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quinta-feira, 1 de agosto de 2024

"Mr. Mercedes", Stephen King (trecho)

        “(...) De acordo com minha pesquisa, durante seu tempo como detetive, você solucionou literalmente centenas de casos, muitos deles do tipo que a imprensa (que Ted Williams chamava de Cavaleiros do Teclado) rotula como ‘de destaque’. Você pegou Assassinos e Gangues de Ladrões e Incendiários e Estupradores. Em um artigo (publicado na mesma data de sua Cerimônia de Aposentadoria), seu parceiro de longa data (Det. 1º grau Peter Huntley) descreveu você como ‘uma combinação de disciplina e intuição brilhante’.
        Um belo elogio!
        Se isso for verdade, e acho que é, já deve ter descoberto que sou um dos poucos que você não conseguiu capturar. Sou, na verdade, o homem que a imprensa decidiu chamar de: a) O Coringa b) O Palhaço ou c) O Assassino do Mercedes.
        Prefiro o último nome!
        Tenho certeza de que você fez ‘o melhor que pôde’, mas infelizmente (para você, não para mim) você falhou. Imagino que, se já houve um ‘bendito’ que você quis pegar, Detetive Hodges, foi o homem que dirigiu deliberadamente para cima da multidão na fila para a Feira de Empregos no City Center no ano passado, matando oito e ferindo muitos mais. (Devo dizer que superei até minhas maiores expectativas.)
        (...)
        Posso concluir esta carta com uma Nota de Preocupação?
    Em alguns desses programas de TV (e também em um dos livros de Wambaugh, eu acho, mas pode ter sido no de James Patterson), a festança com os balões e as bebidas e a música é seguida de uma cena final triste. O Detetive volta para casa e percebe que, sem a Arma e o Distintivo, a vida não tem mais sentido. E consigo entender isso. Quando se pensa no assunto, o que é mais triste do que um Cavaleiro Velho e Aposentado? Enfim, o policial dá um tiro nele mesmo (com o Revólver de Serviço). Pesquisei na internet e descobri que esse tipo de coisa não é só ficção. Acontece de verdade!
        A taxa de suicídios entre policiais aposentados é extremamente alta!
        Na maioria dos casos, os policiais que fazem esse tipo de coisa não têm familiares próximos que poderiam identificar os Sinais de Alerta. Muitos, como você, são divorciados. Muitos têm filhos crescidos que moram longe. Penso em você, sozinho na sua casa na Harper Road, Detetive Hodges, e fico preocupado. Que tipo de vida você tem agora que a ‘emoção da caçada’ acabou? Anda assistindo à TV sem parar? Provavelmente. Está bebendo mais? Talvez. As horas passam mais devagar porque sua vida agora está tão vazia? Você está sofrendo de insônia? Caramba, espero que não.
        Mas tenho medo de que seja esse o caso!”

“Mr. Mercedes”, Stephen King, tradução de Regiane Winarski; 1ª ed., Rio de Janeiro, Editora Suma de Letras, 2016, 393 páginas.

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