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segunda-feira, 26 de agosto de 2019

O Botafogo e o Estádio General Severiano

           O Botafogo tem o estádio Nilton Santos, que é arrendado à prefeitura do Rio de Janeiro. Mas, o clube já teve um estádio próprio. Era o estádio que ficava na própria sede de General Severiano, e que tinha justamente este nome. Ele foi construído em 1912, e o seu primeiro jogo oficial ocorreu no ano seguinte, no dia 13 de maio, com a vitória alvinegra sobre o Flamengo por 1x0, gol de Mimi Sodré, pelo Campeonato Carioca. O casarão da sede, onde fica a tradicional sala de troféus do clube, foi inaugurado em 1928. 
 
Em 1938, o estádio foi ampliado, passando a ter uma arquibancada de cimento, e no jogo amistoso de reinauguração, o Botafogo venceu o Fluminense por 3x2. (Coincidentemente, o Botafogo venceu também o Fluminense no jogo de inauguração do Estádio Nilton Santos, à época ainda chamado de João Havelange, em 2007, por 2x1, dessa vez pelo Campeonato Brasileiro.)
Até a construção do Maracanã, o Botafogo jogava muito no estádio de General Severiano. O Botafogo foi campeão carioca duas vezes em seu estádio. Em 1934, vencendo o Andarahy, por 2x1. E em 1948, com o estádio com sua lotação máxima de 20 mil lugares totalmente ocupado, vencendo o Vasco da Gama por 3x1. Por General Severiano passaram vários craques botafoguenses. E foi lá que Garrincha treinou pela primeira vez, em 1953.
Em 1976, na gestão do então presidente do clube Charles Borer, o terreno da sede foi vendido para a Companhia Vale do Rio Doce, por conta da enorme dívida que o clube tinha com a União. (Uma curiosidade: o irmão do presidente Charles Borer, Cecil Borer, foi policial e é citado no livro “Cidade Partida”, de Zuenir Ventura, como tendo sido “símbolo da tortura” na primeira fase do golpe militar de 1964.) A dívida do Botafogo no início daquele ano era superior a 48,6 milhões de cruzeiros (uma situação bem parecida com a de 2019!, só que em reais). Em matéria de 1977, a revista 'Placar' detalhava a situação:
“Após avaliação do terreno pela Bolsa de Imóveis do Rio, o Botafogo vendeu sua área de 18.752m² no quarteirão das ruas General Severiano e Venceslau Brás e Avenida Lauro Müller à Vale do Rio Doce por 90 milhões de cruzeiros. Desse total, 58,4 milhões foram pagos em dinheiro, enquanto 31,6 milhões foram representados por quatro pavimentos num imóvel no centro da cidade, o edifício Clube da Aeronáutica, com 16 vagas na garagem (após a transação, o Botafogo alugou os quatro andares à própria Vale, obtendo assim uma receita mensal de 316 mil cruzeiros). Dos 58,4 milhões em dinheiro, porém, o clube só pôde ficar com uma parte, pois 48,6 milhões foram no mesmo ato transferidos à Caixa Econômica Federal.” 
          O estádio General Severiano foi demolido. O casarão somente não foi abaixo para a construção da nova sede da Vale do Rio Doce por conta da mobilização de torcedores. Eles conseguiram o tombamento do prédio no Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria do Município do Rio de Janeiro, através da lei nº 477, de 15/12/1983. O Botafogo passou a treinar e jogar em um estádio em Marechal Hermes, e depois no Estádio de Caio Martins, em Niterói. E a área administrativa e a diretoria se mudaram para o Mourisco Pasteur e, depois, para o Mourisco Mar, de sua propriedade, também no bairro de Botafogo.
          O Botafogo somente conseguiu voltar a General Severiano em 1994, graças à sua troca com a Companhia Vale do Rio Doce pela área do seu ginásio coberto no Mourisco, na Praia de Botafogo. Mas, o antigo estádio ficou apenas nos registros históricos e nas lembranças dos mais idosos. No ano seguinte, o clube inaugurou um complexo esportivo, com o casarão reformado e novamente como sede administrativa.

          Foram construídos um campo de futebol para treinamento, três piscinas sociais e uma semi-olímpica, um ginásio para 1.500 pessoas, quatro quadras poliesportivas e um hotel-concentração para os atletas. Em 2004, o clube reformou e ampliou o espaço, inaugurando o Centro de Treinamento João Saldanha. Eu já estive em General Severiano algumas vezes, mas pretendo arrumar um tempo para voltar lá e publicar fotos aqui no meu blog. (Fontes de referência: página oficial do Botafogo; Wikipédia; e revista ‘Placar’ nº 354, 4/02/1977, p. 19 a 21, Maurício Azedo, “A luta por uma relíquia. O Botafogo perde o campo. Mas pela sede há uma guerra”.) fr 

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