2013
Você eu não sei, mas eu estou preocupadíssimo com a
revelação de que os americanos têm monitorado tudo que é dito e escrito no
Brasil nos últimos anos. Ouvem nossos telefonemas, leem nossos e-mails e,
provavelmente, examinem o nosso lixo, atrás de indícios da nossa
periculosidade. O que me preocupa é que essa informação, depois de coletada e
classificada, é analisada talvez pelas mesmas pessoas que nunca duvidaram que o
Saddam Hussein tivesse armas de destruição em massa e nunca estranharam que os
sequestradores daqueles aviões que derrubaram as torres, no onze de nove, não
se interessassem pelas aulas de aterrissagem nos seus cursos de aviação. Quer
dizer, que garantia nós temos que não se enganarão de novo, e verão ameaças à
segurança americana nas nossas comunicações mais inocentes? Um simples
telefonema entre namorados (“desliga você”, “não, desliga você”) pode ser
interpretado como parte de um plano para sabotar centrais elétricas. Um pedido
para troca de bujão de gás, uma evidente referência cifrada à explosão da Casa
Branca. O fato é que tenho tentado recapitular todos os meus telefonemas e
e-mails nos últimos anos, com medo de que um deles, mal interpretado, acabe
provocando minha aniquilação por um drone.
Ou então me vejo chegando aos Estados Unidos, sendo
barrado por um agente da imigração e levado para uma sala sem janelas, onde sou
cercado por outros agentes, provavelmente da CIA, que me pedem explicações
sobre um telefonema, obviamente em código, que fiz antes de viajar. Reconheço
minha voz na gravação.
– O que quer dizer “à calabresa”, Mr. Verissimo? –
pergunta um dos agentes.
Estou confuso. Não consigo pensar. Calabresa,
calabresa…
– Alguma referência à máfia? Uma ligação da
organização terrorista à qual o senhor evidentemente pertence, como a camorra,
visando a um atentado aqui nos Estados Unidos? O senhor veio se encontrar com a
máfia americana para acertar os detalhes do complô. É isso, Mr. Verissimo?
– Não, não. Eu…
– Notamos que, mais de uma vez na gravação, o
senhor diz “sem orégano, sem orégano”. Deduzimos que há uma divergência dentro
do complô entre vocês e a máfia, uns a favor de se usar “orégano” no atentado,
outros contra. O que, exatamente, significa “orégano”?
Finalmente, me dou conta.
– Orégano significa orégano. Eu estava pedindo uma…
– Por favor, não faça pouco da nossa inteligência,
Mr.Verissimo. Não gastamos milhões de dólares para ouvir que orégano significa
orégano.
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