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terça-feira, 21 de maio de 2024

Portugal diz que não pagará indenizações pelos crimes da colonização. E nem poderia, mas deve ter uma postura de respeito aos brasileiros.


        O ministro das Relações Exteriores de Portugal, Paulo Rangel, afirmou que o país não tem a intenção de pagar indenizações pelos crimes cometidos nas nações que colonizou. A declaração foi dada no dia 15 deste mês, no Parlamento português: “Não haverá um processo ou programa de ações específicas para indenizar outros países pelo passado colonial português. (...) Mas quando for justo pedir desculpas, o faremos, como no caso do massacre de Wiriyamu.” Referia-se a Moçambique, em que 400 civis foram assassinados durante a guerra de independência, em 1972. O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, havia reconhecido, no dia 23 do mês passado, os crimes cometidos pelo seu país durante o período de colonização, e que “devemos pagar os custos”. Mas não disse como.
      Minha opinião: Eu não sou favorável que o governo brasileiro fique estimulando expectativas de que Portugal vá pagar pelos crimes que cometeu durante a colonização em nosso país. Foram bens e riquezas saqueados; tortura, escravidão e assassinato de indígenas e africanos, entre outros. Como colocar preço em vidas humanas? Como esperar que um país pequeno, que não tem uma indústria forte e vive apenas do setor terciário, principalmente do turismo, possa ter recursos para reparar todas as riquezas que pilhou? E o ouro? Qualquer valor seria baixo demais. Se não podem pagar pelo mal que fizeram, podiam, pelo menos, reconhecer o que fizeram de errado e adotar uma postura mais respeitosa com os brasileiros que viajam a Portugal, seja a turismo ou em busca de trabalho. Seria bastante útil para Brasil e Portugal manterem uma relação amigável e produtiva.
        Não há registros precisos de quanto ouro foi retirado das nossas terras durante a colonização portuguesa, até porque muitos documentos da época foram destruídos durante os séculos e também porque havia muito contrabando. Algumas estimativas defendem que Portugal extraiu, pelo menos, 128 toneladas, mas há quem acredite que foi muito mais e que o total gire em torno de 200 toneladas. Seja como for, foi muito ouro, que daria para fazer de Portugal uma das nações mais poderosas e respeitadas até hoje. Mas a Coroa portuguesa usou grande parte desse tesouro para reconstruir a cidade de Lisboa, destruída pelo terremoto de 1755, e para pagar dívidas com a Inglaterra, que se beneficiou bastante do nosso ouro. Vai ver que é por isso que os ingleses costumam falar que Portugal e Inglaterra são “aliados” históricos, porque eles sempre conseguem muitas vantagens do seu “aliado”, e não é de hoje. Até parece que Portugal teria condições de ressarcir todas as riquezas que tirou daqui.
        Os portugueses costumam alegar que o Brasil “nem existia” como país na época da colonização. É verdade. Mas é verdade também que o Brasil ressente-se até hoje de tudo que foi explorado, para nós restou apenas os custos ambientais e financeiros da colonização. Portugal somente veio a criar a primeira instituição superior do Estado português em território brasileiro, por exemplo, em 1808, e ainda assim devido à transferência da família real para cá, fugindo das tropas francesas de Napoleão. As primeiras universidades brasileiras foram abertas após a independência, já no século 20. A Espanha, por sua vez, abriu universidades em suas colônias desde o século 16.
        Em Portugal, eles procuram eximir-se da violência praticada contra indígenas e africanos, dizendo que “eram outros tempos”. O escritor e jornalista brasileiro Eduardo Bueno, autor de vários livros sobre a colonização no Brasil (leiam os comentários que eu fiz sobre os livros aqui, no meu blog), recentemente contestou essa tentativa de fugir das responsabilidades, em entrevista à imprensa:
        - Se eles dizem que não podemos julgar as pessoas pela mentalidade de hoje, lembro que desde Roma [antiga] havia vozes que se erguiam contra a escravidão. E pessoas dignas, como Bartolomeu de las Casas e Damião de Góis, defendiam que os indígenas tinham alma e não poderiam ser escravizados. Então, Portugal tem que assumir e a extrema direita tem que ser calada.
        Atualmente, tomamos conhecimento constantemente de casos vergonhosos de xenofobia (antipatia e ódio contra estrangeiros) em Portugal contra brasileiros. E é muito comum ouvir esses portugueses ignorantes e cheios de ódio dizerem aos brasileiros “volta para tua terra!” Esses idiotas parecem esquecer que Portugal é um dos países que mais exporta mão de obra no mundo. Milhões de portugueses saíram do país durante o longo período de Salazar, fugindo da ditadura e para não lutar nas guerras pela independência das colônias africanas. Foram para vários países, inclusive para cá, no Brasil. E hoje em dia, outros milhares de portugueses saem em busca de emprego nos Estados Unidos, Canadá, França, Inglaterra, Alemanha e outros países.
        Para os idiotas cheios de ódio funciona o seguinte raciocínio (egoísta e hipócrita): os portugueses podem sair para viver e trabalhar fora, mas os brasileiros e outros estrangeiros não podem fazer o mesmo em Portugal. fr

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