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segunda-feira, 17 de outubro de 2022

"1984", George Orwell: comentários

“1984”
, George Orwell, tradução de Alexandre Hubner e Heloísa Jahn; São Paulo, Companhia das Letras, 2009, 416 páginas.
      Eu terminei a leitura do livro “1984”, de George Orwell (1903-1950), um dos clássicos mais indicados e comentados do mundo, pelo menos nos países do Ocidente, claro. Este é um dos vários livros que muitos elogiam sem nunca ter lido, ou elogiam para não ficarem destoando justamente daqueles que o consideram um dos melhores da literatura mundial. Eu li porque é muito recomendado e citado.
      Não o considero ruim, apesar de ter quem o considere, mas também não o considero tão bom quanto fazem parecer. Mas, claro, respeito a opinião de todos! Eu publico no meu blog comentários acerca dos livros que eu leio, sem me preocupar em me aprofundar em debates literários, é a minha opinião.
      A mensagem do livro “1984” é considerada como um alerta para o perigo de governos ditatoriais e centralizadores no futuro, mas a história é muito exagerada. O livro foi lançado em 1949, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial e da derrota do nazismo, ainda com o stalinismo em andamento. O mundo estava impactado por tudo de ruim que vivera e ainda estava presenciando.
      Winston Smith, de 39 anos, vive em Londres, principal cidade da fictícia Faixa Aérea Um (antiga Inglaterra), terceira mais populosa província da Oceânia. É membro do Partido que governa o país, e funcionário do Ministério da Verdade, onde trabalha no Departamento de Documentação. Ele é um dos funcionários responsáveis por reescrever discursos oficiais e matérias do ‘Times’, jornal oficial, para fazer com que eles correspondam aos acontecimentos efetivamente ocorridos.
      A História é constantemente reescrita, várias e várias vezes, e os antigos registros eram substituídos e destruídos. O Partido controla todos os registros históricos e as mentes da população, portanto, a História é aquilo que o Partido decidir. O controle do passado é justamente o principal objetivo do “socing”, nova denominação do socialismo inglês, e a ideologia do Partido.
      “Esse processo de alteração contínua valia não apenas para jornais como também para livros, periódicos, panfletos, cartazes, folhetos, filmes, trilhas sonoras, desenhos animados, fotos – enfim, para todo tipo de literatura ou documentação que pudesse vir a ter algum significado político ou ideológico. Dia a dia e quase minuto a minuto o passado era atualizado. Desse modo era possível comprovar com evidências documentais que todas as previsões feitas pelo Partido haviam sido acertadas; sendo que, simultaneamente, todo vestígio de notícia ou manifestação de opinião conflitante com as necessidades do momento eram eliminados.”
      Oceânia é um país que, após uma revolução, passou a ter uma sociedade excessivamente burocrática e permanentemente controlada pelo governo, onde as liberdades individuais não são toleradas. O governo tem apenas quatro ministérios: “O Ministério da Paz cuida dos assuntos de guerra; o Ministério da Verdade trata das mentiras; o Ministério do Amor pratica a tortura; e o Ministério da Pujança lida com a escassez de alimentos”.
      As pessoas são vigiadas 24 horas por dia por “teletelas”, placas de metal semelhantes a um espelho fosco, que registram todos os movimentos, conversas e até mesmo alterações dos batimentos cardíacos das pessoas, seja em suas residências, locais de trabalho e até mesmo nas ruas. Elas também serviam para doutrinar a população, divulgando propaganda política favorável ao governo, sempre com informações falsas, totalmente opostas à realidade, destacando um suposto aumento da qualidade de vida e a falsa satisfação das pessoas com as medidas do governo.
      O controle é feito pela “Polícia das Ideias”, e qualquer manifestação de descontentamento ou discordância contra o governo, mesmo que sutil, era considerada um ato subversivo, com a consequente detenção e tortura, através da qual o Partido conseguia dos “criminosos” todas as confissões que desejasse inventar. Todos deviam pensar e agir de forma padronizada, sem individualidade, não deveriam pensar livremente.
      A Polícia das Ideias procurava identificar possíveis criminosos muito antes que eles pudessem vir a cometer qualquer crime contra o Partido. A punição podia ser de 25 anos de trabalhos forçados ou até mesmo a morte. Aqueles que eram executados tinham todos os seus registros totalmente apagados, inclusive citações e fotografias na imprensa e em documentos oficiais, tudo era manipulado para fazer com que eles fossem esquecidos. No idioma do “Novafala”, eles passavam a ser “despessoas”, ou seja, nunca tinham existido.
