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sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Casa de Rui Barbosa

          
          Em agosto do ano passado, fiz uma visita guiada pela Casa Rui Barbosa, no bairro de Botafogo. Um estagiário da instituição me mostrou todos os cômodos da residência do advogado, jurista, jornalista, político e diplomata baiano Rui Barbosa (1849-1923). Eu já tinha feito uma visita ao local em 1999, e revolvi voltar. Esta é uma das últimas antigas chácaras agrícolas que restaram na região, transformada em residência no século 19.
           Rui Barbosa morou na propriedade com a esposa, Maria Augusta Viana Bandeira, e os cinco filhos durante os anos de 1895 e 1923, quando faleceu. Em 1924, por decisão da viúva, que preferiu que a propriedade ficasse sob a administração da União, ela foi adquirida pelo governo brasileiro, junto com a biblioteca e o arquivo pessoal de Rui Barbosa. Quatro anos depois, foram os móveis. E em 1930, foi inaugurado o Museu.
           A Casa é provavelmente a mais antiga construção preservada do período da primeira ocupação do bairro. A sua transformação também em fundação se deu através da lei nº 4.943, de 6/4/1966, assinada pelo presidente Castello Branco. É uma instituição pública federal que tem entre suas finalidades o estudo, a preservação e a divulgação da vida e obra completa de Rui Barbosa, além de outras temáticas, como a literatura brasileira. Sua origem foi em 1928, com a criação do Museu-blblioteca pelo então presidente da República Washington Luís. Além disso, a área da propriedade é aberta para o público passear e curtir a natureza.
          Rui Barbosa organizou uma extensa e bem cuidada biblioteca, com mais de 35 mil livros, em sua maioria jurídicos, cuidadosamente organizados em estantes construídas sob medida. Ele enviava os seus livros para serem encadernados em Paris, até a Primeira Guerra Mundial, quando o conflito o obrigou a passar o serviço a um encadernador daqui mesmo da cidade. Na Casa de Rui Barbosa são organizados cursos, seminários, exposições, e atividades culturais diversas, como música, teatro, cinema e dança, além de atividades para o público infantil. Cada aposento da Casa tem um nome relacionado a uma passagem de sua vida.
          O jardim tem mais 9.000 metros quadrados; é lindo e é um ambiente muito agradável para se estar, além de ser uma das poucas áreas verdes do bairro de Botafogo. É considerado um jardim de importância histórica, de acordo com a Carta de Florença, documento que normatiza a preservação de jardins. Rui Barbosa gostava muito de cuidar do seu jardim, inclusive plantando ele mesmo algumas das plantas e árvores. O pau-brasil que está lá foi plantado em 1930, pelo então presidente da República, Washington Luis, quando o Museu Casa de Rui Barbosa foi inaugurado.
         
 
 
          O quiosque está situado em uma pequena ilha, envolta por um lago. Dentro dele, Rui Barbosa e a família usavam um chuveiro para se refrescarem do calor. O jardim da propriedade teve sua lateral direita destruída para o aumento de extensão da Rua Assunção. Em seu governo, Washington Luis mandou que a área fosse reconstruída, em uma reforma feita em 1930, porém o aspecto da época em que Rui Barbosa morava na casa não foi refeito.
          A propriedade como um todo, por conta de sua importância histórica e artística, está protegida pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), desde 1938. Na área externa da residência, estavam localizados os quartos dos empregados da família; uma garagem, que era a antiga cocheira, onde estão quatro veículos, sendo três de tração animal e um automóvel Benz, de tração a motor; e os tanques, para matar a sede dos cavalos.
          O Landô é o carro mais antigo, presente do seu cunhado, Francisco Dobbert; fabricado na Alemanha, era puxado por quatro animais. O Cupê é francês, foi um presente para a esposa de Rui Barbosa, Maria Augusta, dado pelo irmão dela, Carlos Viana Bandeira. Puxado por dois animais, ele era usado pelo casal para ir ao teatro. O Vitória é inglês, também puxado por dois animais, e era usado diariamente por Rui Barbosa para ir ao Centro da cidade.
           O automóvel a motor Benz, fabricado em 1913, placa 833, é o modelo Mercedes-Benz mais antigo existente no país, segundo a página da própria empresa na internet, que eu consultei. Ele tem o volante à direita e fazia uma média de 25 quilômetros por hora, podendo chegar a velocidade máxima de 80 quilômetros. O freio de mão, a alavanca das marchas e a buzina ficam na parte externa, onde fica também a manivela para dar partida no motor.  Na cabine do passageiro tem um fone para comunicação com o motorista. Uma das portas tem gravado o monograma RB.
           A Fundação Casa de Rui Barbosa entende e orienta a que se escreva o nome do jurista com “i”, e não com “y”, como ele foi registrado em cartório. Defende que os nomes de pessoas falecidas devem respeitar as regras da ortografia, assim como os nomes comuns. Mas respeita se os seus descendentes fizerem questão de utilizar o nome tal qual está no registro.
           Em 73 anos de vida, Rui Barbosa atuou em várias áreas de grande importância para o país. Posicionou-se em defesa do fim da escravidão, e contra o alistamento militar obrigatório. Apoiou a proclamação da República, tendo sido o ministro da Fazenda e o ministro interino da Justiça no Governo Provisório. Foi ele quem redigiu os primeiros decretos republicanos. No ano de 1890, apresentou o projeto de separação da Igreja do Estado; elaborou o texto definitivo do projeto da primeira Constituição da República, que viria a ser promulgada no ano seguinte; e foi eleito para o primeiro mandato de senador, pelo estado da Bahia. Em 1892, defendeu no STF (Supremo Tribunal Federal) habeas corpus em favor dos presos políticos.
 
