“SENNA”
Brasil, Minissérie da Netflix, 2024
Direção: Vicente Amorim e Julia Rezende
Com: Gabriel Leone, Marco Ricca, Susana Ribeiro, Gabriel Louchard, Kaya Scodelario, Matt Mella
Minissérie da Netflix, de seis capítulos, contando a vida do tricampeão mundial de Fórmula 1 Ayrton Senna (Gabriel Leone), uma super produção que vem fazendo muito sucesso em todo o mundo. Eu gostei muito e emocionei-me em vários momentos, principalmente porque eu acompanhei, assim como muitos outros pelo país inteiro, o surgimento dessa lenda do automobilismo mundial e assistia as suas corridas pela televisão. A carreira vitoriosa de Senna tem início bem cedo, aos quatro anos, quando o seu pai, o empresário Milton Guirado (Marco Ricca), construiu um kart para o filho, usando o motor de um cortador de grama.
Senna começou a correr de kart aos 13 anos, e o seu primeiro título foi o de campeão sul-americano, em 1977. A minissérie mostra a passagem pelas categorias da Fórmula Ford e Fórmula 3, na Inglaterra, ganhando vários títulos, até chegar na principal categoria do automobilismo mundial, a Fórmula 1, em 1984, correndo pela Toleman. A vida pessoal também é mostrada: os pais e a irmã; o casamento com Lilian em 1981 e o divórcio, dois anos depois, porque a esposa não queria viver na Inglaterra e Senna priorizava a carreira no automobilismo; e o namoro com a apresentadora Xuxa. Mas é a sua trajetória vencedora na Fórmula 1 que desperta os momentos de maiores emoções.
Em apenas um ano, Senna mostrou o enorme potencial que tinha, e em 1985 foi para a Lotus, onde conquistou a sua primeira vitória, no Grande Prêmio de Portugal. Em 1988, passou à McLaren-Honda, correndo com o francês Alain Prost, bicampeão mundial, e com quem manteve uma das mais acirradas rivalidades da História da Fórmula 1. Nesse mesmo ano, Senna conquistou o seu primeiro título mundial.
No ano seguinte, Prost foi campeão mundial, após o Grande Prêmio do Japão bastante polêmico, em que o francês jogou o seu carro na direção de Senna, na penúltima corrida da temporada. Prost abandonou a corrida, mas Senna conseguiu retornar, fazendo uma corrida espetacular de recuperação e vencendo a prova, mas o brasileiro foi penalizado por ter atravessado a chicane, que é um desvio artificial, com algumas curvas. A minissérie mostra que o presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), o também francês Jean-Marie Balestre, usou o seu poder para favorecer Prost, que, assim, conseguiu o seu terceiro título mundial.
Em 1990, Senna venceu o bicampeonato mundial e no Grande Prêmio do Japão, novamente a penúltima do ano, devolveu a Prost, já correndo pela Ferrari, o que ele lhe fizera no ano anterior. Na primeira curva da prova, Senna jogou o carro na direção de Prost e os dois abandonaram a corrida, e o brasileiro foi campeão. O ano de 1991 teve muitas emoções para o brasileiro: venceu o Grande Prêmio do Brasil com apenas uma marcha, e conquistou o tricampeonato mundial. Naquele mesmo ano, Senna deu entrevista à imprensa em que explicou o ocorrido no Japão, nos dois anos anteriores:
“Eu acho que o que aconteceu em 1989 foi imperdoável e eu nunca irei esquecer isso. Eu me empenho em lutar até hoje. Você sabe o que aconteceu aqui: Prost e eu batemos na chicane, quando ele virou sobre mim. Apesar disso, eu voltei à pista, ganhei, e eles decidiram contra mim, o que não foi justo. E o que aconteceu depois foi ‘teatro’, mas eu não sei o que pensei. Se você faz isso, você será penalizado, multado e talvez perca sua licença. Essa é a forma correta de trabalhar? Não… Em Suzuka no ano passado eu pedi aos organizadores para trocar o lado da pole. Não foi justo, porque o lado direito é sempre o sujo. Você se esforça pela pole e é penalizado por isso. E eles dizem: "Sim, sem problema." E depois o que acontece? Balestre dá a ordem para não mudar nada. Eu sei como o sistema funciona e eu pensei que foi mesmo uma m****. Então eu disse a mim mesmo: ‘Ok, aconteça o que acontecer, eu vou entrar na primeira curva antes - Eu não estava preparado para deixar o outro (Alain Prost) chegar na curva antes de mim. Se eu estou perto o suficiente dele, ele não poderá virar na minha frente - e ele será obrigado a me deixar seguir.’ Eu não me importo em bater; eu fui para isso. E ele não quis perder a chance, virou e batemos. Foi inevitável. Tinha que acontecer. ‘Então você deixou isso acontecer’, alguém diria. ‘Por que eu causaria isso?’. Se você se ferrar cada vez que estiver fazendo o seu trabalho limpo, conforme o sistema, o que você faz? Volta para trás e diz ‘Obrigado’? De jeito nenhum! Você deve lutar para o que você acha que é certo. Se a pole estivesse colocada na esquerda, eu teria chegado na frente na primeira curva, sem problemas. Que foi uma péssima decisão manter a pole na direita, e isso foi influenciado pelo Balestre, isso foi. E o resultado foi que aconteceu na primeira curva. Eu posso ter contribuído, mas não foi minha responsabilidade.”
Em 1994, Senna foi para a Williams, onde disputou apenas três corridas, as suas últimas. O Grande Prêmio de San Marino, na Itália, disputado no dia 1º de maio, foi marcado por tragédias. No primeiro dia de treinos, na sexta-feira, o brasileiro Rubens Barrichello sofreu um grave acidente, batendo forte, a 225 km/h, contra a proteção de pneus, ficando de fora da prova. No segundo dia de treinos, no sábado, o carro do austríaco Roland Ratzenberger chocou-se contra uma mureta e ele faleceu. No domingo, dia 1º, na sétima volta da corrida, o carro de Ayrton Senna bateu violentamente, a 210 km/h, no muro da curva Tamburello e o piloto veio a falecer, encerrando uma carreira vitoriosa, que o fez ser considerado por muitos como o melhor piloto de todos os tempos. Nessa mesma curva, ocorreram outros fortes acidentes: em 1987, com o brasileiro Nelson Piquet, e em 1989, com o austríaco Gerhard Berger.
Na minissérie, a rivalidade de Ayrton Senna e Nelson Piquet (Hugo Bonemer) não é mostrada, e o alemão Michael Schumacher não aparece na minissérie. A jornalista Laura Harrison (Kaya Scodelario) é um personagem fictício, que foi criado para simbolizar a relação de Senna com a imprensa mundial. Mas é uma minissérie, não um documentário. Em algumas passagens, acredito que podiam ter mostrado mais a emoção que elas representaram à época, para quem as assistiu, pela televisão, como, por exemplo, os dois Grandes Prêmios do Japão em que Prost jogou o seu carro para tirar Senna da corrida, em 1989, e Senna fez o mesmo, em 1990. Eu indico a minissérie a todos, mesmo àqueles que não ligam muito para a Fórmula 1. As cenas das corridas são fantásticas, recriadas com a ajuda de computação gráfica, e vocês vão emocionar-se muito, como eu. fr