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terça-feira, 5 de julho de 2022

Dica de leitura: "Drácula", de Bram Stoker

“Drácula”, Bram Stoker, tradução de Adriana Lisboa; Rio de Janeiro, editora Nova Fronteira, 2011, 489 páginas.

      Eu já assisti a vários filmes sobre Drácula, um dos personagens de terror mais famosos do mundo, e resolvi ler o livro que deu origem a todas essas adaptações. “Drácula” foi escrito pelo irlandês Bram Stoker (1847-1912) e lançado em 1897. Eu registro em meu blog um resumo das minhas leituras, seguindo a minha interpretação e preferências pessoais, acerca do que mais me desperta o interesse.
      A história de “Drácula” é bastante conhecida, mesmo por quem nunca leu o livro, já que ela vem sendo adaptada há anos para o cinema, a televisão, teatro, histórias em quadrinhos, jogos e vários outros formatos. Ainda assim, no meu texto eu comento várias passagens do livro, portanto, quem não desejar ter conhecimento antecipado, pode decidir, a qualquer momento, se quer continuar lendo até o final ou não.
      A história do livro é contada pelo autor através de passagens registradas em diários pessoais e cartas dos personagens, reportagens de jornais e outros registros. Jonathan Harker é um advogado inglês enviado a um antigo castelo na região da Transilvânia, a fim de orientar um rico aristocrata, que estava comprando uma propriedade em Londres. O castelo fica no alto de um grande rochedo, 300 metros acima do topo de um precipício aonde os moradores locais não queriam ir à noite, por medo.
      O proprietário do castelo é ninguém menos do que o conde Drácula, “um homem alto e idoso, sem barba e com um bigode branco e comprido, vestido de preto da cabeça aos pés” e com caninos longos e pontudos, que saudou a chegada de Jonathan: “Entre, por sua livre e espontânea vontade!”. O castelo não tem espelhos, mas os seus móveis têm séculos de existência e são de grande valor, assim como os talheres e o serviço de chá, que são de ouro e “trabalhados de forma tão bela que devem ter um valor enorme”.
      Durante o dia o seu anfitrião sempre se ausentava, mas o quarto de Jonathan estava sempre arrumado e ótimas refeições estavam à mesa, apesar de o castelo não ter um único empregado. À noite, o conde interessava-se em saber tudo sobre Londres, os seus costumes e como era a cidade. As portas estavam sempre trancadas, e Jonathan se deu conta que era um prisioneiro no castelo, o qual passou a explorar, encontrando três vampiras sedentas de sangue, a quem o conde alimentou com um menino que ele trouxera em um saco.
      Em uma das noites, Jonathan viu Drácula sair pela janela do quarto, que ficava acima do seu, pela parede externa do castelo, como “um lagarto”, e, sabendo que seria entregue às vampiras quando não fosse mais útil a Drácula, arriscou descer até o quarto do conde. O curioso é que na página 62, Jonathan escreve em seu diário que a janela do seu quarto tinha barras. Ele encontrou Drácula deitado dentro de uma de 50 caixas, sobre “um monte de terra”.
      “Não saberia dizer se morto ou adormecido, pois seus olhos estavam abertos e imóveis, mas sem o aspecto vítreo dos olhos dos mortos, e a face tinha o calor da vida apesar de toda sua palidez”, descreve Jonathan em seu diário. Em seguida, ele retornou para o seu quarto. Essas 50 caixas de terra foram enviadas pelo conde para Londres a fim de serem espalhadas pela sua residência em Carfax, nome da localidade, e pelas outras propriedades que ele comprou naquela cidade, e onde ele poderia se esconder, caso necessário. É terra sagrada da Transilvânia.
      Após dois meses sendo mantido prisioneiro no castelo, Jonathan arriscou-se em uma fuga desesperada, conseguindo escapar, sendo encontrado e levado para um hospital em Budapeste, onde foi cuidado por freiras. Outra incoerência: Drácula podia controlar animas durante o seu repouso, então, por que não enviou lobos ferozes para impedir que Jonathan fugisse? Depois de recuperado, Jonathan retornou a Londres, onde reencontrou o conde Drácula meses depois.
      Com a ajuda de sua noiva, Mina Murray, e de outros quatro companheiros com quem se aliou por interesses comuns, Jonathan passou a perseguir o mestre dos vampiros. O grupo é formado pelo dr. John Seward, diretor de um hospício próximo da residência adquirida por Drácula em Carfax; Quincey Morrys, um estadunidense do Texas; e Arthur Holmwood, membro de uma tradicional família inglesa. Os três foram pretendentes da melhor amiga de Mina, a jovem Lucy Westenra, que escolheu o último para ficar noiva.
