Uma das mais antigas e tradicionais ruas do país, a Rua Direita, atual Primeira de Março,
no Rio de Janeiro, ligava o antigo Morro do Castelo (demolido em 1921) ao
Mosteiro de São Bento, unida à então Rua da Misericórdia. Foi, no século 16,
muito usada pelos mercadores de escravos, à época apenas uma trilha. E a
primeira rua a utilizar numeração de seus imóveis no Brasil. Atualmente, esse
caminho tem a Rua Primeiro de Março e em seu prolongamento a Av. Presidente
Antônio Carlos.
Nos primeiros anos do período de colônia, a rua tinha
construções apenas no lado ímpar porque do outro lado era voltado para a praia,
e deveria ter o acesso para embarque e desembarque desobstruído. Mais tarde,
prédios também passaram a ser erguidos no lado par.
Neste registro fotográfico que eu fiz, vamos partir do seu
início. A Cadeia Velha¹, onde
Tiradentes esteve preso durante os últimos anos de vida, no Século 17, e deu
lugar ao Palácio Tiradentes, atual
sede da Assembleia Legislativa. Ao seu lado, a Igreja de São José, na Presidente
Antônio Carlos. O Convento do Carmo²,
onde residiu a rainha Maria I nos seus últimos anos de vida. O atual Paço Imperial3, cuja
construção teve início a partir de dois prédios que abrigavam o Armazém del Rey
e a Casa da Moeda, utilizada para a fundição do ouro vindo das Minas Gerais,
foi concluído em 1743. Com a vinda da família real em 1808, o
Paço passou, ao longo do tempo, a ser residência eventual da família real e
local onde o Rei e os futuros Imperadores (D. Pedro I e II) despachavam.
A Rua Direita passou a ser local de um comércio elegante,
com confeitarias, cafés e restaurantes. Foi lá também que D. João VI abriu o
primeiro banco brasileiro, embrião do Banco do Brasil. O
antigo nome deveu-se justamente a ser um caminho que levava "direto"
de um lado a outro. A atual denominação foi uma homenagem ao fim da Guerra do
Paraguai, ocorrida no dia 1º de março de 1870, com a morte do presidente paraguaio
Solano López. Assim que a notícia chegou ao Rio de Janeiro, em torno do dia 15,
as pessoas festejaram o término da guerra, que se estendeu por mais de cinco
anos, e foram ao Paço Imperial saudar D. Pedro II, que acenou de uma das
janelas do palácio, ao lado da esposa, D. Teresa Cristina. Os dois desceram e
caminharam a pé pela então Rua Direita com o povo. A Rua Primeiro de Março tem,
portanto, participação inestimável na História do Rio de Janeiro e do Brasil.
Continuando, vê-se o Largo
do Paço4, e, atravessando a rua, duas igrejas, lado a lado,
separadas por um portão: a Igreja de
Nossa Senhora do Carmo5 (esquerda), antiga Catedral da cidade, e
onde foram realizados os casamentos de D. Pedro I com D. Amélia Augusta, em
1829, e de D. Pedro II, com D. Teresa Cristina, em 1843; e a Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora
do Monte do Carmo5 (direita).
O Beco dos Barbeiros6,
surgido no século 18, e onde trabalhavam os chamados
"cirurgiões-barbeiros", indivíduos autorizados a atuar em atividades
que iam de cortar cabelo e fazer a barba a arrancar dentes e aplicar
sanguessugas (o bicho mesmo!) para conter sangramentos, em uma época que não
existia anestesia e a "medicina" era muito pouco evoluída. Localizada
mais à frente, a tradicional Casa
Granado7, em cuja fachada está inscrito o ano de 1870, ano
também da fundação da empresa.
A Igreja de Santa Cruz dos Militares8, reconstruída entre os anos de 1780 e 1811, e que
teve a presença do príncipe regente D. João na sua reinauguração. O Centro Cultural da Justiça Eleitoral9,
antiga sede do Supremo Tribunal Federal (STF), mas fechado há anos, uma
pena! A agência dos Correios10
e o CCBB (Centro Cultural Banco do
Brasil)11, aonde eu costumo ir para ver exposições de grandes
artistas. A Escola de Cinema Darcy
Ribeiro12, e o Túnel
Rio45013, recentemente inaugurado, no dia 1º de março deste ano,
com as presenças da presidente Dilma Rousseff, do governador do estado e do
prefeito do Rio de Janeiro. Prédios
antigos14 destacam-se em meio aos vizinhos, mais modernos.
E, no fim, o prédio onde está instalado o Primeiro Distrito Naval15; à
esquerda, o menor também pertence à Marinha, mas já fica localizado na Praça
Barão de Ladário s/nº. Pela sua enorme relevância histórica, a Rua Direita
chegou a estampar o verso da nota de Cz$
1.000 (1000 cruzados), que
depois virou NCz$ 1 (um
cruzado novo), com o escritor Machado de Assis na frente da cédula, tendo circulado de 1987 a 1990. Assim,
termino o passeio pela histórica Rua Primeiro de Março, com um belo registro
fotográfico dos seus principais pontos. Um abraço! fr
Nenhum comentário:
Postar um comentário