                          
 
 
 
          Escreveu vários artigos no Jornal do Brasil contrários à política do presidente Floriano Peixoto, em 1893, quando foi obrigado se exilar em Buenos Aires por ser acusado pelo governo de participar da chamada Revolta da Armada. No ano seguinte, foi para a Europa, ficando em Lisboa, depois Madrid, Paris e Londres; retornando ao Brasil em 1895. Foi contra a campanha pela vacinação obrigatória em 1904; e candidatou-se a presidente da República em 1905. Representou o Brasil na Segunda Conferência da Paz, em Haia, na Holanda, em 1907, como embaixador extraordinário, ministro plenipotenciário e delegado, em que teve participação de destaque.
            No ano seguinte, foi eleito presidente da ABL (Academia Brasileira de Letras), por conta do falecimento de Machado de Assis, função que exerceu até 1919. Concorreu novamente à presidência da República em 1910, na chamada “Campanha Civilista”, pelo fato de ser um candidato civil concorrendo contra o marechal Hermes da Fonseca, que acabou eleito. Em julho de 1913 ainda lançou mais uma vez sua candidatura à presidência da República, mas a retirou em dezembro. Em 1918, não aceitou o convite do presidente Rodrigues Alves para chefiar a delegação brasileira na Conferência da Paz, que veio a ser realizada no ano seguinte, em Paris. O chefe da nossa delegação acabou sendo Epitácio Pessoa, que viria a ser eleito presidente em 1919, disputando com o próprio Rui Barbosa, em sua quarta tentativa de ser eleito para o cargo.
            Desligou-se da Academia Brasileira de Letras em maio de 1919. Dois anos depois, escreveu a famosa ‘Oração aos Moços’, um discurso que fez como paraninfo dos formandos da turma de 1920 da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. No mesmo ano, foi eleito para o quinto mandato de senador; e eleito juiz da Corte Permanente de Justiça Internacional de Haia. Morreu no dia 1º de março de 1923, em sua casa em Petrópolis. O seu corpo foi velado na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, e enterrado no Cemitério São João Batista. Em 1949, ano do centenário de seu nascimento, seus restos mortais foram transferidos para o Fórum Rui Barbosa, em Salvador, Bahia.
            Um dos aspectos polêmicos da vida de Rui Barbosa tem a ver com o período em que foi o primeiro ministro da Fazenda, no início da República, de 15 de novembro de 1889 até 21 de janeiro de 1891. Ele determinou que todos os documentos relacionados a registros de posse de escravos fossem queimados. Em seu entender, era necessário apagar da História a mancha da escravidão.
           Os simpáticos à medida alegam que ela visava impedir que os antigos proprietários de escravos reivindicassem indenizações do Estado, depois de já terem explorados os escravos como propriedades durante anos. Os críticos condenam a atitude, alegando que deveria ter sido elaborado um documento legal que impedisse tal reivindicação, o que evitaria a destruição de inúmeros documentos históricos, que serviriam de estudo daquele período. Outra crítica à sua atuação no ministério foi à sua prática de atender diversos pedidos de nomeações políticas.
            A Fundação Casa de Rui Barbosa esteve ameaçada durante o governo de triste recordação de Fernando Collor de Mello (1990-92). Com um falso discurso modernizador, Collor colocou a Fundação em uma lista de instituições que seriam extintas, o que causou uma forte mobilização de funcionários e cidadãos contra a medida, que acabou sendo revista.
          Utilizei os dados históricos disponibilizados pela página da própria Fundação Casa de Rui Barbosa na internet, além da página riodejaneiroaqui, sobre a polêmica da destruição dos documentos históricos. E ainda as matérias da Folha de São Paulo, de 24/02/2013, assinada por Flora Süssekind: “Futuro da Fundação Casa de Rui Barbosa é posto em xeque”, e da revista Veja, de 06/9/2000, de João Gabriel de Lima: “O balcão da águia baiana”. fr

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