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domingo, 15 de dezembro de 2019

Maior suicídio coletivo da História, motivado por fanatismo religioso, completa 41 anos

           Em tempos de aumento da intolerância no Brasil, seja religiosa, política, de gênero ou de opinião, deve-se lembrar do massacre ocorrido na Guiana, há exatos 41 anos. No dia 18 de novembro de 1978, 918 pessoas morreram em um suicídio coletivo bebendo um refresco com uma mistura de cianeto de potássio e calmantes, conduzido pelo pastor da seita pentecostal Templo do Povo, Jim Jones. Aqueles que se recusaram a bebê-lo, foram assassinados.  
 
           O pastor James Warren “Jim” Jones, fundador da seita, nasceu em Indiana, nos Estados Unidos, e criou sua seita na década de 1950, em sua terra natal. Em 1962, veio para o Brasil, mais especificamente para Belo Horizonte, local que ele acreditava como seguro em caso de uma eventual guerra nuclear, a fim de estudar uma possível mudança, mas não conseguiu viabilizá-la, e desistiu. Tempo depois, ele transferiu sua seita para São Francisco, na Califórnia, passando a fazer muito sucesso, inclusive abrindo filiais e a manter contato com figuras políticas, como a então primeira-dama dos Estados Unidos, Rosalynn Carter.
 
Com o tempo, surgiram denúncias de ex-membros sobre o seu comportamento messiânico e autoritário, o que passou a atrair a atenção da imprensa e da Justiça sobre suas atividades. Para fugir dessa pressão, Jim Jones arrendou um terreno na Guiana, para onde levou sua seita em 1977. O local ficou conhecido como ‘Jonestown’, em referência a Georgetown, capital da Guiana. Os seguidores tinham que se submeter a rígidas normas, não podiam ter contato com pessoas de fora ou receber visitas, e aqueles que as desrespeitavam eram punidos com severidade. Guardas armados vigiavam o terreno a fim de evitar tentativas de fuga.
No final de 1978, familiares de alguns dos membros, preocupados por não terem notícias deles, levaram a situação ao deputado democrata Leo Ryan. Com a autorização do Congresso estadunidense, o parlamentar foi à Guiana com uma delegação de 18 pessoas, composta por jornalistas e assessores, para apurar o que estaria acontecendo. Conseguiu a autorização do pastor Jim Jones para entrar em ‘Jonestown’, no dia 17 de novembro. As primeiras impressões do deputado ao conversar com os membros da seita foram boas, e foram registradas pelos jornalistas.
Mas, no dia seguinte, um dos jornalistas, recebeu um bilhete de um homem, dizendo que queria deixar o lugar, mas não permitiam, o que mudou totalmente a situação. Uma família de seis pessoas manifestou o desejo de deixar ‘Jonestown’, e entrou em um dos dois pequenos aviões que levaria a comitiva ao aeroporto. Pouco antes de a comitiva partir, a fim de iniciar o retorno aos Estados Unidos, um dos integrantes do grupo de Jim Jones tentou matar o deputado, esfaqueando-o, mas foi impedido. Logo em seguida, porém, um trator com homens armados atacou o avião, atirando nas pessoas.
 
O deputado e outras quatro pessoas de sua comitiva, incluindo três jornalistas, foram assassinados a tiros na pista de pouso próxima ao terreno da comunidade. Sabendo que a morte do político faria com que as autoridades invadissem o local, Jim Jones insuflou as pessoas a suicidarem-se, dizendo que os serviços de segurança dos Estados Unidos estariam perseguindo a comunidade, a fim de destruí-la. E que as autoridades guianenses iriam invadir o local e torturar a todos, inclusive as crianças e idosos. Assim, disse, todos deveriam morrer juntos a fim de partir para um outro plano, onde seriam mais felizes. Jim Jones já tinha ensaiado anteriormente o suicídio em massa com os seus seguidores, chegando, inclusive, a fazê-los acreditar que, pelo menos, um desses “ensaios” era para valer.
Este é considerado o maior suicídio coletivo ocorrido na História. Jim Jones foi encontrado morto, com um tiro na cabeça, possivelmente após ter se suicidado. Foram 918 mortos, incluindo cerca de 300 crianças, e apenas 35 sobreviventes, que conseguiram se esconder na floresta. Até o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, este foi, também, o maior número de civis estadunidenses mortos em um mesmo evento. Alguns dos sobreviventes, como Laura Johnston Kohl, conseguiram escapar por serem pessoas com autorização para sair naquele dia; ela estava em Georgetown para comprar alimentos. Kohl escreveu um livro sobre sua experiência na seita de Jim Jones.
Policiais do FBI encontraram em ‘Jonestown’ uma gravação, em áudio, de Jim Jones estimulando, momentos antes, pelos alto-falantes, os seus seguidores a beberem o veneno:
"Digo a vocês, não me importo quantos gritos vocês tenham que ouvir, não importa quanto choro agonizante. A morte é um milhão de vezes melhor que mais 10 dias desta vida. Se vocês soubessem o que está adiante de vocês... se soubessem do que está adiante de vocês, ficariam felizes de estarem partindo esta noite.'
É lamentável como as pessoas muitas vezes usam as religiões para os piores propósitos, chegando a matar e, no caso, levar as pessoas à morte em nome de suas crenças. Ter uma religião é muito importante, mas o mais importante são as atitudes das pessoas. Não adianta apenas ir a uma igreja ou templo, decorar passagens dos livros sagrados, se o comportamento da pessoa, na prática, não é condizente com as mensagens de amor, respeito e solidariedade que neles estão contidos. (Fontes de referência: ‘Aventuras na História’, Wikipédia, BBC e programa ‘Fantástico’ de 1978.)  fr

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