“Amanhã é outro dia”, J. M. Simmel; tradução de Erika F. Engert Rizzo, São Paulo, Círculo do Livro, s/d, 306 páginas.
Livro de 1949. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Áustria foi atacada pelos aviões dos Estados Unidos. Durante os bombardeios, a população era orientada a deslocar-se para os abrigos, assim que ouvissem as sirenes. Em 21 de março de 1945, um edifício do Mercado Novo, próximo da Plankengasse, em Viena, foi atingido por bombas, praticamente sendo destruído. No porão da construção, ficaram presas sete pessoas, que foram obrigadas a conviver enquanto a terra era escavada, em busca de uma saída que as libertassem.
Eram três mulheres, três homens e uma criança, uma menina de seis anos. Therese Reimann, uma senhora de 63 anos, moradora de um pequeno apartamento do edifício, não tinha parentes e era muito religiosa. O padre Reinhold Gontard havia perdido a fé devido aos longos anos de guerra, e começou a beber. Anna Wagner estava com sua filha, Evi, e no último mês de gravidez do segundo filho; o marido estava lutando na guerra. Walter Schroeder era um químico, e fazia parte de uma equipe que trabalhava em um projeto para a construção de uma poderosa arma que seria usada contra os aliados e faria a Alemanha de Hitler vencer a guerra. Em sua mala, estavam importantes documentos que ele precisava fazer chegar a seus superiores.
A jovem atriz Susanne Riemenschmied iria ler um poema para um público de adolescentes, a convite de uma associação cultural, justamente no dia em que aconteceu o bombardeio. O soldado do Exército alemão Robert Faber, de 25 anos, chegara à cidade, vindo do campo de batalha, de onde desertou por não concordar com a matança sem sentido da guerra. Enquanto tentavam cavar para chegar ao outro lado do abrigo e conseguir libertar-se, os homens no abrigo expuseram a maneira como viam o mundo e a guerra, e as suas diferenças eram fortes demais, tão fortes que colocavam em risco a segurança de todos no abrigo.
Eu preciso contextualizar: a Áustria foi anexada pela Alemanha em 1938, contrariando os termos do Tratado de Versalhes, assinado após o fim da Primeira Guerra Mundial. O governo austríaco não resistiu à pressão e ameaças de Hitler, que passou a interferir no país até anexá-lo, transformando-o em uma província do Terceiro Reich alemão. A maioria dos austríacos aceitou a anexação passivamente, sem nenhuma reação, até pela sua ligação histórica com a Alemanha. A Áustria somente recuperou a sua independência após o fim da Segunda Guerra Mundial, passando a ser ocupada pelos aliados.
Walter Schroeder defendia a vitória alemã:
“Nosso movimento tinha que surgir – exclamou Schroeder, apaixonado. – E surgiu por causa dos crimes e erros de outros. Por causa da Primeira Guerra Mundial, do Tratado de Versailles, que foi uma idiotice, do comportamento irresponsável dos países vencedores. Também a Primeira Guerra não estourou por ter sido Guilherme II um aleijão cheio de complexos de inferioridade. Também ela teve causas muito mais profundas. A história do nosso mundo é a história de um desenvolvimento incessante. Seria ridículo, sr. Gontard, passar um traço debaixo da data de 1933 e dizer: ‘Vocês são culpados por tudo o que aconteceu a partir daí’. Se nós perdermos esta guerra, o senhor poderá ver como tenho razão. A situação não há de se modificar. As mesmas crueldades de que agora nos acusam serão cometidas por outros. E mais uma vez hão de encontrar alguém em quem por a culpa. Tenho certeza disso. Esquecerão que fomos nós os culpados das culpas deles, como já esqueceram o que houve antes de nós.”
(Eu registro em meu blog um resumo das minhas leituras, seguindo a minha interpretação e preferências pessoais, como leitor, acerca do que mais me desperta o interesse, sem preocupação em me aprofundar em análises mais abrangentes e acadêmicas.) fr

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