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sábado, 31 de julho de 2021

"Infância", Graciliano Ramos

“Infância”Graciliano Ramos; Rio de Janeiro, editora Record, s/ano, 269 páginas (Coleção Mestres da Literatura Contemporânea, vol. 6).
        Em 39 crônicas, Graciliano Ramos descreve passagens de sua infância, um período de muitos traumas, em que o pai e a mãe, sempre rigorosos, não lhe deram carinho e amor, mas muita repreensão e surras. Em uma delas, Graciliano lembra quando o cinturão do pai sumiu e ele colocou a culpa nele, aos berros, furioso, batendo em suas costas com um chicote. Pouco depois, o pai encontrou o cinturão onde estava deitado, mas foi incapaz de pedir desculpas ao filho.
         “Onde estava o cinturão? Impossível responder. Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emudeceria, tão apavorado me achava. Situações deste gênero constituíram as maiores torturas da minha infância, e as consequências delas me acompanharam.”
        Em casa não encontrava compreensão, na escola sofria com a implicância dos colegas, que o xingavam e também batiam nele. Aos 9 anos, não sabia ler direito. E em uma noite, para sua surpresa, o pai mandou que buscasse um livro em seu quarto e que lesse para ele, o que fez com muita dificuldade. O pai explicou a história do que o menino tinha lido. Na noite seguinte, mais uma vez. Na terceira, Graciliano tomou a iniciativa de pegar o livro para ler com pai, mas ele não estava disposto, e na noite posterior o pai o afastou, carrancudo.
        “Nunca experimentei decepção tão grande. Era como se tivesse descoberto uma coisa muito preciosa e de repente a maravilha se quebrasse. E o homem que a reduziu a cacos, depois de me haver ajudado a encontrá-la, não imaginou a minha desgraça. A princípio foi desespero, sensação de perda e ruína, em seguida uma longa covardia, a certeza de que as horas de encanto eram boas demais para mim e não podiam durar.”
         “Infância” foi lançado em 1945. Graciliano Ramos é o primeiro de 16 filhos, nasceu na cidade de Quebrangulo, em Alagoas, em 27 de outubro de 1892, e faleceu no Rio de Janeiro, em 20 de março de 1953, aos 60 anos. Além de escritor, foi também jornalista e político. Eu pretendo ler o seu livro “Memórias do Cárcere”, em que ele descreve o tempo em que esteve preso, acusado sem provas e sem processo, por uma pretensa participação na Intentona Comunista de 1935, durante o governo de Getúlio Vargas. Fica o registro da minha leitura de “Infância”. fr 

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