      A aliança foi completa pelo médico holandês Van Helsing, amigo e antigo professor do dr. Seward, e era quem tinha conhecimentos sobre os poderes e limitações dos vampiros. Os chamados “não mortos” não se alimentam como as pessoas normais, mas com sangue, quando ficam fortalecidos e podem até rejuvenescer; não projetam sombra e não refletem as suas imagens em espelhos.
      Drácula pode se transformar em lobo e morcego, e “pode chegar em meio ao nevoeiro que ele mesmo cria”. “Ele pode agir como quiser dentro de seus limites, quando habita em seu lar de terra, em seu túmulo, em seu lar infernal, num lugar profano”. Mas, o vampiro “não pode entrar em parte alguma antes dos outros, a menos que alguém da casa o convide a entrar” e “seus poderes terminam com o raiar do dia, como todas as coisas malignas”. E os pontos fracos dos chamados “não mortos” são a repulsa ao alho, ao crucifixo e à hóstia sagrada. A maneira de se matar um vampiro é cravando-lhe uma estaca no coração e cortando-lhe a cabeça.
      “O nosferatu não morre como a abelha, após ter picado uma vez. Ele é mais forte e, sendo mais forte, tem um poder ainda maior de fazer o mal. Este vampiro que está entre nós é forte como vinte homens; sua astúcia é sobre-humana, pois acumula-se há séculos. Ele conta ainda com a ajuda da necromancia, que, conforme diz a etimologia do termo, é a adivinhação feita através dos mortos, e todos os mortos de que ele pode se aproximar estão sob seu comando. Ele é cruel, ou mais do que isso; é desumano como o próprio Diabo, destituído de coração. Pode, com certas limitações, aparecer quando e onde lhe aprouver, e sob qualquer uma das formas de que dispõe. Pode, na medida do seu alcance, comandar os elementos; a tempestade, a neblina e o trovão. Pode comandar todos os seres inferiores: a ratazana, a coruja e o morcego, a mariposa, a raposa e o lobo. Pode crescer e diminuir de tamanho, e às vezes pode mesmo ir e vir sem ser notado.” Descrição, ainda, de Van Helsing.
      Lucy foi mordida no pescoço por Drácula quatro vezes seguidas, e precisou de quatro transfusões de sangue para ser salva: de Arthur, do dr. Seward, de Van Helsing e de Quincey Morrys. Chega a ser engraçado como eles tentavam protegê-la de Drácula, mas este conseguia atacá-la sucessivamente (não vou descrever em detalhes, para não tirar a graça de quem pretende ler o livro).
      Mesmo mordida por Drácula, Lucy não se transformara de imediato em uma vampira e pôde ser salva com as transfusões, mas após a quarta mordida Lucy acabou se transformando em uma “não morta”, e foi necessário ser morta “definitivamente” com uma estaca, a cabeça decepada e colocado alho em sua boca! Para combater o maior de todos os vampiros, o conde Drácula, e acabar com o terror que ele representava, o grupo estabeleceu um plano.
      Foram à sua casa em Carfax para esterilizar a terra de cada uma das 50 caixas, a fim de que o conde não tivesse mais onde se esconder. Van Helsing colocou hóstia sagrada nas 29 encontradas, e os outros foram às outras propriedades do conde fazer o mesmo com as demais: oito em Piccadilly, seis em Mile End e seis em Bermondsey. Faltava, portanto, uma caixa.
      Os homens decidiram poupar Mina, deixando-a de fora dessas perigosas missões, mas cometeram um erro enorme, não a protegeram colocando flores de alho, hóstias e crucifixos em seu quarto, deixando-a totalmente vulnerável aos ataques de Drácula. Mina foi controlada mentalmente, e o convidou a entrar no quarto, sendo mordida no pescoço, depois o conde “rasgou uma veia em seu próprio peito” para que ela provasse de seu sangue, em um “batismo” que a ligou ao vampiro, fazendo com que ela pudesse ver e ouvir onde Drácula estava.
      Outra incoerência: por que Mina convidaria o conde a entrar no quarto? E se Drácula tinha o poder de dominar a mente das pessoas e fazê-las convidá-lo a entrar onde estivessem, por que ele não o fez com todos os outros para, depois, matá-los? Van Helsing encostou uma hóstia sagrada na testa de Mina para protegê-la, mas essa a queimou, deixando uma cicatriz, que somente desapareceria quando ela não estivesse mais sob o poder de Drácula.
