Iaiá Garcia, Machado de Assis, São Paulo, editora Globo, 1997, 172
páginas (Obras Completas de Machado de Assis).
Mais um livro de Machado de Assis que eu li:
“Iaiá Garcia”, publicado em 1878, e lançado inicialmente em folhetim no
jornal “O Cruzeiro”, onde o autor também escreveu suas crônicas nas “Notas
Semanais”. Considerado último livro da fase romântica do autor, a estória transcorre
durante a Guerra do Paraguai.
Luís Garcia é um funcionário público, viúvo,
e com 41 anos no início da estória. Retraído em sua casa em Santa Teresa,
taciturno, ele “amava a espécie e aborrecia o indivíduo”, e ajudava a qualquer
um, esquecendo logo do que fazia. Luís Garcia tinha uma filha, Lina, ou Iaiá
Garcia, de 11 anos, que estudava em um colégio durante a semana e o pai a pegava
nos sábados para passarem o fim de semana juntos; a mãe morreu em 1859.
Atendendo a um chamado da viúva de um
desembargador que fora amigo de seu pai – Valéria Gomes, 48 anos –, Luís Garcia
foi a casa dela, na Rua dos Inválidos, no Centro. Para sua surpresa, era para lhe
pedir que conversasse com o filho, Jorge, a fim de convencê-lo a se alistar
como voluntário na guerra. E ela usou como justificativa os interesses da
pátria e o desejo de ver o filho bem encaminhado na vida, voltando do conflito
coronel.
O filho, de 24 anos, era um advogado sem
muita aptidão para a carreira, preferindo usufruir da vida que tinha por conta da
boa situação financeira da mãe. Mesmo desconfiado das razões patrióticas
apresentadas, Luís Garcia aceitou e conversou com o rapaz, descobrindo que a
verdadeira razão da mãe era afastar o filho de uma moça por quem ele estava
apaixonado. E ficou também surpreso em saber que Jorge já tinha decidido ir
para a guerra.
A jovem em questão era Estela, de 16 anos, a
filha do sr. Antunes, antigo escrevente do falecido marido de Valéria. Ele era uma
espécie de faz-tudo, adulador e confidente das aventuras extraconjugais do desembargador,
que o ajudou muito e a Estela. Após a morte do chefe ele transferiu a dedicação
à viúva, e desejava muito que sua filha viesse a casar com Jorge.
Ao contrário do pai, acostumado a viver dos
favores recebidos, Estela era muito orgulhosa, nunca se considerando pessoa da
família de Valéria, apenas como se fosse uma visita na casa. Ela amava Jorge,
mas quando este se declarou e lhe perguntou o que sentia por ele, Estela reagiu
com indiferença, justamente por não se sentir à altura dele.
Magoado e com o amor-próprio ferido, Jorge
considerou a atitude de Estela muito fria e indiferente, o que fez decidir-se
por ir à guerra, recebendo de imediato a patente de capitão de voluntários,
dedicando-se com coragem às missões mais perigosas, chegando a ser ferido em
uma batalha. A moça decidiu por voltar à casa do pai, o que só confirmou as
suspeitas de Valéria que algo entre os dois poderia estar acontecendo. Valéria chegou
a tentar que o filho casasse com uma parenta distante, Eulália, de 19 anos, mas
esta não aceitou por não acreditar ser amada por ele.
Atenção,
a seguir vou escrever informações sobre o final do livro, então, quem não
quiser saber antecipadamente, pare aqui!
Passado algum tempo após sua chegada ao
Paraguai, Jorge recebeu uma carta de Luís Garcia informando-lhe que ele
casara-se com Estela. O casamento foi incentivado por Valéria, que desejava
evitar uma futura aproximação da moça com seu filho, após o seu retorno da
guerra. A escolha da nora deu-se inicialmente com o oferecimento de um dote ao
sr. Antunes para garantir o futuro da filha. Em seguida, ela consultou Estela a
respeito de Procópio Dias, um conhecido do filho, de 50 anos e sem moral, e viu
que a mesma não sentia nada por ele, nem por ninguém, apesar de dizer que
aceitaria o marido que ela propusesse.
Estela e Iaiá tornaram-se grandes amigas, e
esta lhe perguntou por que não se casava com o pai dela. A ideia do casamento
amadureceu e a própria Estela perguntou a opinião de Valéria, que procurou Luís
Garcia, convencendo-o a casar-se novamente.
