
Machado de Assis retoma ao livro
“Memórias Póstumas de Brás Cubas”, através do personagem Quincas Borba, 10 anos
depois. No prólogo da terceira edição de “Quincas Borba”, ele comenta que “um
amigo e confrade ilustre” “teimava” para que o autor viesse a dar continuidade
a ele, através da personagem Sofia, fechando, assim, uma trilogia. Machado
chegou a considerar essa possibilidade, mas decidiu que não o faria: “A Sofia
está aqui toda. Continuá-la seria repeti-la, e acaso repetir o mesmo seria um
pecado”. E acrescenta que foi tachado justamente de ser repetitivo em seus
livros, e terminou o prólogo agradecendo àqueles que o defenderam. Mesmo assim,
o autor voltaria a retomar um personagem de um livro para o outro, com o
conselheiro Aires, em “A Mão e a Luva”, de 1874, e “Memorial de Aires”, de
1908, seu último romance. Estes dois livros eu já comentei aqui, no meu blog.
Em “Quincas Borba”, apesar do
título é o professor Rubião que tem sua estória contada. Ele cuidou de Quincas
durante seis meses, quando este apresentava problemas mentais, e recebeu dele
uma fortuna de herança, com a condição no testamento de que cuidasse de seu
cachorro, que levava o nome do dono. Rico, Rubião resolve deixar sua cidade,
Barbacena, e ir para a Corte, no Rio de Janeiro. No caminho, na estação de
trens de Vassouras, conhece o casal Cristiano Palha e sua esposa, Sofia. Com o
tempo, Rubião apaixonou-se pela esposa do amigo, e acreditava que o interesse
era recíproco, já que ela não o afastava, chegando a ser atrevido com ela em
determinado momento, mostrando o seu interesse. Ela denuncia ao marido o
comportamento de Rubião, mas ele pede que o tolere, já que devia muito dinheiro
ao amigo mineiro.
Com o tempo, Rubião e Palha se
aproximam mais e mais, chegando a se tornar sócios. Rubião tentou, mas não
conseguiu indicação para ser deputado; àquela época, como atualmente, na
política contava mais a influência do que o preparo. Ele vivia cercado de
falsos amigos, que frequentavam sua casa para comer e lhe pedir dinheiro
emprestado, e passou a demonstrar confusão mental. Gastava muito, e sem
controle. Atenção, a seguir vou escrever
informações sobre o final do livro, então, quem não quiser saber
antecipadamente, pare aqui!
Palha soube aproveitar-se da
amizade, e, com o tempo, conseguiu ascender socialmente; quando não precisou
mais do amigo, inventou uma desculpa e desfez a sociedade, passando a evitá-lo,
assim como Sofia, que acreditava que ele perdera a razão pelo amor que lhe
tinha. Para dar um ano ao período da estória, no início de 1870 Rubião deixava
claro às pessoas estar com problemas mentais; assim como o homem que lhe fez
herdeiro. Alternava momento de lucidez com outros em que acreditava ser
Napoleão III. Com a perda de grande parte da fortuna, mesmo ainda restando uma
boa soma, mas, principalmente, da razão, as pessoas o abandonaram, passando a
trata-lo com frieza e indiferença. Somente uma pessoa interessava-se em ajudá-lo,
mesmo sem ter muita proximidade a ele, mas por compaixão, D. Fernanda. E por
insistência dela, Rubião acabou internado por Palha para se tratar.
Apesar do otimismo do médico, e
que dizia estar confiante em curá-lo em mais algum tempo de internação, Rubião
foge da casa de saúde e retorna para sua cidade, Barbacena. Assim como aconteceu
com Quincas Borba, ele passa a viver na rua, acaba doente e em poucos dias
morrendo. Sem nunca ter casado. O cachorro, novamente sem dono, morre três dias
depois. Curioso ler que à época dos acontecimentos do livro, que se passam no final
do século 19, as mulheres pouco mostravam do corpo em público, os braços estavam
quase sempre cobertos, que diferença de hoje em dia! rsrs As mulheres tinham
por objetivo um bom casamento, mesmo sem amor ou afinidades com o noivo, e
preocupavam-se quando se aproximavam dos 30 anos solteiras. As pessoas se
locomoviam de charretes e aqueles com mais condições financeiras, passeavam de
cavalo pela cidade. A estória foi inicialmente publicada na revista “Estação”,
de 1886 a 1891, quando passou ao livro. Em “Quincas Borba”, Machado de Assis
não usa a figura de um personagem como narrador, como em outras de suas obras,
é ele próprio, o autor, que narra a estória. Mas mantém o uso de capítulos,
neste caso, 201 capítulos. Recomendo! fr
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