Livro lançado em 1517
em folheto avulso, é dividido em duas peças. A primeira dá nome ao livro, e teve
sua encenação pela primeira vez na câmara da rainha D. Maria de Castela, com a
presença do rei D. Manuel I. Ela mostra duas embarcações, destinadas às almas
após as mortes das pessoas. Uma é comandada por um Anjo e destina-se ao
paraíso; a outra, pelo diabo, para o inferno. À medida que vão chegando, as
almas vão tendo o seu lugar determinado na embarcação do Anjo ou do diabo, de
acordo com as suas atitudes em vida. E, claro, segundo o entendimento pessoal
do autor, o poeta e dramaturgo português Gil Vicente, diante das profissões dos
mortos. A outra peça é “Farsa de Inês Pereira”, que surgiu como uma resposta
aos que o acusavam de plagiar obras de outros autores. Ele, então, recebeu o
tema “mais quero um asno que me leve, que cavalo que me derrube’, e, assim, escreveu
este texto. A peça foi encenada para o rei D. João III, em 1523. Inês é uma
jovem que procura um casamento para se livrar do trabalho doméstico na casa da
mãe. “Renego desse lavrar / e do primeiro que o usou / ao diabo que o eu dou, /
que tão mau é de aturar; / Ó Jesus! Que enfadamento, / e que raiva, e que
tormento, / que cegueira e que canseira! / Eu hei de buscar maneira / de viver
a meu contento.” A linguagem utilizada nas peças é própria da época em que foram
escritas, século 16, o que torna a leitura menos interessante. Mas, acredito
que as duas peças ainda são atuais, mesmo hoje, 500 anos depois, e poderiam ser
adaptadas à nossa realidade, com bons resultados. fr
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terça-feira, 29 de dezembro de 2020
"Auto da barca do inferno", Gil Vicente
"Auto da barca do inferno", Gil Vicente, São Paulo, editora
Klick, 1997, 114 páginas (Coleção Livros
O Globo, vol. 14).
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