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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

“1964: Golpe ou contragolpe?”, Hélio Silva (continuação)

        A conspiração foi articulada através de mentiras e falsidades, com militares, inclusive generais, fingindo apoio público ao governo João Goulart, mas conspirando nas sombras. Governadores e outros políticos apoiaram o golpe militar, dentre eles o que teria mais se empenhado na deposição de João Goulart foi o governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, dono do antigo Banco Nacional. Outros empresários também fizeram parte da articulação do golpe militar, dentre eles Júlio Mesquita Filho, proprietário do tradicional jornal “O Estado de São Paulo”. O governo dos Estados Unidos apoiou o golpe, oferecendo, inclusive, apoio militar caso houvesse reação popular. Esse apoio foi desmentido durante muito tempo, mas já foi comprovado com documentos oficiais estadunidenses. Era uma época de grande polarização entre Estados Unidos, capitalista, e a antiga União Soviética, comunista.
        Muitos políticos tinham pretensões de concorrer ao cargo de presidente da República na eleição de 1965, que acabou não ocorrendo. Entre eles: Jânio Quadros (vejam só!), Juscelino Kubitschek, Leonel Brizola, Miguel Arraes, Carlos Lacerda, Ademar de Barros e Magalhães Pinto. Os três últimos acreditavam que os militares deporiam João Goulart e o substituiriam por um provisório, mas não assumiram o poder. Erraram feio e também tiveram suas pretensões frustradas.
        Em 31 de março, tropas saíram de Juiz de Fora, em Minas Gerais, em direção ao Rio de Janeiro, sob o comando do general Oímpio Mourão Filho, iniciando o golpe militar que derrubou o presidente democrático João Goulart. O presidente deixou Brasília no dia 2 de abril, para o Rio Grande do Sul, onde seria organizada a resistência. O Congresso declarou vaga a presidência. “Ás 3:45 da manhã, o Dep. Ranieri Mazzilli foi empossado, pela quinta vez, na Presidência Provisória da República.” O deputado Leonel Brizola defendru a resistência ao golpe com armas, mas os militares que apoiavam Goulart, em sua maioria, aconselharam-no a não fazê-lo. O presidente decidiu por não resistir: “Não desejo derramamento de sangue em defesa do meu mandato.”, mas não renunciou.
        Anos depois, em depoimento ao livro, o marechal Odílio Denys explicou o seu plano de ação:
       “Estando adiantadas as articulações militares em todos os quadrantes do País, estabeleci um plano de ação para ser executado simultaneamente. Comportava esse plano cinco pontos: 1º) – Começar o movimento logo depois de uma grande motivação; 2º) – partir de um grande Estado; 3º) – o início do movimento será dado a conhecer de surpresa pelo rádio comercial, que na informação dirá que o Marechal Denys está lá; é a senha; 4º) – as guarnições ou corpos se levantam e se ligam com os que estiverem mais próximos, também levantadas; 5º) – as forças dominarão suas áreas e marcharão contra o Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba e Recife.”
        O general Olímpio Mourão Filho, idealizador do chamado Plano Cohen, que buscou justificar o golpe militar de 1937, que deu origem ao período do Estado Novo, com Getúlio Vargas, também usando a ameaça do comunismo, contestou essa liderança. Segundo seu depoimento, em material que deixou pronto para a publicação de um livro sobre o golpe, antes de morrer: “Meu verdadeiro e principal papel consistiu em ter articulado o movimento em todo o País e depois ter começado a Revolução em Minas. Se nós não tivéssemos feito, ela não teria sido jamais começada. Pois que, a Revolução não teve outros chefes, nem articuladores eficientes no plano nacional, capazes de contribuir para seu desencadeamento e vitória, além da minha longa conspiração no Rio Grande, Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais.”
        O livro termina. Acrescento que, após o golpe, milhares de prisões ilegais foram feitas; o marechal Castelo Branco assumiu como o primeiro dos presidentes militares da ditadura, que durou até o ano de 1985. Nos anos seguintes, mandatos parlamentares foram cassados, inclusive daqueles que apoiaram os militares; o Congresso foi fechado, estabeleceu-se a tortura contra opositores ao regime.
        Hélio Silva (1904-1995) foi médico, jornalista e historiador. Converteu-se ao Catolicismo em 1938, e, em 1990, entrou para o Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, tendo assumido o nome de Dom Lucas. É autor de diversas outras obras sobre a História do Brasil. Uma deles, “Nilo Peçanha: A Revolução Brasileira 1909-1910”, lançado em 1983, foi acusado de plágio do livro “A Vida de Nilo Peçanha”, de Brígido Tinoco, de 1962. As semelhanças foram identificadas pelo jornalista e escritor Fernando Jorge. À época, Hélio Silva defendeu-se, dizendo que um dos seus revisores teria cometido um erro. fr 

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