"Náufragos,
Traficantes e Degredados: As Primeiras Expedições ao Brasil 1500-1531", Eduardo Bueno, Rio de Janeiro, Editora Objetiva,
1998, 200 páginas, Coleção Terra Brasilis, volume 2.
O segundo livro da coleção
procura, segundo o autor, abordar um período de tempo muito pouco analisado
pela História. Durante os primeiros 31 anos de existência sob o domínio
português, o Brasil foi deixado de lado, sendo "as três décadas menos
documentadas e mais desconhecidas da história do Brasil.". O livro trata
de assuntos muito interessantes. A chegada no Brasil de expedições espanholas
meses antes do desembarque de Pedro Álvares Cabral, mas que "não tiveram
consequências práticas para a história do Brasil". Segundo o autor,
Portugal já tinha noção da possibilidade da existência de terras onde viriam a
desembarcar em 1500.
"(...) o certo é que, no segundo semestre de 1497, quando
navegava em direção à Índia, Vasco da Gama já pressentia a existência dessas
mesmas terras. De fato, no dia 22 de agosto daquele ano, depois de zarpar das
ilhas do Cabo Verde, no rumo da Índia, Gama e seus homens avistaram, em pleno
mar, aves marinhas voando 'muito rijas, como aves que iam para terra'. Gama não
pôde desviar sua rota para segui-las, mas a aparição foi registrada no seu
diário de bordo. Naquela momento, os navegadores portugueses estavam
interessados na verdadeira Índia – que eles sabiam que ficava a leste, para
além do oceano Atlântico – e não nas terras que
Colombo descobria a oeste."
O livro aborda também a
explicação para o fato do continente se chamar "América", em
homenagem a Américo Vespúcio, e não Cristóvão Colombo; a assinatura em 1502 por
D. Manoel de um 'contrato de arrendamento' do Brasil com um consórcio de ricos
mercadores lusitanos, liderados por Fernando de Noronha, a quem foi concedido o
monopólio do comércio do pau-brasil pelo período de 10 anos. E mais: as
invasões francesas no litoral brasileiro, iniciadas poucos anos após a
descoberta de Pedro Álvares Cabral, contrabandeando pau-brasil, e causando
grandes prejuízos financeiros à Coroa portuguesa. Em resposta, Portugal
organizou as expedições guarda-costas. Em 1555, a França invadiu e fundou no
Rio de Janeiro a chamada "França Antártica". Portugueses e espanhóis
disputaram a primazia da conquista da região do rio da Prata, em busca das
riquezas faladas pelos índios.
Ao contrário da visão geral,
o autor discorda acerca da finalidade da expedição de Martim Afonso de Sousa:
"não há indícios de que o rei [D. João III] estivesse interessado em
povoar o Brasil antes de 1532". Segundo Eduardo Bueno, "O que o
monarca de fato pretendia – além de combater o abuso dos traficantes franceses
e explorar o Amazonas – era se apoderar da foz do grande rio que, segundo todas
as evidências, conduzia à fabulosa serra da Prata". Martim Afonso tinha
por missão levar a lei e a ordem ao território brasileiro, "que permanecia
ocupado apenas por náufragos espanhóis, traficantes franceses e degradados
portugueses". Com a descoberta do Peru pelos espanhóis, a cobiça europeia
desviou-se para aquela região, deixando de lado a região do Prata e o
território brasileiro. Como adianta o
título, o livro dá destaque aos primeiros homens brancos a viver no Brasil,
muitos por acidente, outros por castigo, alguns por opção. E como foi sua
relação com as tribos indígenas que já ocupavam o território. Vale a pena
conferir. fr
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