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segunda-feira, 17 de outubro de 2022

"1984", George Orwell (continuação)

      No mundo criado por George Orwell, uma guerra atômica ocorrera na década de 1950: “algumas centenas de bombas foram jogadas em centros industriais, sobretudo na Rússia europeia, na Europa Ocidental e na América do Norte. O resultado foi que os grupos governantes de todos os países se convenceram de que com algumas bombas atômicas mais, a sociedade organizada chegaria ao fim, bem como seu próprio poder. A partir de então, embora nenhum acordo formal tivesse sido celebrado ou mesmo discutido, não se jogaram mais bombas.”
      O autor não aprofunda entre quais países teriam sido travada essa guerra nuclear, nem os “vencedores”, se é que pudessem existir vencedores. Os três países estavam em permanente guerra há 25 anos, somente alterando o inimigo. Mas, o confronto não era com o objetivo de busca de domínio territorial, afinal nenhum deles teria condições de conquistar os demais. E não buscavam tomar as riquezas dos vizinhos, já que os seus mercados eram autossustentáveis. O interesse era escravizar populações para que elas produzissem e pudessem sustentar as guerras.
      “Na medida em que a guerra tem um objetivo econômico direto, trata-se de uma guerra por força de trabalho. Entre as fronteiras dos superestados, e sem pertencer permanentemente a nenhuma deles, situa-se um quadrilátero grosseiro cujos ângulos localizam-se em Tânger, Brazzaville, Darwin e Hong Kong, e que contém em seu interior cerca de um quinto da população terrestre. É pelo domínio dessas regiões densamente povoadas, bem como da calota de gelo do polo Norte, que as três potências lutam sem cessar.”
      Os membros do Núcleo do Partido possuíam privilégios. Os trabalhadores comuns, os chamados “proletas” compunham 85% da população, mas eram controlados desde a infância:
      “Mas, ao mesmo tempo, fiel aos princípios do duplipensamento, o Partido ensinava que os proletas eram inferiores naturais que deviam ser mantidos dominados, como os animais, mediante a aplicação de umas poucas regras simples. Na realidade pouco se sabia sobre os proletas. Não era necessário saber grande coisa. Desde que continuassem trabalhando e procriando, suas outras atividades careciam de importância.” Eles começavam a trabalhar pesado bem cedo, tinham expectativa de vida baixa e eram estimulados a se contentarem com prazeres simples, como “filmes, futebol, cerveja e, antes de mais nada, jogos de azar”.
      Oceânia tinha uma sociedade hierarquizada. No topo da pirâmide, o Grande Irmão, todo-poderoso, jamais visto, mas sempre presente, “o disfarce escolhido pelo Partido para mostrar-se ao mundo”. A seguir, o Núcleo do Partido, “com efetivos limitados a seis milhões, ou um pouco menos de dois por cento da população”. Os membros do Partido passam toda a vida controlados pela Polícia das Ideias. Abaixo, o Partido Exterior e, por fim, “as massas ignaras que habitualmente denominamos ‘os proletas’”, que constituem a maioria, e mantidos na ignorância total.
      Winston Smith tinha uma visão crítica acerca do rígido controle imposto pelo Partido, com as constantes e absurdas mudanças determinadas pelo Grande Irmão. E demonstrava pouco entusiasmo nas atividades coletivas, quando era esperado que as pessoas manifestassem o seu apoio ao governo com ardor e obediência cega. Ele tinha consciência da manipulação feita pelo governo, das torturas, da censura e da perseguição.
      Anos antes, ele encontrara junto a uma pilha de documentos um recorte de jornal antigo em que apareciam em uma foto três acusados de traição ao Partido. A reportagem provava que os três estavam, na realidade, em uma cerimônia em homenagem ao Partido em Nova Iorque no dia em que supostamente estariam na Eurásia, país inimigo, como supostamente teriam confessado. Foram condenados. Com medo de ser descoberto pelas teletelas, ele destruiu o recorte.
      A sua vida começa a mudar quando uma jovem mulher faz contato através de um bilhete, dizendo estar apaixonado por ele. Julia, de 26 anos, é funcionária do Departamento de Ficção, que fingia ser seguidora fiel do Partido, mas não tinha por ele nenhuma simpatia. Devassa, queria apenas se divertir, não tinha nenhuma conscientização política; odiava o Partido justamente por ele querer impedir que as pessoas aproveitassem a vida.
