SEJA ÉTICO

SEJA ÉTICO: Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução do conteúdo deste blog com a devida citação de sua fonte.

domingo, 15 de agosto de 2021

Dica de livro: "O sorriso do lagarto"

“O sorriso do lagarto”
, João Ubaldo Ribeiro; Rio de Janeiro, editora Record, s/ano, 363 páginas (Coleção Mestres da Literatura Contemporânea, vol. 8).
       A história se passa na Bahia, mais especificamente em uma ilha, cujo nome o autor não especifica no livro, lançado em 1989, mas seria a ilha de Itaparica, onde João Ubaldo (1941-2014) nasceu. Ana Clara vive um casamento infeliz com Ângelo Marcos, rico político e marido infiel. Seguindo o exemplo de sua melhor amiga, Bebel, ela resolve ter relacionamentos extraconjugais.
        João Pedroso é um homem maduro e que se ressente por nunca ter levado adiante nenhum objetivo na vida, trabalhando na peixaria que foi do seu pai, apesar de sua formação em Biologia. Ele passa a ter uma sensação de medo e que algo de maligno estava acontecendo ao se deparar mais de uma vez com um lagarto com dois rabos, e que parecia estar rindo para ele.
        Alguns lagartos têm dois e até três caudas quando o processo natural de perda dessa parte do corpo e posterior nascimento de outra em seu lugar não se completa corretamente. Acreditando estar desrespeitando Deus por não ter feito nada na vida, João Pedroso desabafa com o seu amigo, o padre Monteirinho, por sentir essa sensação ruim em torno de si:
        “Há um lagarto que sorri, se bem que eu não saiba que ligação existe entre uma coisa e outra. Mas a sensação que eu tenho é de que essa ligação existe, e isto me dá mais medo ainda, não sei lhe explicar direito. Sim, um lagarto que sorri, um, talvez dois, talvez mais, sempre com dois rabos. Não é um sorriso como o sorriso humano, é uma espécie de aura em torno dele, que dá a impressão de que ele está zombando de alguma coisa, ou sendo uma espécie de símbolo para o meu próprio ridículo, não é um sorriso amistoso. E não é bom, não é bom ver esse lagarto, me dá vontade de desaparecer. Eu venho sentindo uma espécie de medo estranho, uma espécie de apreensão sinistra.”
        Em um passeio na ilha, Ana Clara e o marido saem para pescar, e ela conhece João Pedroso, dando início a um relacionamento que acaba por mudar a vida dos dois. Eles se apaixonam e Ana Clara decide se separar do marido e viver com João Pedroso, mas acaba aceitando dar um mês para ele, apenas por acreditar que facilitaria a separação.
        Mais ou menos na metade, o livro começa a despertar maior interesse a partir do momento em que João Pedroso descobre a realização de experiências genéticas na ilha. Crianças com feições de macaco tinham sido vistas por algumas pessoas. O doutor Lúcio Nemésio, seu antigo professor, coordenava uma equipe local de um projeto internacional, com presença em outros países.
        Aquelas crianças eram híbridos, resultantes da inseminação de mulheres com espermatozoides de macacos. A intenção seria a utilização desses híbridos para a formação de bancos de órgãos e testes para o desenvolvimento de medicamentos e vacinas. Esse tipo de experiência ilegal de fato já ocorreu no mundo. João Pedroso não concorda em ficar calado e promete denunciar as experiências, e Ângelo Marcos descobre o relacionamento da esposa com ele, o que faz com que a vida de João Pedroso passe a correr perigo.
        A seguir, vou adiantar alguns acontecimentos decisivos do livro, portanto, quem não desejar ter conhecimento antecipado, precisa decidir se quer continuar lendo o meu texto, ou não.
        Ana Clara engravida de João Pedro, e não poderia mais esperar para tomar a decisão de se separar do marido, já que ele fizera vasectomia. Ângelo Marcos, no entanto, contrata um assassino profissional, que mata João Pedro e joga o seu corpo no mar, dentro de um caixote com pesos de chumbo.
        Após revelar ao marido que iria morar com João Pedro e que estava grávida dele, os dois brigam e ela sofre uma queda na escada, perdendo o filho. Ana Clara passa a desenvolver uma segunda personalidade, uma escritora, de nome Suzanna Fleischman, que odeia Ângelo Marcos, mas Ana permanece casada com ele.
        Eu gostei muito do desenvolvimento da metade final do livro. João Ubaldo Ribeiro foi escritor, jornalista e professor, inclusive nos Estados Unidos e na Alemanha. Ganhou o Prêmio Jabuti em 1972 como autor revelação, com o livro “Sargento Getúlio”, e em 1985, como melhor romance, com o livro “Viva o povo brasileiro”; e o Prêmio Camões em 2008, pelo valor de sua obra. Foi eleito para ocupar a cadeira nº 34 da ABL (Academia Brasileira de Letras). As suas crônicas eram publicadas em diferentes jornais do Brasil, eu as lia aos domingos, no jornal O Globo. fr 

Nenhum comentário: