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quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Leitura do livro: "Batismo de fogo", Mario Vargas Llosa

“Batismo de fogo”
, Mario Vargas Llosa, tradução de Milton Person; Rio de Janeiro, editora Record, s/ano, 373 páginas (Coleção Mestres da Literatura Contemporânea, vol. 15).
       O escritor peruano Mario Vargas Llosa (1936) estudou em colégio militar quando adolescente, e aproveitou essa experiência para criar a história do livro, lançado em 1962. Um grupo de adolescentes convive durante três anos no Colégio Militar Leôncio Prado, em Lima, tendo que suportar o rigor da disciplina imposta por seus superiores e lidar com a intimidação física e psicológica praticada pelos alunos mais fortes das séries mais adiantadas.
       Os alunos mais novos eram vítimas de um “batismo” no primeiro ano de colégio, que durava um mês, e eles eram chamados de “cães”, “perros” em espanhol. O título original do livro é justamente “La ciudad y los perros”. Em um sorteio nos dados, o aluno Porfírio Cava é incumbido por Jaguar de invadir a sala de um dos professores e roubar as questões da prova de Química, que seriam, depois, vendidas aos outros alunos. Ele, porém, quebra uma das janelas, ferindo-se e deixando uma evidência do delito.
       Com a intenção de se defender dos alunos veteranos e de se vingar das humilhações sofridas, Crespo, Tripé e Jaguar criaram o ‘Círculo’. Mas, após um veterano ter levado uma pedrada no rosto, o tenente Gamboa obrigou que o Círculo parasse com as suas atividades. Ricardo Arana, apelidado de “Escravo”, era o principal alvo das provocações e maus tratos dos companheiros, que constantemente faziam com que ele fosse punido com detenções, sem poder sair nos finais de semana do colégio.
       Solitário, ele só tinha um único colega com quem podia conversar, Alberto Fernández, que passou a protegê-lo. Ricardo Arana era vizinho de Teresa, e iria ter um encontro com ela, mas mais uma vez foi vítima dos veteranos, ficando detido no colégio, e pediu a Alberto que fosse avisá-la. Este acabou por apaixonar-se pela moça, escondendo isso do colega. Inconformado por estar detido, Ricardo resolve denunciar Portírio Cava para o tenente Remígio Huarina, e pede autorização para sair a fim de poder encontrar Teresa. Cava foi detido e depois expulso.
       Ao descobrir a saída de Escravo, Alberto pula o muro do colégio para encontrar os dois, mas encontra apenas Teresa a quem se declara. Ricardo não se encontrara com a vizinha, pois foi proibido de sair de casa pelo pai. No dia seguinte, em um exercício de campanha, em que era simulado um combate, Ricardo leva um tiro na cabeça e morre dias depois. Com remorsos, Alberto sente muito a morte do colega, e procura o tenente Gamboa para denunciar que a morte não foi acidental, e sim um assassinato praticado por Jaguar como vingança pela denúncia feita por Escravo.
       Todas as práticas ilícitas praticadas no colégio são levadas aos superiores, primeiro ao capitão e ao major, e depois ao coronel:
       “Alberto pigarreou e secou a testa com o lenço. Começou a falar com voz contida e hesitante, silenciada por longas pausas, mas à medida que relatava as façanhas do Círculo e a história do escravo, e insensivelmente incluía no relato outros alunos, descrevendo a estratégia utilizada para entrar com os cigarros e bebida, os roubos e as vendas das provas, as reuniões do Paulino, as fugas pelo estádio e pelo muro do La Perlita, as partidas de pôquer nos banheiros, os concursos, as vinganças, as apostas, a vida secreta da seção ia surgindo como um personagem de pesadelo diante do Capitão, que empalidecia cada vez mais, e a voz de Alberto ganhava desenvoltura, firmeza e ficava, em certos momentos, agressiva.”
       O coronel intimida Alberto e faz com que ele retire a acusação de assassinato, que sequer chega a ser formalizada, para evitar prejuízos à imagem do colégio e à sua própria. Mas praticamente todos os alunos da seção de Alberto são punidos com detenções. E o tenente Gamboa foi transferido para o interior do país, por ter insistido em levar adiante a acusação do aluno.
       O livro tem uma característica marcante: a alternância de narradores. Em um momento é Alberto que está contando os acontecimentos, logo depois Jaguar, Ricardo ou Tripé, em outro é na terceira pessoa, indefinido. E essa mudança não é feita com qualquer aviso, o leitor que trate de procurar alguma característica que identifique o personagem que está narrando. No final do livro, Jaguar acaba casando com Teresa. Eu confesso que não entendi esse desfecho, porque não identifiquei ao longo da história a ligação entre os dois.
       Até o tiro que acabou por matar Ricardo Arana, já na página 178, o livro é uma sucessão de acontecimentos próprios de adolescentes, como discussões e brigas, nada de muito interessante. Somente a partir da morte e da acusação feita por Alberto, é que o livro passa a despertar mais interesse. Mario Vargas Llosa recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 2010 pela sua obra, e concorreu à presidência do Peru em 1990, quando Alberto Fujimori foi eleito. Fica o registro da minha leitura. fr 

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