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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

"Amor de perdição", Camilo Castelo Branco

“Amor de perdição”
, Camilo Castelo Branco, São Paulo, editora Klick, 1997, 162 páginas (Coleção Livros O Globo, vol. 19). 
     Lançado em 1862, é um livro marcado pelo romantismo exagerado. Camilo Castelo Branco conta que o escreveu em apenas 15 dias, quando esteve preso pelo crime de adultério, e eles foram os dias “mais atormentados de minha vida”. No prefácio à segunda edição, ele explica que a história é baseada na vida do seu tio paterno, Simão Antônio Botelho, contada a ele pela tia, irmã do próprio. 
     Em Portugal, Simão, um rapaz de 17 anos e Teresa, uma moça de quinze, apaixonaram-se ao verem-se de suas janelas, vizinhos que eram, uma casa de frente a outra. Pouco se falaram, pouco se viram, a não ser à distância, mas um amor incondicional surgiu entre os dois. É uma história pouco crível, mas bastante palatável para o público feminino do século 19. 
     Mas é bem verdade que até pouco tempo, antes das conversas com vídeo pela internet, pessoas se conheciam e diziam se amar sem nunca terem se visto, apenas trocando conversas de texto. Mas, voltando ao livro, o amor dos Simão e Teresa não era aceito pelos pais, que se odiavam. A seguir, alerto que vou adiantar revelações sobre o final do livro. 
     O pai de Teresa decide mandar a filha para o convento por um tempo, para, depois, casá-la com Baltasar, um primo dela, que manda, sem sucesso, matar Simão. Desesperado pela separação da amada, o jovem mata Baltasar, e é preso, abrindo mão de sua defesa, pois preferia ser condenado à forca a ficar longe da amada, que dizia ao pai o mesmo, que tiraria sua vida caso não pudesse casar com Simão. 
     Enfim, a história é uma sucessão de sentimentos intensos, muito sofrimento e tragédias. E os dois jovens mal se conheciam, apenas se viram algumas poucas vezes, mal conversaram para poderem se conhecer melhor, como é que podiam falar em amor? 😊 😊 Simão passou mais de dois anos preso, aguardando julgamento. O pai, que inicialmente não quis defendê-lo devido à atitude criminosa do filho, acabou convencido por um tio-avô, que ameaçou se matar na sua frente se ele não o fizesse. 
     A condenação à morte na forca foi atenuada para a expulsão para a Índia por dez anos. Separados, um indo para outro continente, e ela em um convento, os dois sofrem demais, inclusive adoecendo aos poucos. Simão lamenta: “Que trevas, meu Deus! – Exclamava ele, e arrancava a mãos-cheias os cabelos. – Dai-me lágrimas, Senhor! Deixai-me chorar, ou matai-me, que esse sofrimento é insuportável!” 
     O final trágico do livro pode ser facilmente adivinhado, e envolve ainda uma outra mulher, Mariana, filha de um modesto ferreiro, apaixonada por Simão e que ajudou a cuidar dele durante a sua prisão. Eu até gostei de ler o livro, mas somente o indico para quem gosta de histórias tristes, muito tristes! Cego e sem poder escrever, Camilo Castelo Branco cometeu suicídio com um tiro no ouvido em 1º de julho de 1890, aos 65 anos. fr

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