O compositor e cantor Noel Rosa (1910-1937) ficou imortalizado na História da nossa música, apesar de ter morrido tão jovem, aos 26 anos. O artista sempre levou uma vida desregrada, passando os dias na boemia, bebendo e fumando muito. Em 1934, o amigo e médico Edgar Graça Mello diagnosticou que Noel Rosa estava com tuberculose, com o pulmão direito já funcionando mal, e recomendou que ele passasse a alimentar-se melhor, dormir bem e procurasse um lugar mais tranquilo para repousar. Noel viajou para Belo Horizonte, onde ficou na casa de sua tia Carmen, mas acabou não aguentando muito tempo longe da rotina que levava no Rio. Em 27 de janeiro de 1935, usando da poesia, o compositor escreveu uma carta para o seu médico para contar como ia sua recuperação. A carta foi transformada em uma música por João Nogueira, em 1978.


“Meu dedicado médico e paciente amigo Edgar.
Um abraço.
Se tomo a liberdade de roubar mais uma vez seu precioso tempo, é porque tenho certeza de que você se interessa por mim muito mais do que eu mereço.
Assim sendo, vou passar a resumir as notícias que se referem à marcha do meu tratamento.
E, para amenizar as agruras que tal leitura oferece, resolvi fazer uso das quadras que se seguem:
Já apresento melhoras:
Pois levanto muito cedo
E… deitar as nove horas,
Para mim, é um brinquedo!
A injeção me tortura
E muito medo me mete;
Mas… minha temperatura
Não passa de trinta e sete!
Nessas balanças mineiras
De variados estilos
Trepei de várias maneiras
E... pesei cinquenta quilos!
Deu resultado comum
O meu exame de urina.
Meu sangue: — noventa e um
Por cento de hemoglobina.
Creio que fiz muito mal
Em desprezar o cigarro:
Pois não há material
Pra meu exame de escarro!
Até agora, só isto.
Para o bem dos meus pulmões,
Eu nem brincando desisto
De seguir as instruções.
Que o meu amigo Edgar
Arranque deste papel
O abraço que vai mandar
O seu amigo Noel”
Um abraço.
Se tomo a liberdade de roubar mais uma vez seu precioso tempo, é porque tenho certeza de que você se interessa por mim muito mais do que eu mereço.
Assim sendo, vou passar a resumir as notícias que se referem à marcha do meu tratamento.
E, para amenizar as agruras que tal leitura oferece, resolvi fazer uso das quadras que se seguem:
Já apresento melhoras:
Pois levanto muito cedo
E… deitar as nove horas,
Para mim, é um brinquedo!
A injeção me tortura
E muito medo me mete;
Mas… minha temperatura
Não passa de trinta e sete!
Nessas balanças mineiras
De variados estilos
Trepei de várias maneiras
E... pesei cinquenta quilos!
Deu resultado comum
O meu exame de urina.
Meu sangue: — noventa e um
Por cento de hemoglobina.
Creio que fiz muito mal
Em desprezar o cigarro:
Pois não há material
Pra meu exame de escarro!
Até agora, só isto.
Para o bem dos meus pulmões,
Eu nem brincando desisto
De seguir as instruções.
Que o meu amigo Edgar
Arranque deste papel
O abraço que vai mandar
O seu amigo Noel”
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