SEJA ÉTICO

SEJA ÉTICO: Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução do conteúdo deste blog com a devida citação de sua fonte.

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

“Presença dos Estados Unidos no Brasil (dois séculos de história)”, Moniz Bandeira

“Presença dos Estados Unidos no Brasil (dois séculos de história)”, Moniz Bandeira; 2ª edição, Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1978, 500 páginas.

O autor realizou extensa pesquisa sobre a influência, e interferência, dos Estados Unidos no Brasil em um período histórico que abrange desde parte do período colonial, passando pelo Império até o golpe que depôs o governo de João Goulart, com forte apoio estadunidense. A bibliografia utilizada inclui documentação de arquivos públicos e particulares, no Brasil e no exterior, como os arquivos do ex-presidente Getúlio Vargas e do diplomata Oswaldo Aranha, além de ter realizado várias entrevistas, como a que fez com o ex-presidente Juscelino Kubitschek. Moniz Bandeira realizou todo o trabalho de pesquisa, sem contar com uma equipe de apoio, apenas a colaboração de amigos estudiosos, políticos e historiadores.

Conjuração Mineira:
Em 1786, três anos antes da Conjuração Mineira, o estudante brasileiro José Joaquim da Mata encontrou-se com o então ministro dos Estados Unidos na França, Thomas Jefferson, para pedir o apoio daquela nação, que recentemente conquistara a sua independência da Inglaterra. Mata disse-lhe que os brasileiros dispunham de 26 milhões de dólares, mas precisavam “da ajuda dos Estados Unidos, em artilharia, munições, navios, marinheiros, soldados e oficiais”. O futuro presidente dos Estados Unidos respondeu que o seu país via com agrado a revolução e que poderia fornecer “navios e gente”, mas somente depois da revolução ter sido vitoriosa, e com a condição de que o Brasil “lhes comprasse trigo e bacalhau”. Explicou, porém, que não queria romper com Portugal com quem tinham um “tratado vantajoso”.

Amazônia:
A cobiça dos Estados Unidos pela Amazônia é antiga. Em 1829, os EUA reivindicaram a abertura do Amazonas sob o pretexto de “exploração científica”, já que a navegação de navios estrangeiros era proibida pelo Império brasileiro, e nos anos seguintes insistiram nisso. Após a “guerra contra o México, a conquista do Texas, do Arizona e da Califórnia”, na década de 1840, “o nacionalismo e o expansionismo beiravam, nos Estados Unidos, as raias do delírio”. [Em 1845], Coube ao Tenente Mathew Fontaine Maury, “agitar na imprensa e nas convenções dos Estados Unidos o interesse pela Amazônia. Maury queria que os americanos colonizassem o Norte do Brasil, transplantando para o Vale do Amazonas parte da população negra dos Estados Unidos. (...) Inexauríveis riquezas, que Maury apontava no Amazonas, despertavam a cobiça dos americanos.” Sua proposta recebeu apoio dos expansionistas e da imprensa estadunidense, e “o Departamento de Estado desfechou ofensiva a fim de forçar o Império à abertura do Amazonas”. “Comparava-se o Amazonas ao Oceano e daí se deduzia que os barcos americanos podiam navegá-lo no exercício de um direito natural. Essa arguição indicava, francamente, o ânimo de recorrer às armas, para assegurá-lo, se necessário, numa segunda etapa. O pedido de abertura do Amazonas constituía o prólogo do projeto. Se o Império cedesse, temendo as ameaças, grupos de americanos emigrariam para as suas margens e fomentariam o separatismo, tal como ocorreu no Texas e na Califórnia. O Governo dos Estados Unidos, para defendê-los, invocaria o direito de primi occupantis [o primeiro ocupante]. Caso o Império, porém, insistisse no fechamento, restar-lhe-ia a alternativa de reclamar pelas armas o que apresentava como jus naturalis [um direito superior e anterior às leis criadas pelos governos].”

O Brasil não se curvou às pressões dos Estados Unidos, mas depois de anos acabou permitindo a entrada de estrangeiros no Amazonas. “O professor Louis Agassiz conseguiu, em 1866, autorização para entrar no Amazonas, em caráter científico, e, em 7 de dezembro de 1866, D. Pedro II assinou o decreto que o franqueava à navegação. Os americanos nunca tiraram os olhos da Amazônia.”

Golpe de 1964:
Na República, a influência e interferência dos Estados Unidos aumentaram consideravelmente, com aquele país ameaçando com tarifas aos produtos brasileiros, pressões para o governo brasileiro seguir a política externa estadunidense; e interferência na política interna brasileira. No início da década de 1960, o governo e multinacionais dos Estados Unidos financiaram opositores ao governo João Goulart, democraticamente empossado como presidente após a renúncia de Jânio Quadros.

“No princípio de 1963, o jornalista José Frejat denunciou, através de O Semanário que mais de cinco mil norte-americanos, fantasiados de civis, desenvolviam, no Nordeste, intenso trabalho de espionagem e de desagregação do Brasil, para dividir o território nacional. Se estourasse a luta interna, segundo ele, a Esquadra do Caribe estaria pronta e instruída para apoiar a atividade dos civis norte-americanos, fornecendo-lhes armas e tropas.”

De acordo com o jornalista, o consulado dos EUA em Recife contrabandeava armas e munição para o Brasil, e o cônsul, Douglas McLean, era um “agente da CIA”, um dos responsáveis por coordenar as operações no Nordeste. “Eram os boinas verdes (green herets), forças especiais, que já atuavam em cerca de 50 países, com a tarefa de enfrentar, como um braço da CIA, os movimentos de esquerda,promovendo, subterrraneamente, a contrarrevolução.” O resultado todo mundo sabe: o governo de João Goulart, bom ou ruim, não importa, mas democrático, foi deposto por um golpe militar em 1964, com a participação de opositores civis (que, depois, foram presos e cassados) e o apoio dos EUA, dando início a uma ditadura que durou 21 anos. Por incrível que pareça, hoje, em pleno século 21, o Brasil continua sofrendo esse tipo de intimidação, com ameaças de imposição de tarifas econômicas e discursos imperialistas sobre o território brasileiro! Vergonhosamente, com o apoio de alguns brasileiros e brasileiras. fr

Nenhum comentário: