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sábado, 6 de julho de 2019

Craque do Botafogo na minha infância, Mendonça morre, aos 63 anos


Infelizmente, uma notícia triste para todos que gostam de um futebol bonito, em especial para nós, botafoguenses. Morreu, ontem, dia 5, o craque Mendonça, aos 63 anos, após passar dois meses internado por conta de uma queda na escada da estação de trens de Bangu. Mendonça foi o principal jogador do Botafogo nos anos de 1975 a 1982, justamente nos primeiros anos em que eu comecei a torcer pelo Glorioso, ainda criança. 

           Meio-campo habilidoso, chegou a ser convocado para a seleção brasileira algumas vezes. Mas jogou no Botafogo justamente em uma época que o clube amargou anos sem um título. Ele próprio nunca foi campeão profissionalmente nos clubes por onde passou. Mas, mesmo sem um título, é lembrado pelo talento, e por ter sido um dos maiores craques que teve a honra de ter vestido a camisa do Botafogo. O craque da minha infância, justamente a época que a pessoa costuma acompanhar o futebol com mais interesse e ingenuidade.

           Milton da Cunha Mendonça nasceu em 23 de maio de 1956. Seu pai, Milton Alves Mendonça, foi zagueiro do Bangu, e teve sua carreira abreviada após ter fraturado a perna (ou rompido os ligamentos do joelho, outra versão que eu li na internet) em 1951, em um choque com Didi, que, na época, jogava pelo Fluminense. Após ter feito algumas cirurgias, e se recuperado, ainda voltou a jogar pelo Juventus de São Paulo, mas acabou tendo que encerrar a carreira como jogador ainda muito jovem. Curiosamente, o pai treinou o filho no time dente-de-leite (crianças) do Bangu. E foi justamente para não ficar à sombra do pai, como se jogasse somente por isso, que Mendonça foi jogar no Botafogo, clube que sempre foi o do seu coração.

           Mendonça é o 14º maior artilheiro da história do Botafogo, com 118 gols em 342 jogos, de acordo com a Wikipédia, ou 116 gols em 340 jogos, conforme nota oficial do Botafogo ao comunicar o seu falecimento. Em 1981, foi o momento em que mais esteve perto de um título pelo alvinegro, quando chegamos às semifinais do campeonato brasileiro. No primeiro jogo, vencemos o São Paulo por 1x0, no Maracanã. No segundo, no Morumbi, o Botafogo abriu 2x0, e Mendonça fez o segundo. Mas, o Serginho Chulapa fez um gol de pênalti ainda no fim do primeiro tempo, e no tempo complementar, o São Paulo virou o jogo. Em entrevistas à época, os jogadores botafoguenses reclamaram da pressão e ameaças sofridas no intervalo do jogo por conta dos seguranças do São Paulo.

          Sentindo a pressão dos torcedores do Botafogo, principalmente das torcidas organizadas, que cobravam dele um título, sentiu a necessidade de sair do clube. Em 1983, foi jogar na Portuguesa de Desportos, e nos anos seguintes passou por vários outros, até encerrar a carreira, em 1996. Jogou no Palmeiras, Santos, Internacional de Limeira, Bangu, Al-Sadd (no Catar), São Bento (Sorocaba – SP), Grêmio, Internacional (Santa Maria – RS), Fortaleza, América (RN) e Barra Mansa. Em 1986, foi vice-campeão pelo Palmeiras, título surpreendentemente conquistado pela Internacional de Limeira. Em dois jogos no Morumbi, a Inter empatou em 0x0 e venceu a segunda por 2x1. Esta foi a oportunidade mais concreta que Mendonça teve de ser campeão profissional.

           Na realidade, descobri que Mendonça conseguiu, sim, dois títulos, mesmo que não sendo de muita representatividade. Em 1977, o Botafogo foi campeão do extinto Torneio Início do Campeonato Carioca, vencendo o Vasco da Gama na final por 2x1. Mendonça, na época com apenas 20 anos, entrou no lugar de Carbone neste jogo apenas. Esse torneio, que eu nem sabia que existiu, foi disputado de 1916 até 1967. Em 1977 realizaram essa edição especial. Havia uma regra bem diversa nessa competição: todos os jogos tinham que acontecer no mesmo dia, e no mesmo estádio. Por isso, os jogos tinham apenas 20 minutos de duração, exceto apenas a final, que tinha 60 minutos. A renda era destinada para uma entidade que auxiliava menores carentes. E em 1987, Mendonça ganhou pelo Santos o Torneio de Marselha, com a vitória, na final, por 1x0 do Olympique Marseille.

           Nós, botafoguenses, lembramos sempre o golaço do Mendonça na vitória sobre o Flamengo que o desclassificou nas quartas de final do campeonato brasileiro de 1981. O Botafogo venceu por 3x1, com dois gols de Mendonça, sendo o terceiro lembrado sempre (veja o vídeo, abaixo, com narração de Luciano do Valle). Mendonça recebeu o cruzamento da direita, controlou no peito, driblou o lateral da seleção brasileira Júnior e marcou em cima do goleiro Raul. Esse drible passou a ser conhecido como “Baila Comigo”, por conta de uma novela da Globo que passava na época.

           O Maracanã o homenageou com uma placa pela beleza desse gol, lamentavelmente desaparecida em uma das reformas do estádio. Outra homenagem no Maracanã foi convidar Mendonça para colocar seus pés na sua Calçada da Fama, ao lado de craques como Pelé, Jairzinho, Tostão, Nilton Santos, Falcão, e, postumamente, Garrincha e Quarentinha, entre outros. Li que essa homenagem também teria sumido, espero que não seja verdade.

           Mendonça foi um craque que o destino não premiou com os títulos e o reconhecimento que merecia. Não ficou rico com o futebol. E depois de encerrar a carreira passou a beber demais. Em 2017, chegou a ser internado em uma clínica de reabilitação para se tratar do vício. Quando morreu, segundo li na internet, fígado e rins estavam comprometidos. Uma pena. Mas, quem gosta do bom futebol, como eu, e é botafoguense, vai preferir lembrar dele pelas boas jogadas e gols que fez vestindo a camisa do Glorioso. Descanse em paz, Mendonça!  fr

* Pesquisei em várias reportagens na internet, com algumas informações algumas vezes desencontradas de acordo com as diferentes fontes.

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