      O inglês, antigo idioma, chamado de “Velhafala”, foi substituído por um novo, o “Novafala”, que buscava reduzir o vocabulário ao máximo, a fim de controlar também a manifestação do pensamento. As palavras eram continuamente suprimidas; quanto menos palavras, menos as pessoas pensariam: “No fim teremos tornado o pensamento-crime literalmente impossível, já que não haverá palavras para expressá-lo.”.
      Em todo lugar de destaque viam-se pôsteres com a imagem do rosto enorme do Grande Irmão, o líder da revolução que teria acabado com a exploração capitalista na Oceânia. Com o seu bigode negro e os olhos escuros, ele está sempre a acompanhar as pessoas por onde elas andam, como a lembrá-las permanentemente de estarem sendo vigiadas. Abaixo da pintura, o aviso: “O GRANDE IRMÃO ESTÁ DE OLHO EM VOCÊ”. O culto à imagem estava presente em tudo, inclusive nas moedas.
      “Ali também, em letras minúsculas e precisas, estavam inscritos os mesmos slogans, e do outro lado da moeda via-se a cabeça do Grande Irmão. Até na moeda os olhos perseguiam a pessoa. Nas moedas, nos selos, nas capas dos livros, em bandeiras, em cartazes e nas embalagens dos maços de cigarro – em toda a parte.”
      Helicópteros sobrevoam os céus para espionar o interior das residências. Apesar do constante controle, não há leis escritas a serem seguidas, apenas a consciência de que nada fora da rotina burocrática autorizada pelo Partido seria tolerado. O relacionamento fora do Partido também era controlado, os casamentos precisavam ser aprovados por uma comissão e eram aceitos com o único fim de gerar filhos para servir ao Partido, sem amor, apenas o cumprimento de uma obrigação. Até as crianças eram estimuladas a espionar e denunciar os vizinhos e os próprios pais à Polícia das Ideias, se ouvissem um simples comentário contrário ao Partido.
      O Partido alimentava a repulsa aos inimigos do regime com a realização do chamado “Dois minutos de ódio”, em que vídeos eram exibidos para a população demonizando aqueles que caiam em desgraça perante o governo. Líder de uma organização denominada Confraria, o principal inimigo era Emmanuel Goldstein, supostamente um ex-líder do Partido, que traíra o povo e passara a organizar atividades subversivas, tendo fugido após ter sido condenado à morte. “Ele era o comandante de um vasto exército nas sombras, uma rede clandestina de conspiradores dedicados à derrubada do Estado.”
      A Oceânia estava permanentemente em guerra com os dois países vizinhos, a Lestásia e a Eurásia, e a população de cada um não podia manter contato com as dos demais. Mas o inimigo mudava constantemente. Em um momento estava em guerra com um e o outro era o seu aliado, mas tempos depois tudo se invertia, e os registros eram sempre adulterados a fim de que a História fosse atualizada.
      “O Partido dizia que a Oceânia jamais fora aliada da Eurásia. Ele, Winston Smith, sabia que a Oceânia fora aliada da Eurásia não mais de quatro anos antes. Mas em que local existia esse conhecimento? Apenas em sua própria consciência que, de todo modo, em breve seria aniquilada. E se todos os outros aceitassem a mentira imposta pelo Partido – se todos os registros contassem a mesma história –, a mentira tornava-se história e virava verdade.”
      Era o chamado “duplipensamento’, em “Novafala”, nada mais do que o controle da realidade. Os membros do Partido sabiam estar manipulando a realidade, mas, ao mesmo tempo, acreditavam no que estavam fazendo. Esse é um aspecto que eu considero muito exagerado. Alterar os acontecimentos históricos, que são do conhecimento de todos, e fazer com que as pessoas aceitem pela força eu entendo. Mas fazer com que as pessoas acreditem na mudança constante dos acontecimentos, como se elas não tivessem mais a capacidade de lembrar do que acontecia e de se chocar com aquela adulteração eu já considero pouco crível, mesmo em sociedades ditatoriais.
      Como mudar o inimigo do seu país de um dia para o outro e as pessoas não perceberem? E não se revoltarem? Aceitar à força é uma coisa, acreditar que é verdade, é outra! Winston Smith é o exemplo disso. Ele percebia o absurdo que estava acontecendo. Por que não os outros membros do Partido?  fr

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