      “Vezes sem conta, nos comícios e manifestações espontâneas do Partido, ela pedira a plenos pulmões a execução de pessoas cujos nomes jamais ouvira antes e em cujos supostos crimes não acreditava nem por sombra. Sempre que havia julgamentos públicos ela ocupava seu lugar em meio aos destacamentos da Liga da Juventude que cercavam os tribunais da manhã à noite, entoando de quando em quando ‘Morte aos traidores!’ Durante os Dois Minutos de Ódio era sempre a primeira a insultar Goldstein aos gritos. Contudo, nem sabia direito quem era Goldstein e que doutrinas ele supostamente representava.”
      Os dois iniciam um romance escondido, encontrando-se em um quarto alugado a um senhor em um bairro dos “proletas”, onde não havia qualquer vigilância por teletela. Os “proletas” eram considerados tão pouco importantes que não eram vigiados. O relacionamento, evidentemente, era um grave crime, já que as relações amorosas deviam ser previamente autorizadas e o sexo somente deveria ser praticado para procriar. O’Brien, membro do Núcleo do Partido os convida a ir à sua casa e diz ser da Confraria, que defende a derrubada do governo e o fim da guerra.
      A seguir, vou adiantar alguns acontecimentos do livro, portanto, quem não desejar ter conhecimento antecipado, precisa decidir se quer continuar lendo o meu texto ou não. Na realidade, os dois estavam sendo espionados durante anos a mando de O’Brien, que fingia combater o governo. O dono do quarto alugado a eles também fazia parte do Partido e tudo o que eles falavam era gravado.
      Os dois são presos e torturados, obrigados a denunciar-se mutuamente e a confessar tramar contra o Partido. A prática da tortura também buscava a total lavagem cerebral dos presos, fazendo com que eles se arrependessem de ter “conspirado” e, mais do que isso, passassem a acreditar, defender e a amar o Grande Irmão e tudo o que ele representa. Somente, então, os presos eram eliminados.
      O’Brien explica a Winston Smith o que o Partido reservava para o futuro. O objetivo do Partido era suprimir as emoções humanas.
      “Ninguém mais se atreve a confiar na mulher ou no filho ou no amigo. Mas no futuro já não haverá esposas ou amigos, e as crianças serão separadas das mães no momento do nascimento, assim como se tiram os ovos das galinhas. O instinto sexual será erradicado. A procriação será uma formalidade anual, como a renovação do carnê de racionamento.” A única lealdade será ao Partido.
      “Não haverá arte, nem literatura, nem ciência. Quando formos onipotentes, já não precisaremos da ciência. Não haverá distinção entre beleza e feiura. Não haverá curiosidade, nem deleite com o processo da vida. Todos os prazeres serão eliminados.” Mas, O’Brien acrescenta, o Partido permanecerá vivo pela opressão e a imposição da obediência e do medo, mantendo a vigilância e o combate aos “inimigos” do governo.
      Winston Smith e Julia acabam sendo libertados, após muito sofrimento físico e psicológico, voltam a trabalhar em ocupações sem grande importância. Não sentem mais nenhuma atração um pelo outro, apenas aversão. Desumanizados. O Partido conseguiu fazer com que ele passasse a amar o Grande Irmão.
      Eric Arthur Blair adotou o nome George Orwell para sua carreira literária. Entre os seus livros, escreveu também “A Revolução dos Bichos”, publicado em 1945, em que animais fazem uma revolução em uma fazenda, tomando-a dos seres humanos. Os líderes da revolução são os porcos, que prometem aos demais animais uma vida mais justa e digna, sem os maus-tratos dos humanos, mas, depois, um dos porcos acaba por se tornar um ditador, repetindo os erros que dizia criticar. Eu li este livro há algum tempo, e pretendo ler novamente para comentá-lo aqui, no meu blog.
      Outro livro com uma previsão muito pessimista para o futuro do mundo, assim como “1984” é o “Admirável mundo novo”, também escrito por um autor inglês, Aldous Huxley, e publicado em 1932. Neste, o mundo igualmente é mantido sob controle e o grande líder, o “Administrador”, era conhecido como “Sua Fordeza Mustafá Mond”.
      As pessoas eram geradas em laboratório e tinham o seu papel social previamente determinado antes do nascimento, em uma sociedade dividida em categorias e dominada pelos chamados “alfas”. As classes mais baixas ficavam com os trabalhos que a elite não queria fazer, e eram condicionadas a aceitar a realidade. Eu já comentei o livro, basta consultar no meu blog. Como se vê, são livros de dois autores que previam um futuro sombrio, com governos ditatoriais e as pessoas sem direitos e permanentemente controladas. fr

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