Os movimentos populares
que vêm levando milhares de pessoas às ruas começou com aparentes
desimportantes passeatas de dezenas, depois poucas centenas de estudantes
contra o aumento das tarifas de ônibus. Mas, rapidamente essas passeatas se
encorparam, ganhando o apoio da população. Ontem, cem mil pessoas ocuparam a
Avenida Rio Branco, no Centro do Rio de Janeiro. Muitas delas, trabalhadores de empresas localizadas nas proximidades. Isso me enche de satisfação e alegria. Ver que as pessoas estão se
mobilizando, independente de partidos políticos, em defesa de ideais, é muito
legal. As passeatas são contra o aumento das passagens de ônibus, por conta da
péssima qualidade do serviço oferecido: ônibus sujos, sem higiene, sem conforto
e sem segurança. O serviço oferecido não justifica aumento nenhum. Mas as
passeatas são também contra a insensibilidade dos nossos políticos, contra a
corrupção, contra a falta de educação, saúde e segurança. Eu passei pela Rio
Branco ontem à noite, voltando do trabalho, quando ela já estava cheia e me deu
vontade de ir me juntar às pessoas. Mas, depois de um dia de trabalho, o
cansaço foi mais forte. Infelizmente, entre as centenas de milhares de
manifestantes que fizeram um bonito movimento cívico, estava infiltrada uma
minoria de vândalos, de bandidos. Hoje, pela manhã, ao chegar no Centro do Rio,
vi lojas com vidros quebrados, algumas saqueadas, e a Igreja São José, o Paço
Imperial e a Assembleia Legislativa, por exemplo, pichados. Lamentável! Mas,
esses que fizeram isso, não são manifestantes, são bandidos. Eles têm que ser
presos, fichados, e é preciso averiguar quem está por trás deles, quais os seus
interesses. Muito provavelmente, são pessoas que querem desestabilizar o
movimento popular, e provocar o medo na população. Vi também na televisão, que
em outras cidades, como São Paulo e Belo Horizonte, vem ocorrendo o mesmo. O
povo vai às ruas protestar. E uma minoria prefere depredar, agredir policiais,
e partir para o confronto. A polícia, infelizmente, também não tem sabido lidar com as
manifestações. No início, partiu para a repressão. Não é o seu papel. Ela tem
que acompanhar os movimentos, garantir a segurança das pessoas que estão
protestando, e assegurar a tranquilidade para todos, inclusive para os que não
participam deles. E reprimir somente a ação dos bandidos que partem para o
vandalismo. Mas, enfim, os protestos populares começam a fazer efeito. O
prefeito de Porto Alegre já se manifestou no sentido de reduzir a tarifa de ônibus.
O de São Paulo, do Rio de Janeiro e de outras cidades também. Afirmam que será necessário
reduzir impostos para as empresas de transporte público. Se podem fazer, como vão
fazer, a pergunta é: por que já não fizeram antes? Por que os nossos políticos
preferem ser tão insensíveis ao povo? Isso confirma que é necessário que o povo
saia às ruas protestar sempre que necessário, de forma organizada, coesa e pacífica,
para conseguir as mudanças que deseja. E confirma o que todos minimamente informados já
sabem há muito tempo. O povo brasileiro não está satisfeito com os nossos políticos,
sejam eles de que partido político forem. O Brasil é uma das maiores economias
do mundo, mas o povo não tem saúde, educação, transportes públicos e segurança
de qualidade. Uma vergonha! O povo não quer estádios de futebol modernos, nem
trem-bala. Antes, nós queremos ser tratados como cidadãos, como seres humanos,
com respeito e dignidade! Espero que os movimentos que começaram a levar o povo
às ruas novamente não parem. E já penso seriamente em me juntar a eles. Lembro
que participei de alguns movimentos cívicos, na época em que estava na
faculdade. Foi na época das eleições para governador do Rio de Janeiro, em 1986, quando
fui a comícios na Cinelândia com uma namorada e outros colegas de faculdade. Era o início da redemocratização do Brasil, e apenas a segunda eleição direta para governador após o fim da ditadura militar. O
brasileiro deixou de participar, de protestar, de reivindicar os seus direitos.
É preciso deixar o imobilismo de lado, e que o povo se organize em defesa da melhoria da
qualidade de vida. Afinal, somos nós que fazemos do Brasil uma das nações mais
ricas do mundo. Nada mais justo que passemos a usufruir também dessa
riqueza! fr
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