A adaptação para a televisão
foi de Cal Coons e Alexandra Zarowny, mas, anos antes, foram realizados três
filmes, com outros atores. A série foi exibida originariamente pela Citytv do
Canadá até a quinta temporada, quando a
emissora anunciou que ela seria retirada de sua programação. Felizmente, o
canal CBC decidiu assumir o programa, tornando possível a sua continuação.
É impressionante (e triste!)
que uma série tão bacana não seja exibida na TV aberta, para atingir um público
muito maior. A Rede Globo, ou outra emissora, poderia ter colocado a série em
sua programação. Mas, como a nossa televisão é muito dependente das produções
de Hollywood, deixaram ela de fora. O mundo parece se resumir apenas ao que é
feito em língua inglesa.
As estórias acontecem em
Toronto, iniciando em 1895, abordando os casos investigados pela 4ª Delegacia,
principalmente os métodos inovadores de seu detetive, William Murdoch. Entre essas inovações, ele recorre à
identificação de criminosos através de impressões digitais, detector de
mentiras, lanterna de luz ultravioleta para visualizar vestígios de sangue e à sua
capacidade de observação.
Murdoch é também um
cientista amador, capaz de produzir seus próprios equipamentos de trabalho,
como um colete à prova de balas, somente inventando muitos anos depois. O ator
que o interpreta é Yannick Bisson. Nos episódios da série, são mostrados temas
complexos, que ainda são muito controvertidos nos dias de hoje, pode-se
imaginar na época em que se passa a série. Assuntos como tortura, corrupção,
aborto, preconceito racial, homossexualismo e eutanásia são inseridos no
contexto das tramas.
A delegacia
é chefiada pelo inspetor Thomas Brackenreid (Thomas Craig), sujeito violento e com
métodos bastante condenáveis, como torturar suspeitos e manipular provas. Ele
faz o que for para favorecer os amigos e familiares, ou seja, ética zero! O
detetive Murdoch, sempre tão correto e exemplar, não apenas tinha conhecimento,
como nada fazia para denunciar o chefe. Uma contradição do personagem.
A médica legista, chefe do
necrotério, doutora Julia Odgen (Hélène Joy), auxilia o detetive Murdoch em seus
casos, realizando as autópsias e discutindo com ele as suas linhas de
investigação. Ao longo da série, os dois personagens vão se aproximando, em um
relacionamento bastante complicado, mesmo após o seu casamento.
Murdoch é um homem metódico,
racional, fechado, e de religião católica, em uma cidade dominada por uma maioria
protestante; enquanto Julia Odgen é uma mulher contestadora dos rígidos padrões
conservadores da época. Odgen, após passar a clinicar em um hospital como
cirurgiã, faz uso de práticas bastante polêmicas, como a eutanásia e o aborto,
batendo de frente com as leis da época, e a consciência e os valores religiosos
do marido.
A delegacia
tem dois policiais de destaque, cada um à sua maneira, é claro. George Crabtree
(Jonny Harris) é o meu preferido, porque é o que dá um toque de humor em muitas
das situações de tensão e suspense do seriado. Ele é subestimado pelo inspetor,
mas tem grande influência na resolução dos crimes. É um apaixonado por assuntos
como o Egito antigo, lobisomens, vampiros e extraterrestes, buscando sucesso
como escritor.
Henry Higgins (Lachlan
Murdoch), por outro lado, é o policial sem grande solidez de caráter.
Preguiçoso, malandro, irresponsável, não tem problema de consciência em roubar
perfumes em uma cena de crime, por exemplo, ou se apropriar de ideias de
Crabtree para impressionar o inspetor. Apesar disso, tem momentos de valor,
procurando fazer o que é certo.
A investigação dos crimes envolve muitas vezes
personagens reais e históricas. Entre elas, os cientistas Nikola Tesla,
Alexander Graham Bell e Thomas Edison; o primeiro-ministro inglês Winston
Churchill; o presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt; e os escritores
Arthur Conan Doyle e Mark Twain. A série também tem algumas referências indiretas
a acontecimentos marcantes que somente viriam ocorrer muitos anos mais tarde,
como o assassinato de Kennedy, a criação da barreira nas cobranças de faltas do
futebol e a invenção da televisão.
Eu destaco
algumas curiosidades que eu considero interessantes sobre a série e os seus
personagens. Os suspeitos levados para a delegacia do detetive Murdoch eram
interrogados em uma sala própria para isso, frequentemente observados de fora por
outras pessoas. Como se vê nos filmes de Hollywood, só que nestes existe uma
parede de vidro espelhado, para que aqueles que estão dentro não possam ver
quem está fora, a fim de evitar qualquer tipo de intimidação.
Na delegacia da série, é
apenas uma porta comum, dividida ao meio por um vidro transparente, ou seja, os
criminosos podiam ver perfeitamente quem os estava observando! Além disso,
qualquer um entrava e saia da delegacia com facilidade, tendo acesso,
inclusive, à sala do detetive. Até mesmo os criminosos!
A doutora
Odgen e a sua assistente não utilizavam luvas, óculos ou qualquer tipo de
proteção esterilizada durante as autópsias, apenas um avental. E os médicos
durante as cirurgias também não. Durante o final do século 19, início do 20, ainda
não deviam ter esses cuidados para evitar infecções. Aliás, a cidade de Toronto
devia ser muito violenta naquela época, porque em praticamente todos os
episódios tem crimes diferentes para serem investigados. kkkkk E o necrotério praticamente
está sempre com muito trabalho, ocupado com algum corpo envolvido em morte
suspeita.
O detetive
Murdoch é um fissurado em trabalho, pouco se interessando por lazer. Ele e a
doutora Odgen chegaram ao ponto de discutir o andamento de uma investigação
durante a cerimônia do seu casamento, saindo da igreja direto para uma estação
de trem para prender uma suspeita de assassinato. Isto que é dedicação! Eu
indico a série, e estou aguardando a 14ª temporada. O seriado não é recomendado
pera menores de 16 anos. fr
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