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quarta-feira, 28 de julho de 2021

"Memórias de Adriano", Marguerite Yourcenar

Memórias de Adriano”, Marguerite Yourcenar, tradução de Martha Calderato; Rio de Janeiro, editora Record, s/ano, 334 páginas (Coleção Mestres da Literatura Contemporânea, vol. 5).

       A autora criou uma autobiografia do imperador Adriano (76-138), baseada em vários anos de pesquisa, mesclando informações históricas com passagens ficcionais. O texto está na primeira pessoa, e Adriano estaria escrevendo uma carta ao filho adotivo Marco Aurélio, então com 17 anos, e que viria a sucedê-lo anos mais tarde. Aos 60 anos, uma idade avançada para a época, e doente, considerando-se próximo da morte, Adriano relataria em suas memórias passagens importantes de sua vida, visando orientar o sucessor.
       “Como acontece frequentemente, é justamente aquilo que não fui que a define [sua vida] com maior exatidão: bom soldado, mas não grande guerreiro; apreciador da arte, mas não o artista que Nero acreditava ser na hora da morte; capaz de crimes, mas não um criminoso.”
       Nessas memórias, Adriano fala sobre a família; sua admiração pela cultura grega; o casamento aos 28 anos, sem amor, com Sabina, sobrinha-neta de seu antecessor, o imperador Trajano; suas paixões, inclusive por outros homens; e suas carreiras militar e política. Adriano nasceu na região de Hispânia Bética, no território da atual Espanha, e era primo de Trajano. Ele contou com o apoio da esposa do imperador para ser adotado como filho e escolhido para sucedê-lo no trono, contra a vontade de muitos de seus inimigos.
        Adriano assumiu no ano de 117 e governou o Império Romano até a sua morte, em 138, sendo considerado um bom administrador. Preocupou-se com o tratamento mais humano aos escravos, defendeu os direitos das mulheres, reorganizou a estrutura administrativa do governo, e criou diversas cidades.
       Como imperador, passou a maior parte do tempo viajando pelas provinciais romanas: “Em vinte anos de poder, passei doze sem domicílio fixo. Vivia, alternadamente, nos palácios dos mercados da Ásia, nas tranquilas residências gregas, nas magníficas vilas providas de banhos e calefatores dos residentes romanos na Gália, em cabanas, ou em propriedades rurais.”
        Enfrentou e venceu a rebelião da Judeia de forma dura e implacável, impondo o ensino da cultura grega e o politeísmo, proibindo a prática de circuncisão e a presença de judeus. “A Judéia foi riscada do mapa e, por minha ordem, passou a chamar-se Palestina. Durante os quatro anos de guerra, cinquenta fortalezas e mais de novecentas cidades e aldeias foram saqueadas e aniquiladas; o inimigo perdeu perto de seiscentos mil homens ; os combates, as febres endêmicas, as epidemias custaram-nos mais de noventa mil.”
        Sem filhos, com 60 anos e doente, Adriano decidiu escolher o seu herdeiro, tendo que adotá-lo, como foi feito com ele. A sua primeira opção, Lúcio, acabou morrendo doente. Decidiu, então, adotar o senador Antonino Pio, de 50 anos aproximadamente, acertando que ele, por sua vez, adotaria Ânio Vero, então com 17 anos, cujo nome passou a ser Marco Aurélio. Antonino governaria de 138 a161. E Marco Aurélio, neto de Adriano, foi imperador romano de 161 a 180.
        Cada vez mais fraco, Adriano passou a desejar a morte, chegando a pedir que o seu chefe da caçadas o matasse, mas ele se recusou. Pediu também a um jovem médico, que diante da insistência fingiu concordar, saindo para pegar o veneno. Foi encontrado horas depois, morto com o veneno, por não querer desrespeitar o juramento de sua profissão. Adriano desistiu de apressar sua morte, o que veio a ocorrer meses depois, aos 62 anos. 
        “Memórias de Adriano” foi lançado em 1951, após um longo período de 30 anos em que a autora pesquisou sobre a vida do imperador e sua época, escreveu e reescreveu o texto. Marguerite Yourcenar nasceu na Bélgica em 1903, e naturalizou-se estadunidense em 1947; faleceu em 1987. No início da minha leitura, li o livro sem muito prazer, mas depois o meu amor pela História fez com que eu o lesse com mais interesse. Fica o registro. fr

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