SEJA ÉTICO

SEJA ÉTICO: Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução do conteúdo deste blog com a devida citação de sua fonte.

sábado, 14 de abril de 2018

Dica de livro: "Quincas Borba"

Quincas Borba, Machado de Assis, São Paulo, editora Klick, 1997, 191 páginas (Coleção Livros O Globo, vol. 7).
Machado de Assis retoma ao livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, através do personagem Quincas Borba, 10 anos depois. No prólogo da terceira edição de “Quincas Borba”, ele comenta que “um amigo e confrade ilustre” “teimava” para que o autor viesse a dar continuidade a ele, através da personagem Sofia, fechando, assim, uma trilogia. Machado chegou a considerar essa possibilidade, mas decidiu que não o faria: “A Sofia está aqui toda. Continuá-la seria repeti-la, e acaso repetir o mesmo seria um pecado”. E acrescenta que foi tachado justamente de ser repetitivo em seus livros, e terminou o prólogo agradecendo àqueles que o defenderam. Mesmo assim, o autor voltaria a retomar um personagem de um livro para o outro, com o conselheiro Aires, em “A Mão e a Luva”, de 1874, e “Memorial de Aires”, de 1908, seu último romance. Estes dois livros eu já comentei aqui, no meu blog.
Em “Quincas Borba”, apesar do título é o professor Rubião que tem sua estória contada. Ele cuidou de Quincas durante seis meses, quando este apresentava problemas mentais, e recebeu dele uma fortuna de herança, com a condição no testamento de que cuidasse de seu cachorro, que levava o nome do dono. Rico, Rubião resolve deixar sua cidade, Barbacena, e ir para a Corte, no Rio de Janeiro. No caminho, na estação de trens de Vassouras, conhece o casal Cristiano Palha e sua esposa, Sofia. Com o tempo, Rubião apaixonou-se pela esposa do amigo, e acreditava que o interesse era recíproco, já que ela não o afastava, chegando a ser atrevido com ela em determinado momento, mostrando o seu interesse. Ela denuncia ao marido o comportamento de Rubião, mas ele pede que o tolere, já que devia muito dinheiro ao amigo mineiro.
Com o tempo, Rubião e Palha se aproximam mais e mais, chegando a se tornar sócios. Rubião tentou, mas não conseguiu indicação para ser deputado; àquela época, como atualmente, na política contava mais a influência do que o preparo. Ele vivia cercado de falsos amigos, que frequentavam sua casa para comer e lhe pedir dinheiro emprestado, e passou a demonstrar confusão mental. Gastava muito, e sem controle. Atenção, a seguir vou escrever informações sobre o final do livro, então, quem não quiser saber antecipadamente, pare aqui!
Palha soube aproveitar-se da amizade, e, com o tempo, conseguiu ascender socialmente; quando não precisou mais do amigo, inventou uma desculpa e desfez a sociedade, passando a evitá-lo, assim como Sofia, que acreditava que ele perdera a razão pelo amor que lhe tinha. Para dar um ano ao período da estória, no início de 1870 Rubião deixava claro às pessoas estar com problemas mentais; assim como o homem que lhe fez herdeiro. Alternava momento de lucidez com outros em que acreditava ser Napoleão III. Com a perda de grande parte da fortuna, mesmo ainda restando uma boa soma, mas, principalmente, da razão, as pessoas o abandonaram, passando a trata-lo com frieza e indiferença. Somente uma pessoa interessava-se em ajudá-lo, mesmo sem ter muita proximidade a ele, mas por compaixão, D. Fernanda. E por insistência dela, Rubião acabou internado por Palha para se tratar.
Apesar do otimismo do médico, e que dizia estar confiante em curá-lo em mais algum tempo de internação, Rubião foge da casa de saúde e retorna para sua cidade, Barbacena. Assim como aconteceu com Quincas Borba, ele passa a viver na rua, acaba doente e em poucos dias morrendo. Sem nunca ter casado. O cachorro, novamente sem dono, morre três dias depois. Curioso ler que à época dos acontecimentos do livro, que se passam no final do século 19, as mulheres pouco mostravam do corpo em público, os braços estavam quase sempre cobertos, que diferença de hoje em dia! rsrs As mulheres tinham por objetivo um bom casamento, mesmo sem amor ou afinidades com o noivo, e preocupavam-se quando se aproximavam dos 30 anos solteiras. As pessoas se locomoviam de charretes e aqueles com mais condições financeiras, passeavam de cavalo pela cidade. A estória foi inicialmente publicada na revista “Estação”, de 1886 a 1891, quando passou ao livro. Em “Quincas Borba”, Machado de Assis não usa a figura de um personagem como narrador, como em outras de suas obras, é ele próprio, o autor, que narra a estória. Mas mantém o uso de capítulos, neste caso, 201 capítulos. Recomendo!  fr

Nenhum comentário: