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sexta-feira, 9 de julho de 2021

"O nome da rosa" (1986)

O NOME DA ROSA (“Le nom de La rose”)
Co-produção França, Itália e Alemanha Ocidental; 1986, Suspense
Direção: Jean-Jacques Annaud
Com: Sean Connery, Christian Slater, Feodor Chaliapin Jr., Ron Perlman, F. Murray Abraham
       Eu já tinha visto o filme há muito tempo, mas resolvi assistir novamente, agora que eu acabei de ler o livro do Umberto Eco. É a história de mortes misteriosas em uma abadia na Itália, em plena Idade Média, motivadas por um livro que desejam esconder. O filme faz muitas alterações em relação ao texto do livro de Umberto Eco, além de inverter a ordem de alguns acontecimentos. Algumas mudanças são compreensíveis para a adaptação, mas muitas não têm nada a ver com a história original.
       O personagem Salvatore, por exemplo, é descrito por Umberto Eco com feições animalescas, e no filme isso foi exagerado, ele ganhou uma corcunda e até revirava o cemitério em busca de ratos. Isso não faz sentido, já que ele era o ajudante do responsável pela despensa da abadia e tinha acesso fácil à comida. E Salvatore tentou matar frei Guilherme de Baskerville, jogando nele um tijolo do alto da abadia, o que nunca aconteceu no livro.
       Outra inclusão no filme foi a prática de autoflagelo por Berengário, o ajudante do bibliotecário, também não descrita no livro. No filme, o frei Guilherme sofre um acidente dentro da biblioteca, quase caindo de um alçapão e morrendo; mais uma vez isso não acontece na obra de Eco. As piores alterações, em minha opinião, mostram frei Guilherme contestando o inquisidor Bernardo Gui, representante papal, para defender pessoas acusadas de heresia.
       As decisões da Inquisição não podiam ser confrontadas, o que fez com que Bernardo Gui decidisse que Guilherme deveria ser levado à presença do papa João 22 para uma punição. Salvatore, Remigio e a jovem camponesa com quem Adso teve relações sexuais, foram condenados à fogueira pelo inquisidor e queimados no próprio local, sendo que a moça conseguiu ser salva pelos moradores da região, que perseguiram Bernardo Gui, e este, ao tentar fugir, tem a sua carruagem atolada e jogada de um penhasco, vindo a morrer. No final do filme, o noviço Adso chega a ficar em dúvida se seguiria com o seu mestre ou ficaria com a jovem, decidindo partir.
       No livro de Umberto Eco, nada disso aconteceu! Frei Guilherme não entrou em choque direto com Bernardo Gui, que partiu com os três acusados de heresia para terem suas sentenças confirmadas pelo papa, inclusive com a jovem camponesa, antes mesmo do incêndio que destruiu a abadia e a biblioteca. Quem não leu o livro, claro, não tem como identificar todas essas alterações, e outras, e pode até gostar do filme. Sean Connery está muito bem como frei Guilherme. Mas, para quem leu, com certeza fica uma sensação de que o filme conta uma outra história, e o livro é apenas o ponto de partida. fr 

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