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sexta-feira, 6 de setembro de 2024

"A Biblioteca da Meia-Noite", Matt Haig

“A Biblioteca da Meia-Noite”, Matt Haig, tradução de Adriana Fidalgo; 17ª edição, Rio de Janeiro, Editora Bertrand Brasil, 2023, 306 páginas.

      Nora Seed tem apenas 35 anos, trabalha em uma loja de instrumentos musicais na cidade de Bedford, na Inglaterra, e sente-se culpada por desperdiçar as oportunidades que teve e decepcionar as pessoas queridas por não atender as suas expectativas. Ela deixou de nadar e ser uma atleta olímpica, como o pai sempre quis. Resolveu abandonar a banda em que era vocalista e compositora, às vésperas de ser assinado um contrato com uma gravadora, que garantiria muitas apresentações, viagens, discos e sucesso, sonho do irmão, também integrante do grupo. Desistiu de casar-se dois dias antes da cerimônia, deixando o noivo inconsolável. E, para piorar, o seu querido gato morre. Era demais, e ela decidiu pôr um fim à vida.
       “Eu tive todas as chances de fazer algo da minha vida, e desperdicei cada uma delas. Por um descuido meu, e para meu azar, o mundo se afastou de mim, e então agora faz todo sentido que eu me afaste dele. Se eu achasse que seria possível ficar, eu ficaria. Mas não acho. Então não posso ficar. Eu torno a vida das pessoas pior.”
        Mas, ao cometer o suicídio, Nora desperta em uma biblioteca, em um estágio entre a vida e a morte, onde o seu relógio não sai de meia-noite e ela encontra a antiga bibliotecária dos tempos de escola. No lugar, não havia paredes, apenas estantes, repletas de inúmeros livros de diferentes tonalidades da cor verde. Cada livro dava a Nora a oportunidade de experimentar uma vida como ela poderia ter sido se ela tivesse feito escolhas diferentes. Era uma quantidade infinita de livros, portanto, incontáveis vidas possíveis. Se a experiência fosse decepcionante, de acordo com suas expectativas, Nora imediatamente retornaria à biblioteca, mas se encontrasse uma em que desejasse, de verdade, viver inteiramente ela poderia continuar nela até morrer. Inúmeras vidas de uma pessoa coexistem simultaneamente.
        Eu destaco algumas curiosidades: Ao experimentar uma vida diferente, Nora assumia essa vida, mas não sabia o que estava acontecendo nela, nem tinha domínio da profissão que ela estava exercendo. Em uma delas, Nora era uma especialista em glaciologia, por exemplo, e não tinha noção do que estava fazendo. Em outra, era uma cantora famosa, mas não sabia cantar as suas próprias músicas. Mas, ao passar para outras vidas, ela lembrava daquelas anteriormente experimentadas, ao contrário do seu ‘eu’ da vida em que ela estava, que ficava confusa, sem entender o que havia acontecido. Havia outras pessoas também vivendo diferentes versões de suas vidas. Nora encontrou uma delas, de nome Hugo, e que já tinha experimentado quase 300 vidas diferentes. Com mais experiência, ele explicou à Nora como tudo funcionava:
        “Já conheci outros como nós – disse Hugo. – Sabe, eu tô nesse intervalo há um tempão. Encontrei alguns outros sliders. É assim que eu chamo esse pessoal. A nós, digo. Somos sliders. Temos uma vida raiz na qual estamos apoiados em algum lugar, inconscientes, suspensos entre a vida e a morte, e então chegamos a um lugar. E é sempre algo diferente. Uma biblioteca, uma videolocadora, uma galeria de arte, um cassino, um restaurante... (...) o modelo é sempre o mesmo. Por exemplo: tem sempre mais alguém lá, tipo um guia. É sempre uma pessoa só. Elas são alguém que ajudou a pessoa em um momento significativo da vida. O cenário é sempre um lugar com valor sentimental.”
        A constante experimentação de vidas diferentes dificilmente teria fim:
        “Nora acabou entendendo uma coisa. Algo que Hugo não havia explicado direito naquela cozinha em Svalbard. Você não precisava gostar de cada aspecto de cada vida para continuar tendo a opção de experimentá-las. Você só tinha que nunca desistir da ideia de que, em algum lugar, haveria uma vida que poderia ser desfrutada. Da mesma forma, gostar de uma vida não significava que você ficaria nela. Você só ficava em uma vida para sempre se não conseguisse imaginar uma melhor, e, no entanto, paradoxalmente, quanto mais vidas você experimentava, mais fácil se tornava pensar em algo melhor, já que a imaginação se ampliava um pouco mais com cada nova experiência.
        Eu achei o assunto do livro interessante, ele não fica entre os meus preferidos, mas gostei da leitura. “A Biblioteca da Meia-Noite” vendeu milhões de exemplares pelo mundo. Eu já li outros livros que eu considerei mais interessantes e que não fizeram o mesmo sucesso. É curioso pensar nisso: o que torna um livro um best seller? Com certeza, não basta o texto ser bom e o tema ser interessante. Muitas questões ajudariam a responder a essa pergunta, mas ter uma divulgação eficiente deve ajudar bastante.
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