À época o amor não era a principal motivação
dos casamentos. Não era necessário Estela amar Luís Garcia, bastava sentir
certo apreço e respeito. E Luís Garcia, a princípio, não pensava em casar-se
novamente, mas acabou aceitando, mesmo também não sendo por amor. Considerava
conveniente arrumar uma madrasta para a filha, que estava terminando os estudos
e voltaria em definitivo para casa; e as duas se gostavam muito. O pai de
Estela, por sua vez, não gostou da escolha, pelo temperamento fechado do futuro
genro, mas o dote oferecido por Valéria ajudou-o a se decidir. E Valéria foi
até madrinha da noiva.
Em quatro anos lutando na guerra, Jorge foi
promovido sucessivamente a major e tenente-coronel, comandando o seu próprio
batalhão. Em março de 1870 a guerra foi encerrada, tendo superado muito o tempo
previsto, e coincidentemente foi quando Jorge recebeu carta de Luís Garcia
informando-lhe que sua mãe morrera. Em outubro, ele retornou ao Rio de Janeiro,
coberto de glórias, mas sua mãe já não estava mais viva para ver e se orgulhar.
Jorge herdou uma boa quantia da mãe, o
suficiente, se bem administrado, para que não precisasse mais advogar, o que
nunca gostou de fazer, ou a exercer qualquer outra atividade. No testamento,
Valéria também deixou um valor como “legado” para futuramente servir como dote
para Iaiá, e um dote para Estela, que abriu mão em favor da amiga.
Luis Garcia ficou doente, e pediu a Jorge
que, em caso de seu falecimento, cuidasse da esposa e da filha, como se fosse
um “tutor”. Dinheiro elas teriam o suficiente por conta do dote deixado por
Valéria, mas Luis Garcia não confiava no sogro. O médico de Luiz Garcia contou
a Jorge que o doente, mesmo que se recuperasse, viria a morrer em um ano ou ano
e meio, por conta de sérios problemas no coração. Jorge passou a visitar Luis
Garcia regularmente, chegando a passar a morar em uma casa que tinha em Santa
Teresa, para ficar mais próximo dele. O relacionamento entre Jorge e Estela era
formal.
Ao arrumar seus papeis no escritório, Luis
Garcia leu para a esposa uma carta de Jorge, que ele enviara quando estava no
Paraguai, em que confidenciava a ele que o motivo de ter ido à guerra era o
amor a uma mulher. Iaiá percebeu que a madrasta ficou perturbada ao ouvir a
leitura, e passou a suspeitar de um amor antigo entre os dois. Procópio Dias
confidenciou a Jorge o seu interesse em casar-se com Iaiá e pediu-lhe que fosse
seu aliado e falasse dele com a moça, já que precisou fazer uma viagem de
negócios a Bahia.
A convivência acabou por aproximar Jorge e
Iaiá, que o amava, e, com o incentivo de Estela, acabaram por marcar o casamento.
Ao voltar para o Rio de Janeiro e descobrir o que considerou uma traição de
Jorge, Procópio tentou afastá-los contando a Iaiá que seu noivo amava de
verdade a madrasta. A relação das duas ficou estremecida por algum tempo, e
Iaiá chegou a desistir do casamento, mandando Raimundo – um ex-escravo da
família, liberto, mas ainda vivendo em sua casa – entregar uma carta a Procópio
aceitando o pedido de casamento. A carta não chegou a seu destinatário porque
Raimundo a leu e preferiu não entregá-la, o que foi determinante no desenrolar
dos acontecimentos.
Estela sempre amou Jorge, mas preferiu abrir
mão dos seus sentimentos em favor de Iaiá, convencendo-a que não sentia mais
nada por ele, o que não era verdade, e ainda fez questão de ser madrinha da
noiva. Depois, preferiu afastar-se, partindo para São Paulo, onde passou a dirigir
um estabelecimento de ensino de uma antiga aluna. O pai preferiu permanecer no
Rio de Janeiro, dedicando a Jorge e sua esposa o seu tempo e atenção, assim
como fizera com a mãe daquele, e, antes, com o pai.
De acordo com o Wikipédia, o livro foi adaptado para a TV e o cinema. Em
1978, com o filme “Que Estranha Forma de Amar”, escrito e dirigido por Geraldo
Vieitri. Em agosto de 1982, uma novela de mesmo nome, exibida pela TV Cultura,
escrita por Rubens Ewald Filho. fr