser amarrados aos postes, mas quando o pelotão ia atirar, a execução foi interrompida. (Cruel!)

Dostoiévski teve sua pena alterada para oito anos de trabalhos forçados na Sibéria, e, mais tarde, reduzida para quatro anos. Posteriormente foi transformada em serviço militar no Exército russo por tempo indefinido; passando quatro anos em uma fortaleza no Cazaquistão. Casou-se com a viúva Maria Dmitriévna, em 1857, e, após ser diagnosticado com epilepsia, conseguiu ser dispensado do Exército para tratamento da saúde, em 1859. Alguns dos personagens de seus livros têm essa doença, como Smerdiákov, em “Os Irmãos Karamazov”.

Conseguiu retornar para São Petersburgo, voltando a publicar artigos, contos e seus livros, além de revistas literárias, com o irmão, Mikhail. Em 1862, fez sua primeira viagem pela Europa, passando por Alemanha, Bélgica, França e Inglaterra, quando começou a jogar em roleta, viciando-se no jogo, e consequentemente, a se endividar. Dostoiévski jogava sempre que viajava. Em 1864, a esposa morreu de tuberculose, e, no mesmo ano, morreu também o irmão.

“Crime e Castigo” era para ser um conto, mas Dostoiévski acabou transformando-o em uma de suas principais obras. Os seus dois primeiros capítulos foram publicados na revista “O Mensageiro Russo” nas edições de janeiro e fevereiro de 1865. Os capítulos seguintes tiveram o interesse do público aumentado por causa do assassinato, em janeiro de 1866, de um agiota e de seu criado por um jovem estudante com o objetivo de roubar o seu apartamento. A revista, inclusive, conseguiu mais novos 500 assinantes nos meses seguintes. A história real desse duplo assassinato tem muita semelhança com a do livro.

Em 1867, aos 46 anos, Dostoiévski casou-se com Anna Grigoryevna Snitkina, de 20 anos, a quem ele tinha contratado como estenógrafa, para acelerar a publicação de seus livros. Para fugir dos credores, ele resolveu viajar pela Europa com a esposa por alguns meses, mas acabaram ficando quatro anos fora da Rússia. E, para piorar, endividou-se ainda mais na roleta, perdendo muito do seu dinheiro, e o da esposa. Na Suíça tiveram a primeira filha, Sônia, que acabou morrendo com apenas dois meses, vítima de uma gripe. O casal viria a ter três outros filhos: Liubov, Fiódor e Aleixo. Em 1871, retornaram à Rússia. Dostoiévski morreu no dia 28 de janeiro de 1881, vítima de enfisema e hemorragia pulmonar, e o seu enterro foi acompanhado por uma multidão de aproximadamente 30 mil pessoas.

Agora, vou comentar o que eu achei dos livros. Os dois são grossos, e eu achei a leitura deles difícil; são longos parágrafos, muito detalhados, o que a torna mais demorada.

Crime e Castigo”, São Paulo, editora 34, 2001, 568 páginas; tradução, prefácio e notas de Paulo Bezerra; gravuras de Evandro Carlos Jardim.

Atenção, a seguir vou escrever informações sobre o final deste livro, então, quem não quiser saber antecipadamente, pare aqui!

O livro foi lançado em 1866. A edição que eu li é a primeira tradução do original para o idioma português, as demais foram traduções do francês. Raskólnikov é um estudante de 23 anos, que teve de interromper os estudos por falta de dinheiro, vivendo em péssimas condições, devendo à pensão onde morava, passando fome e dependendo da ajuda da mãe e da irmã, também pobres.

Ele acredita que as pessoas estão divididas em ‘extraordinárias’ e ‘ordinárias’, sendo permitido às primeiras cometer crimes, sem serem punidas. E resolve, assim, matar sua locadora, Aliena Ivánovna, uma agiota, premeditando o crime por mais de um mês. Mas acaba matando também a irmã dela, Lisavieta, por ela ter visto Aliena morta. O próprio Dostoiévsky teve que lidar com agiotas, inclusive tendo que pagar 500 rublos em promissórias por uma dívida do irmão, depois que este faleceu.

