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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Zelador do Palácio do Catete foi o único a vestir faixa presidencial durante anos

           Antes da fundação de Brasília, a capital do país ficava no Rio de Janeiro, e a residência oficial do presidente era o Palácio do Catete. Uma história bastante curiosa aconteceu com a faixa presidencial naquela época. Em 1930, o presidente Washington Luís descumpriu um tradicional costume de alternância de poder existente até então. A cada quatro anos, as elites políticas e econômicas apoiavam para a eleição de presidente um candidato paulista, do Partido Republicano Paulista (PRP), ou mineiro, do Partido Republicano Mineiro (PRM). Era a chamada Política “Café com leite”.
Naquele ano, Washington Luís, que também era paulista, não apoiou um candidato mineiro para sucedê-lo, mas, sim, outro conterrâneo, o advogado Júlio Prestes, do PRP. A candidatura teve o apoio de 17 estados, na chapa ‘Concentração Republicana’. O PRM se revoltou com o que considerou ser uma traição, e lançou a candidatura do governador mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, mais tarde substituído pelo governador gaúcho Getúlio Vargas, tendo como vice o paraibano João Pessoa, com o apoio de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, na chapa ‘Aliança Liberal’.
Como era costume à época, as eleições eram fraudadas, e o candidato da situação foi eleito, em 1º de março de 1930. Porém, a chamada ‘Revolução de 1930’, na realidade um golpe, derrubou Washington Luís, em 24 de outubro, impedindo a posse de Júlio Prestes. O presidente deposto foi preso no Forte de Copacabana, e depois exilado, passando anos nos Estados Unidos e na Europa, somente retornando ao Brasil em 1947.
            Ao assumir o governo, Getúlio Vargas não teve à sua disposição a tradicional faixa presidencial, ornada com diamantes, que tinha sumido. Somente três anos depois, descobriu-se o que tinha acontecido com ela. Diante da instabilidade política daqueles dias de outubro de 1930, e na iminência de um golpe, que acabou se concretizando, o então presidente Washington Luís tinha entregue a faixa presidencial ao zelador do Palácio do Catete, Albino José Fernandes. E fez-lhe um pedido para que somente a entregasse a um “presidente eleito”.
Durante os anos seguintes, o funcionário escondeu a faixa, chegando a deixa-la debaixo do travesseiro e até mesmo a dormir com ela embaixo do pijama. Somente em 1933, ele resolveu confessar a Getúlio Vargas que a faixa, na realidade, estava consigo aquele tempo todo. Apesar do novo presidente não ter sido eleito, entendeu ser ele um governante legítimo. Getúlio disse-lhe, no entanto, que não poderia usá-la por ser, naquele momento, o chefe de um governo provisório, e pediu a Albino que permanecesse com ela. No ano seguinte, quando Getúlio foi eleito, de forma indireta, pelos deputados constituintes, Albino devolveu, enfim, a faixa presidencial, que, por lei, somente poderia ser transmitida ao chefe do governo pelo presidente do Congresso Nacional ou do STF (Supremo Tribunal Federal).
O mineiro Albino José Fernandes entrou no serviço público aos 29 anos, em 1908, contratado como servente do Palácio da Guanabara pelo então prefeito do Rio de janeiro, o general Souza Aguiar. Em 1915, passou a ser zelador e chefe de arrumação do Palácio do Catete, no governo de Wenceslau Braz. Dez anos depois, no período de governo de Artur Bernardes, passou a morar na casa dos fundos do palácio. Em 1958, foi condecorado por Juscelino Kubitschek com a Ordem Nacional do Mérito, mas permaneceu trabalhando no Catete até a mudança da capital para Brasília, em 1960. A sua esposa, Pulquéria Costa, também trabalhou no Palácio, desde 1914, como lavadeira. Durante alguns anos, o modesto zelador do Palácio do Catete foi o homem que vestiu a faixa presidencial do Brasil... mesmo que em segredo, sem ninguém saber. (Fontes de referência: Wikipédia, páginas on line do Museu da República e da revista super.abril). fr

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