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segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Leitura do livro: "Como água para chocolate", Laura Esquivel

“Como água para chocolate”
, Laura Esquivel; Rio de Janeiro, editora Record, s/ano, 205 páginas (Coleção Mestres da Literatura Contemporânea, vol. 14).
 
      O livro, da escritora mexicana Laura Esquivel, foi lançado em 1989. Tita nasceu na cozinha da casa de sua mãe, a matriarca Mamãe Elena, e passou a vida neste cômodo, onde se realizava fazendo as receitas da família. Cada capítulo do livro tem intercalado pelo menos uma dessas receitas, que eram influenciadas pelo estado de espírito de Tita. Aos 15 anos, Tati apaixonou-se por Pedro Muzquiz, que pediu à Mamãe Elena sua mão em casamento, mas esta recusou e ofereceu outra filha, Rosaura, para casar-se com ele.
      Tita foi proibida pela mãe de se casar para seguir a tradição mexicana da filha mais nova dedicar a vida para cuidar da sua mãe. Pedro aceitou casar-se com Rosaura para ficar próximo à sua amada, mas a vigilância de Mamãe Elena sempre atrapalhou a aproximação entre os dois. Mamãe Elena obrigou Tati a cuidar dos preparativos da festa do casamento, como castigo por ela se rebelar contra a tradição. Triste, ao fazer o bolo suas lágrimas caíram na massa, fazendo com que todos passassem mal durante a festa.
      A mãe impunha a Tati uma vida dura, de muitas obrigações, repreensões e castigos, sendo uma mãe castradora, que lhe impunha medo. Ao longo dos anos, o relacionamento entre as duas irmãs e Pedro foi marcado pela infelicidade do casal, em um casamento de aparências, e pela infelicidade de Tita, impedida de viver um relacionamento com o homem que amava. Pedro pouco se aproximava fisicamente da esposa, apenas para dar-lhe um filho, que veio a se chamar Roberto.
      Como a Rosaura não teve leite para alimentar a criança, Tati acabou cuidando do menino e, escondida, dava-lhe de mamar do próprio peito, cuidando de Roberto como uma mãe. Percebendo que a proximidade de Pedro e Tati na mesma casa poderia prejudicar o casamento de Rosaura, Mamãe Elena faz com que ela, Pedro e o menino fossem morar nos Estados Unidos. Tati sentiu muito ter que se afastar do sobrinho, que era a única razão para suportar sua vida infeliz. A criança acabou morrendo, e Tati culpou a mãe, ficando isolada, sem falar e comer.
      Mamãe Elena revoltou-se: “Muito bem, se está que nem louca irá para um manicômio. Nesta casa não há lugar para dementes!” Ao invés de interná-la, dr. Brown a levou para sua casa, onde cuidou de Tati até que ela melhorasse. A casa de Mamãe Elena foi invadida por bandoleiros, que a agrediram com muita violência, deixando-a imobilizada da cintura para baixo. Tati retorna para a casa da mãe a fim de cuidar dela, até a sua morte. Dr. Brown diz querer casar com ela, e ela também.
      Após a morte da mãe, Tati descobriu cartas antigas que revelaram o segredo de Mamãe Elena. Ela viveu um amor proibido pela sua família com um homem negro, que era o pai de Gertrudis, sua outra filha. O marido de Mamãe Elena passou mal e morreu quando descobriu a traição. Pedro e Rosaura retornaram para o México, vivendo na casa, deixada a ela por Mamãe Elena. Rosaura engravida e tem uma filha, que iria batizar com o nome de Tati, mas esta não quis que a sobrinha passasse pelo mesmo que ela e a convenceu a chamar a criança de Esperanza.
      Após um parto difícil, Rosaura não poderia mais ter filhos e decidiu que a filha única seguiria a tradição, e nunca se casaria para cuidar da mãe, o que revoltou Tati. Assim como a tia, Esperanza cresceu na cozinha, acostumando-se a vê-la preparar as comidas. Pedro não procurava mais a esposa, e teve, enfim, relações com Tati. O fantasma de Mamãe Elena passou a assombrar Tati, até que ela a enfrentou, expulsando-a de casa, mas o espírito transformou-se em uma luz que atingiu uma lamparina de querosene fazendo com que Pedro fosse ferido pelo fogo.
      Pedro pediu que Tati cuidasse de seus ferimentos, o que revoltou Rosaura, que disse não querer mais nada com o marido, mas que proibia os dois assumirem publicamente um relacionamento, exigindo que respeitassem o seu casamento. Com os seus sentimentos divididos, Tati resolveu não casar com o dr. Brown. Muitos anos se passaram, Rosaura morreu, e no dia do casamento de Esperanza com o filho do dr. Brown, enfim Tati e Pedro ficaram juntos.
      “Por vinte anos tinha respeitado o pacto que ambos haviam estabelecido com Rosaura e já estava cansada. O acordo consistia em que levando em consideração que para Rosaura era vital continuar aparentando que seu matrimônio funcionava às mil maravilhas e que para ela era importantíssimo que sua filha crescesse dentro da sagrada instituição da família, a única coisa que segundo ela lhe daria uma forte formação moral, Pedro e Tita haviam se comprometido a serem o mais discretos possível em seus encontros e a manter oculto seu amor. Diante dos olhos dos demais sempre seriam uma família o mais normal possível. Para isto, Tita devia renunciar a ter um filho ilícito. Para compensá-la, Rosaura estava disposta a compartilhar Esperanza com ela da seguinte maneira: Tita se encarregaria da alimentação da menina e Rosaura de sua educação.”
      Sozinhos em casa, pela primeira vez Tati e Pedro poderiam ficar juntos sem se preocuparem em esconder os seus sentimentos dos outros. Tati lembrou de uma antiga estória indígena, segundo a qual se uma emoção muito forte chegasse a acender todos os fósforos que cada pessoa tem dentro de si, produziria-se uma luz tão forte, que iluminaria um túnel mostrando o caminho que esquecemos ao nascer, “e que nos chama para reencontrar nossa perdida origem divina”. Ao poderem, enfim, ficar juntos, Pedro encontrou esse túnel, morrendo na cama.
      Sem querer ficar sozinha, Tati quis partir em encontro do seu amado: “Tinha de encontrar uma maneira, ainda que artificial, de provocar um fogo tal que pudesse iluminar esse caminho de regresso a sua origem e a Pedro. (...) Começou a comer um a um os fósforos contidos na caixa. Ao mastigar cada fósforo cerrava fortemente os olhos e tentava reproduzir as recordações mais emocionantes entre Pedro e ela.” E com essas lembranças, Tati conseguiu fazer acender os fósforos dentro de si e a ver o túnel, onde estava Pedro a esperá-la.
      Os corpos ardentes de Pedro e Tati incendiaram a cama e todo o rancho, destruindo tudo. O livro é narrado em primeira pessoa, e em seu final descobre-se que é a filha de Esperanza, sobrinha-neta de Tati, que conta a história. Ela baseou-se no livro em que a tia-avó tinha as suas receitas de família e anotações do seu amor proibido, uma das poucas coisas a serem resgatadas do incêndio.
      A expressão mexicana “como água para chocolate” significa estar “fervendo de raiva”. Naquele país o chocolate quente é feito fervendo ele com água. O livro foi adaptado para o cinema em 1992, com direção de Alfonso Arau. Fica aqui o registro da minha leitura. fr 

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