Raskólnikov se baseia nos exemplos históricos para justificar sua opinião. Segundo ele, Napoleão foi responsável pela morte de milhares de pessoas, e, mesmo assim, é considerado um líder, respeitado no mundo todo. Então, ele resolve matar uma agiota, que explora as dificuldades das pessoas, o que, para ele, não seria um crime. Após matar as duas irmãs, ele roubou um estojo de joias e outros objetos de valor que a locadora recebia em penhora, escondendo-os. A sua motivação não era se aproveitar do dinheiro em benefício próprio. A sua intenção era usar o dinheiro da venda dos objetos roubados em melhorias para a cidade, mas acabou nunca os recuperando.

Ele quis matar para saber se tinha a capacidade de ousar, de ultrapassar limites, para se colocar à prova: “o poder só se deixa agarrar por aquele que ousa inclinar-se e toma-lo”. Raskólnikov passou a sofrer bastante com o remorso e o medo de ser descoberto, adoecendo e se descontrolando emocionalmente. A polícia investigou o duplo assassinato, seguido de roubo, fazendo com que Raskólnikov se atormentasse cada vez mais.

Como trama paralela, a sua irmã, Dúnia, foi assediada por Svidrigáilov, na casa de quem trabalhava como governanta, sendo expulsa pela esposa dele, Marfa. Mais tarde, Svidrigáilov arrependeu-se e confessou o que fez. Dúnia conheceu um pretendente, Piotr Pietróvitch, com quem pretendia casar, mas Raskólnikov não aceitou o casamento, por achar que ela estaria se sacrificando para ajudá-lo. Após conhecer em um bar Marmieládov, um ex-funcionário público, demitido por ser alcoólatra, Raskólnikov se aproximou de uma de suas filhas, Sônia, que se prostituía para ajudar a família. Confidenciou a ela o seu crime, mas Svidrigáilov, em um quarto ao lado, ouviu a confissão.

Svidrigáilov contou a Dúnia o que ouviu, e propôs a ela que se casassem e viajassem para fora da Rússia para salvar o seu irmão. Ela não aceitou, e insistiu com Raskólnikov para que ele se entregasse à polícia. Pressionado pelo juiz de Instrução, Porfíri, que prometeu a ele comprovar sua culpa, Raskólnikov resolveu se entregar, mesmo não reconhecendo ter cometido algum crime. Defendia que matara apenas um “piolho nojento, nocivo, uma velhota usurária, que não faz falta a ninguém. Quem mata esse ladrão tem cem anos de perdão! Que sugava a seiva dos pobres, isso lá é crime?”

Raskólnikov acabou preso, e condenado a oito anos de trabalhos forçados na Sibéria, uma das semelhanças com a vida do autor, Dostoiévski. Sônia o acompanhou. Curiosidade: a mãe de Raskólnikov, de apenas 43 anos, é descrita no livro como já na velhice. À época, a expectativa de vida não era muito longa.

Os Irmãos Karamazov”, Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski, s/l, Nova Cultural, 1995, ‘Imortais da Literatura Universal’, 590 páginas, tradução de Enrico Corvisieri.

O livro foi lançado em 1881, e é o último romance de Dostoiévski. É narrado em primeira pessoa por alguém que teria presenciado os fatos, mas que não é identificado. A estória é sobre uma família extremamente desunida e problemática. Fiódor Pávlovitch é um pai ausente e desinteressado pelos filhos. Casado duas vezes, nunca tratou suas esposas com respeito e amor. A primeira delas, de família nobre, o abandonou com um amante, deixando um filho ainda criança, Dimítri, que acabaria sendo criado por um servo, e, depois, por parentes. A segunda esposa morreu. Com ela, Fiódor teve os outros dois filhos: Ivã e Alieksiéi.

A estória trata justamente das desavenças da família Karamazov. Inconformado por ter sido enganado pelo próprio pai na divisão da herança de sua mãe, Dimítri resolve reivindicar o ressarcimento pelo prejuízo. E, para piorar, ele e o pai se interessam pela mesma mulher. Após uma tentativa fracassada de reconciliação entre a família, Dimítri agride o pai, e o ameaça de morte. Quando Fiódor Pávlovitch é morto, e uma quantia em dinheiro desaparece de sua casa, ele é preso, como o grande suspeito. Fica aqui o registro desses dois clássicos da literatura russa e mundial. fr