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domingo, 11 de setembro de 2022

Dica de livro: "Tripulação de esqueletos", Stephen King

“Tripulação de esqueletos”
, Stephen King, tradução de Louisa Ibañez; Rio de Janeiro, editora Objetiva, 2013, 624 páginas.
      Livro com 21 contos de terror e suspense e um poema do escritor estadunidense Stephen King. Dos textos, eu gostei de três, os demais nem tanto. O primeiro é “O nevoeiro”, o maior de todos; sozinho tem 148 páginas! Uma forte tempestade causa vários transtornos aos moradores de uma pequena cidade do interior do estado do Maine, nos Estados Unidos, com a queda de várias árvores e falta de luz. David e o filho pequeno vão ao supermercado para comprar ferramentas para consertar os estragos na casa e mantimentos pedidos pela sua esposa.
      Os dois acabam presos junto a dezenas de outras pessoas no supermercado, que fica envolto a um misterioso nevoeiro em que se escondem ferozes criaturas monstruosas que devoram aqueles que tentam sair para a rua. O conto terminou sem dar ao leitor uma definição do que aconteceria com os poucos sobreviventes e até mesmo com o restante da humanidade, diante das monstruosas criaturas saídas de dentro do interior do planeta. Nem mesmo se a esposa de David, que ficara em casa, tinha conseguido sobreviver a essas criaturas.
      O próprio autor explica: “(...) não vá esperar alguma conclusão viável. Nada de E eles escaparam do nevoeiro, penetrando no bom calor do sol de um novo dia; ou Quando acordamos, finalmente a Guarda Nacional havia chegado; ou até mesmo o grande e velho chavão Foi tudo um sonho.” Stephen King reconhece que o final que ele deu ao seu conto pode desagradar a muitos: Suponho que seja o que meu pai costumava chamar, franzindo o cenho, “ ‘um final à Alfred Hitchcock’, com isto querendo indicar uma conclusão ambígua, permitindo que o leitor ou espectador formule a própria opinião sobre como tudo terminou. Meu pai nutria apenas desdém por tais histórias, chamando-as de ‘golpe baixo’.” Este conto foi adaptado para o cinema em 2007, e eu o assisti logo após finalizar a leitura deste livro, e comentarei aqui no meu blog amanhã.
      O conto que eu mais gostei foi “O processador de palavras dos deuses”. Richard Hagstrom tinha uma vida infeliz, com Lina, uma esposa dominadora que o desprezava e Seth, um filho adolescente inútil que não o respeitava. Após a morte de Jonathan, o seu sobrinho, ele recebeu um processador de palavras que o jovem construiu e iria lhe dar em seu aniversário. Richard era professor do Ensino Médio e escritor, mas os seus livros não alcançavam muito sucesso; o processador iria facilitar o seu trabalho.
      Jonathan era muito inteligente e interessado em eletrônica e Richard gostava muito dele. Ele era filho do seu irmão mais velho, Roger, que era um pai desatencioso, além de irresponsável e que bebia demais. O irmão casou-se com Belinda, a mulher por quem Richard era apaixonado. Dias antes, Roger dirigia bêbado e um acidente acabou por matar os três.
      Ao experimentar o processador, Richard passou a digitar frases aleatórias, enquanto pensava em como a sua vida era infeliz e como gostaria que as coisas fossem diferentes. Ao confirmar o comando DELETE ou EXECUTAR ele descobriu que o aparelho alterava a realidade, conforme o que ele digitava. Então, ele resolveu usar o processador para fazer algumas mudanças em sua vida, tornando-a como ele realmente queria que fosse. Livrou-se da mulher detestável e do filho imprestável, e fez com que Belinda e Jonathan fossem a sua família. Não dá para deixar de pensar como uma máquina dessas seria muito útil! 😄😄😄
      Gostei, também, do conto “Vovó”. Com o filho de 13 anos com a perna quebrada, jovem mãe precisa deixar George, o irmão dois anos mais novo, em casa com a avó, para visitá-lo no hospital. O problema é que George tinha grande medo da avó, uma idosa gorda, hipertensa, cega e senil, que tinha dificuldade de locomoção e vez ou outra tinha os seus acessos. Era quando agia como “caduca”, “chamando por pessoas que não existiam, mantendo conversas vazias, murmurando estranhas palavras que não faziam sentido”.
      Quando jovem, a sua avó tinha sofrido alguns abortos e seu médico lhe tinha dito que nunca mais poderia engravidar. Os seus avós, então, passaram a fazer uso de alguns livros de bruxaria, conseguindo ter vários filhos em sequência, em um total de nove. “Certa vez, contou mamãe, o vovô tentara convencê-la a se livrar dos livros, para ver se teriam filhos sem eles (ou se também não teriam mais porque, a essa altura, talvez ele achasse que já tinha filhos suficientes, e que não faria diferença), mas a vovó não quis.” Quando os “livros” foram descobertos, sua avó foi demitida da escola onde era professora, seus avós expulsos da igreja e tiveram que se mudar de cidade. Os anos se passaram, o avô morreu e a avó envelheceu e adoeceu, passando a ficar morando com a sua mãe, que não contava com a ajuda dos seus irmãos.
      Mesmo com medo, ao subir ao quarto da avó para ver como ela estava, George constatou que ela estava morta. Descendo à sala a fim de ligar para o médico e pedir orientações do que fazer, ele ficou horrorizado ao ver a avó descendo as escadas, indo em sua direção para lhe dar um abraço. George desmaiou e somente acordou com a chegada de sua mãe, percebendo que, de algum jeito, ele tinha recebido o poder sobrenatural da sua avó.
      Eu destaco, ainda, um conto bem sinistro, “Sobrevivente”, em que um médico ficou preso em uma ilha, após o seu barco afundar. Após passar dias sem ter o que comer, ele quebrou o tornozelo perseguindo uma gaivota; o ferimento se agravou e ele precisou amputar o pé, ele mesmo, usando os recursos que possuía no barco. O instinto de sobrevivência o fez comer o pé amputado. Com o avanço da decomposição da perna, ele foi amputando mais e se alimentando de seu próprio corpo. Muito sinistro mesmo!
      Stephen King completará 75 anos no próximo dia 27 deste mês, e já escreveu mais de 60 livros e aproximadamente 200 contos, a maioria associados a suspense e terror; muitos deles foram adaptados para o cinema e televisão. É um dos escritores mais traduzidos no mundo. Eu já escrevi sobre outro livro de Stephen King, “O cemitério”, no meu blog. fr

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