Este mês, li o livro “As bruxas de Salém”, do
escritor estadunidense Arthur Miller, estimulado por um Clube de Leitura que
conheci no trabalho. Na verdade, é uma peça de teatro, escrita em 1953, em que
o autor faz uma comparação crítica ao período histórico pelo qual os Estados
Unidos viviam, que mais tarde viria a ficar conhecido como ‘Macartismo’. À
época, o senador republicado Joseph McCarthy liderava uma perseguição a todos
que pudessem ser taxados de “comunistas” apenas por conta de suas opiniões, uma
chamada “caça às bruxas”. O próprio Arthur Miller chegou a ser convocado para
depor pelo Comitê de Investigação de Atividades Anti-Americanas da Câmara dos
Deputados.
A história da peça é,
por sua vez, baseada em acontecimentos históricos. Na cidade de Salém, em Massachusetts,
nos anos de 1692 e 1693, meninas adolescentes foram à floresta bem tarde da
noite com uma escrava negra, Tituba,para fazer contato com forças
sobrenaturais. A intenção era fazer pedidos a fim de conseguirem que rapazes da
aldeia passassem a namorá-las. Abigail, sobrinha do revendo Parris levou um
animal morto, e chegou a beber do seu sangue, pedindo que Elizabeth, a esposa
de John Proctor, morresse, para que ela pudesse ficar com ele. John cometeu
adultério, ao ter relações com Abygail quando ela trabalhava em sua casa, sendo
demitida pela sua esposa quando esta descobriu.
O ritual na floresta foi interrompido pela
chegada do reverendo. Betty, sua filha, teve uma reação nervosa e passou um
tempo na cama, sem falar ou comer, assim como outra das meninas. O médico da
localidade disse não conhecer nenhum tratamento para as duas. A partir de
então, as pessoas passaram a associar as “doenças” daquelas meninas a atos de bruxaria.
O reverendo Hale, de outra cidade, foi chamado para investigar o que teria
acontecido, já que era experiente em casos de bruxaria.
Para se salvar da situação, Abigail passou a
acusar Tituba de tê-la obrigado a fazer um pacto com o demônio. Após perceber
que os moradores não acreditariam nela, a escrava deixou de negar, e, a fim de
evitar ser executada, preferiu “confessar” o pacto, dizendo que desejava ser
libertada e voltar para o lado de Deus. A partir de então, Abigail e as outras
meninas deram início a uma sucessão de acusações a outras pessoas, motivadas
pelo desejo de vingança ou para prejudicar alguém. Abigail acusou, claro, Elizabeth,
para que ela fosse executada, e pudesse ficar com o seu marido. Outros
moradores passaram a fazer o mesmo. Mary Warren, que trabalhava para os
Proctor, foi a única que tentou desmentir as amigas.
Não havia necessidade de se apresentar
nenhuma prova, bastava a acusação. E os acusados não conseguiam defender-se.
Aqueles que “confessassem” sofreriam algum tipo de punição, como prisão ou
penas físicas. Os que se recusassem, seriam executados na forca. De acordo com
o Wikipédia, mais de duzentas pessoas sofreram acusações, e 19 foram
considerados culpados e enforcados, sendo 14 mulheres e cinco homens. Um idoso
sofreu tortura com pedras pesadas sobre o seu corpo para que confessasse culpa,
e também morreu; e pelo menos cinco pessoas morreram ainda na prisão.
A peça de Arthur Miller tornou-se um clássico
mundial, é estudada nas escolas e universidades dos Estados Unidos, e já foi
adaptada na televisão e no cinema. Em 1957, foi feito um filme na França, com
direção de Jean-Paul Sartre; e em 1996, nos Estados Unidos, dirigido por Nicholas
Hytner, e com roteiro do próprio Arthur Miller (eu assisti ao filme, e escrevo
sobre ele mais à frente). Salém é conhecida até hoje pelos acontecimentos que
aterrorizaram a comunidade da cidade no século 17. fr
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