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terça-feira, 25 de abril de 2023

Chico Buarque recebe Prêmio Camões após 4 anos de intolerância e ódio


Enfim, o escritor e cantor Chico Buarque de Holanda recebeu o Prêmio Camões, após quatro anos de espera. A cerimônia ocorreu ontem no Palácio de Queluz, local onde nasceu e morreu D. Pedro I, e onde eu estive com minha mãe em 2018; e já contei aqui no meu blog sobre a minha viagem a Portugal, com fotos que eu fiz. O Prêmio é de 2019, mas, infelizmente, o então presidente Jair Bolsonaro recusou-se a entregá-lo a Chico Buarque por questões meramente políticas. O presidente Lula está em visita oficial a Portugal e fez questão de entregar o prêmio, com a presença do presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa.

Em seu discurso, Chico Buarque lembrou o pai:

“Ao receber esse Prêmio eu penso no meu pai, o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda, de quem herdei alguns livros e o amor pela língua portuguesa. Relembro quantas vezes interrompi seus estudos para lhe submeter meus escritos juvenis, que ele julgava sem complacência e sem excessiva severidade, para em seguida me indicar leituras que poderiam me valer numa eventual carreira literária. 

Mais tarde, quando me bandeei para a música popular, não se aborreceu, longe disso, pois gostava de samba, tocava um pouco de piano e era amigo próximo de Vinicius de Moraes, para quem a palavra cantada talvez fosse simplesmente um jeito mais sensual de falar a nossa língua. Posso imaginar meu pai coruja ao me ver hoje aqui, se bem que, caso fosse possível nos encontrarmos neste salão, eu estaria na assistência e ele cá, no meu posto, a receber o prêmio Camões com muito mais propriedade.”

E finalizou, destacando a importância da derrota do governo de Bolsonaro, a quem fez questão de fazer um agradecimento público:

“Quatro anos com uma pandemia no meio davam às vezes a impressão que um tempo bem mais longo havia transcorrido. No que se refere ao meu país, quatro anos de governo funesto duraram uma eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás. Aquele governo foi derrotado nas urnas mas nem por isso podemos nos distrair, pois a ameaça facista persiste, no Brasil e por toda parte. Hoje, porém nessa tarde de celebração, reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para assinatura do nosso presidente Lula.

Recebo esse prêmio menos como uma honraria pessoal e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo. Muito obrigado.” Na foto acima, Chico Buarque recebe o diploma. Ao lado, os presidentes de Portugal e do Brasil.  fr 

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