      A jovem estava em transformação, e pediu a todos que, em caso de vir a se tornar uma vampira, ela fosse morta com uma estaca e tivesse a cabeça decepada, a fim de poder ter paz. Sob a hipnose de Van Helsing, Mina relatava todos os dias ver e ouvir ondas batendo em um barco e água correndo. O grupo descobriu que o mestre de todos os vampiros pretendia fugir de volta à sua terra, na Transilvânia, embarcando em uma escuna com destino a Varga, na Bulgária, despachando-se dentro da única caixa restante com terra de sua região natal.
      Van Helsing e os demais partiram em sua perseguição, a fim de encontrá-lo durante o dia, assim que ele chegasse ao destino, indefeso, e poder matá-lo para sempre. Mas, Drácula também pôde penetrar na mente de Mina quando esta dormia e, assim, descobriu estar sendo perseguido, desviando a rota para Galatz, na Romênia. O grupo, então, partiu de trem atrás dele.
      Eu reparei mais uma incoerência: quando Drácula mordeu Mina, aproveitou também para invadir o escritório do dr. John Seward e queimou os manuscritos dos diários e outros documentos, sinal de que ele tinha conhecimento a respeito do que o grupo fazia e planejava. Mas, Van Helsin e os outros mantinham uma cópia datilografada de tudo em um cofre. Então, se Drácula tinha como saber o que o grupo fazia, por que não destruiu também o conteúdo do cofre, com as cópias? E por que não evitou, depois, que Van Helsing e os outros conseguissem chegar até as suas propriedades e esterilizassem as terras de suas caixas?
      Chegando a Galatz, conde Drácula contratou ciganos para que transportassem em uma carroça a caixa onde ele estaria deitado até o seu castelo, na Transilvânia, onde Van Helsing chegou primeiro, durante o dia, e matou de vez as três vampiras com a estaca no coração, cortando-lhes suas cabeças. O grupo cercou a carroça, travando uma luta com os ciganos para evitar que seguissem viagem e conseguissem chegar com Drácula a seu castelo, e pudessem matá-lo de vez antes do sol se por. Mina descreveu o fim da terrível aventura em seu diário:
      “Nesse instante, porém, vi o brilho e o movimento veloz do facão de Jonathan. Dei um grito agudo ao ver a lâmina cortar o pescoço do conde, enquanto a faca de Mr. Morris mergulhava em seu coração. Foi quase como um milagre, mas, diante de nossos olhos, e em menos de um segundo, todo o corpo se desfez em pó e desapareceu de nossa vista. Enquanto viver, guardarei a alegria de saber que mesmo no instante da dissolução final havia no rosto do conde uma expressão de paz tal como nunca imaginei possível a ele.”
    Após a morte definitiva de conde Drácula, a cicatriz na testa de Mina desapareceu, demonstrando ter acabado de vez a maldição que ela carregava. E o livro encerra com uma nota de Jonathan Harker, sete anos depois, contando ter retornado à Transilvânia com sua esposa, Mina: “Foi quase impossível acreditar que as coisas que tínhamos visto com nossos próprios olhos e escutado com nossos próprios ouvidos eram verdadeiras. Já não havia mais o menor traço delas. O castelo erguia-se como antes, alto, acima de uma terra árida e desolada”.
      O casal homenageou os amigos com a escolha do nome do filho, em especial ao amigo do Texas, que morrera no confronto com os ciganos: “É uma alegria a mais para Mina e para mim que o aniversário de nosso filho seja no mesmo dia em que Quincey Morris morreu. Sei que sua mãe acredita, em segredo, que algo do espírito de nosso valente amigo vive nele. Seu nome completo une todo o nosso pequeno grupo de homens, mas o chamamos de Quincey.”
      Eu gostei muito do livro, foi uma leitura prazerosa, que prendeu a minha atenção e interesse. O período de tempo descrito no livro, através das anotações pessoais dos personagens em seus diários, deu-se de 3 de maio a 6 de novembro, em algum ano do século 19. Bram Stoker estudou durante anos as lendas sobre vampiros, e o personagem Drácula foi inspirado no príncipe Vlad III, que viveu durante os anos de 1431 a 1476 e governou grande porção do atual território da atual Romênia. No século 5, essa região viveu constantes guerras pelo seu controle e Vlad III ficou conhecido pela forma cruel com que tratava os seus inimigos. A região da Transilvânia, na Romênia, atualmente aproveita a fama pelo personagem famoso e organiza passeios ao castelo onde Drácula supostamente teria vivido. Boa leitura!  fr 

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