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domingo, 27 de setembro de 2020

"Mistérios do detetive Murdoch"

         Eu descobri uma série excelente, no canal Mais Globosat, “Mistérios do detetive Murdoch” (“Murdoch Mysteries”). Eu terminei de maratonar, recentemente, todos os episódios das 13 temporadas já exibidas, através da operadora de TV a cabo que eu assino. Esta é uma série de suspense feita no Canadá, baseada inicialmente em três livros de Maureen Jennings, e o primeiro episódio foi ao ar na televisão canadense em janeiro de 2008. O desenvolvimento das estórias seguintes foi feito por uma equipe de roteiristas.

A adaptação para a televisão foi de Cal Coons e Alexandra Zarowny, mas, anos antes, foram realizados três filmes, com outros atores. A série foi exibida originariamente pela Citytv do Canadá  até a quinta temporada, quando a emissora anunciou que ela seria retirada de sua programação. Felizmente, o canal CBC decidiu assumir o programa, tornando possível a sua continuação.

É impressionante (e triste!) que uma série tão bacana não seja exibida na TV aberta, para atingir um público muito maior. A Rede Globo, ou outra emissora, poderia ter colocado a série em sua programação. Mas, como a nossa televisão é muito dependente das produções de Hollywood, deixaram ela de fora. O mundo parece se resumir apenas ao que é feito em língua inglesa.

As estórias acontecem em Toronto, iniciando em 1895, abordando os casos investigados pela 4ª Delegacia, principalmente os métodos inovadores de seu detetive, William  Murdoch. Entre essas inovações, ele recorre à identificação de criminosos através de impressões digitais, detector de mentiras, lanterna de luz ultravioleta para visualizar vestígios de sangue e à sua capacidade de observação.

Murdoch é também um cientista amador, capaz de produzir seus próprios equipamentos de trabalho, como um colete à prova de balas, somente inventando muitos anos depois. O ator que o interpreta é Yannick Bisson. Nos episódios da série, são mostrados temas complexos, que ainda são muito controvertidos nos dias de hoje, pode-se imaginar na época em que se passa a série. Assuntos como tortura, corrupção, aborto, preconceito racial, homossexualismo e eutanásia são inseridos no contexto das tramas.

         A delegacia é chefiada pelo inspetor Thomas Brackenreid (Thomas Craig), sujeito violento e com métodos bastante condenáveis, como torturar suspeitos e manipular provas. Ele faz o que for para favorecer os amigos e familiares, ou seja, ética zero! O detetive Murdoch, sempre tão correto e exemplar, não apenas tinha conhecimento, como nada fazia para denunciar o chefe. Uma contradição do personagem.

A médica legista, chefe do necrotério, doutora Julia Odgen (Hélène Joy), auxilia o detetive Murdoch em seus casos, realizando as autópsias e discutindo com ele as suas linhas de investigação. Ao longo da série, os dois personagens vão se aproximando, em um relacionamento bastante complicado, mesmo após o seu casamento.  

Murdoch é um homem metódico, racional, fechado, e de religião católica, em uma cidade dominada por uma maioria protestante; enquanto Julia Odgen é uma mulher contestadora dos rígidos padrões conservadores da época. Odgen, após passar a clinicar em um hospital como cirurgiã, faz uso de práticas bastante polêmicas, como a eutanásia e o aborto, batendo de frente com as leis da época, e a consciência e os valores religiosos do marido.

         A delegacia tem dois policiais de destaque, cada um à sua maneira, é claro. George Crabtree (Jonny Harris) é o meu preferido, porque é o que dá um toque de humor em muitas das situações de tensão e suspense do seriado. Ele é subestimado pelo inspetor, mas tem grande influência na resolução dos crimes. É um apaixonado por assuntos como o Egito antigo, lobisomens, vampiros e extraterrestes, buscando sucesso como escritor.

Henry Higgins (Lachlan Murdoch), por outro lado, é o policial sem grande solidez de caráter. Preguiçoso, malandro, irresponsável, não tem problema de consciência em roubar perfumes em uma cena de crime, por exemplo, ou se apropriar de ideias de Crabtree para impressionar o inspetor. Apesar disso, tem momentos de valor, procurando fazer o que é certo.  

          A investigação dos crimes envolve muitas vezes personagens reais e históricas. Entre elas, os cientistas Nikola Tesla, Alexander Graham Bell e Thomas Edison; o primeiro-ministro inglês Winston Churchill; o presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt; e os escritores Arthur Conan Doyle e Mark Twain. A série também tem algumas referências indiretas a acontecimentos marcantes que somente viriam ocorrer muitos anos mais tarde, como o assassinato de Kennedy, a criação da barreira nas cobranças de faltas do futebol e a invenção da televisão.

         Eu destaco algumas curiosidades que eu considero interessantes sobre a série e os seus personagens. Os suspeitos levados para a delegacia do detetive Murdoch eram interrogados em uma sala própria para isso, frequentemente observados de fora por outras pessoas. Como se vê nos filmes de Hollywood, só que nestes existe uma parede de vidro espelhado, para que aqueles que estão dentro não possam ver quem está fora, a fim de evitar qualquer tipo de intimidação.

Na delegacia da série, é apenas uma porta comum, dividida ao meio por um vidro transparente, ou seja, os criminosos podiam ver perfeitamente quem os estava observando! Além disso, qualquer um entrava e saia da delegacia com facilidade, tendo acesso, inclusive, à sala do detetive. Até mesmo os criminosos!

         A doutora Odgen e a sua assistente não utilizavam luvas, óculos ou qualquer tipo de proteção esterilizada durante as autópsias, apenas um avental. E os médicos durante as cirurgias também não. Durante o final do século 19, início do 20, ainda não deviam ter esses cuidados para evitar infecções. Aliás, a cidade de Toronto devia ser muito violenta naquela época, porque em praticamente todos os episódios tem crimes diferentes para serem investigados. kkkkk E o necrotério praticamente está sempre com muito trabalho, ocupado com algum corpo envolvido em morte suspeita.

         O detetive Murdoch é um fissurado em trabalho, pouco se interessando por lazer. Ele e a doutora Odgen chegaram ao ponto de discutir o andamento de uma investigação durante a cerimônia do seu casamento, saindo da igreja direto para uma estação de trem para prender uma suspeita de assassinato. Isto que é dedicação! Eu indico a série, e estou aguardando a 14ª temporada. O seriado não é recomendado pera menores de 16 anos. fr

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