Enfim, o escritor e cantor
Chico Buarque de Holanda recebeu o Prêmio Camões, após quatro anos de espera. A
cerimônia ocorreu ontem no Palácio de Queluz, local onde nasceu e morreu D.
Pedro I, e onde eu estive com minha mãe em 2018; e já contei aqui no meu blog
sobre a minha viagem a Portugal, com fotos que eu fiz. O Prêmio é de 2019, mas,
infelizmente, o então presidente Jair Bolsonaro recusou-se a entregá-lo a Chico
Buarque por questões meramente políticas. O presidente Lula está em visita
oficial a Portugal e fez questão de entregar o prêmio, com a presença do
presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa.
Em seu discurso, Chico
Buarque lembrou o pai:
“Ao receber esse Prêmio eu penso no
meu pai, o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda, de quem herdei
alguns livros e o amor pela língua portuguesa. Relembro quantas vezes
interrompi seus estudos para lhe submeter meus escritos juvenis, que ele julgava
sem complacência e sem excessiva severidade, para em seguida me indicar
leituras que poderiam me valer numa eventual carreira literária.
Mais tarde, quando me bandeei para a
música popular, não se aborreceu, longe disso, pois gostava de samba, tocava um
pouco de piano e era amigo próximo de Vinicius de Moraes, para quem a palavra
cantada talvez fosse simplesmente um jeito mais sensual de falar a nossa
língua. Posso imaginar meu pai coruja ao me ver hoje aqui, se bem que, caso
fosse possível nos encontrarmos neste salão, eu estaria na assistência e ele
cá, no meu posto, a receber o prêmio Camões com muito mais propriedade.”
E finalizou, destacando a
importância da derrota do governo de Bolsonaro, a quem fez questão de fazer um
agradecimento público:
“Quatro anos com uma pandemia no meio
davam às vezes a impressão que um tempo bem mais longo havia transcorrido. No
que se refere ao meu país, quatro anos de governo funesto duraram uma
eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás. Aquele
governo foi derrotado nas urnas mas nem por isso podemos nos distrair, pois a
ameaça facista persiste, no Brasil e por toda parte. Hoje, porém nessa tarde de
celebração, reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não
sujar o diploma do meu Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para
assinatura do nosso presidente Lula.
Recebo
esse prêmio menos como uma honraria pessoal e mais como um desagravo a tantos
autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez
e obscurantismo. Muito obrigado.” Na foto acima, Chico Buarque
recebe o diploma. Ao lado, os presidentes de Portugal e do Brasil. fr